sábado, 21 de dezembro de 2013

Árvore de Natal


Um dos símbolos mais representativos do natal é a árvore enfeitada, onde são colocados os presentes, atualmente motivos de exploração na data festiva pelo capitalismo, mas outrora, quando do nascimento de Jesus foram objetos dotados de conceitos diferentes. Segundo Mateus (2:10): “Os Magos ofereceram ao menino Jesus: Ouro, insenso e mirra, cujo significado e simbolismo espiritual é, juntamente com a própria visitação dos reis Magos, ser um resumo do evangelho e da fé cristã”. O ouro pode ter representado pela realeza, o incenso simboliza a oração e a mirra era como uma resina antiséptica com poderes curativos.

Ainda acredito naquele momento mágico da árvore de natal, o processo de montar o “pinheirinho”, quando criança era uma festa e todos os momentos foram muito apreciados pela família. Começava com a expectativa do tamanho da árvore que meu pai iria conseguir, algumas vezes uma arvorezinha pequena ou simplesmente um galho já era o suficiente para animar a todos. A árvore era sempre natural e a mais comum no Brasil, pertence a família Araucariaceae, caracterizada por ser pequena e nativa, apenas no hemisfério sul.


Considerando a história da humanidade, o costume da árvore de Natal é bastante recente. Surgiu em uma época tardia não só na Rússia, mas também na Alemanha, onde apareceu pela primeira vez. Daí se espalhou para outros lugares da Europa, no velho mundo e também no novo mundo. Na França, a árvore de Natal foi adotada a partir 1870, como um hábito das pessoas mais ricas. Na verdade, parece difícil estabelecer a trajetória histórica deste costume, o mais certo tenha começado na mais remota antiguidade.


Entre as histórias e até mesmo lendas sobre a origem da árvore de Natal, quero acreditar na mais simples e comum que conhecemos, mas extremamente poética e encantadora. Ela diz assim: Perto da caverna em que nasceu o Salvador do mundo havia três árvores: um pinheiro, uma oliveira e uma palmeira. Naquela noite sagrada a estrela de Belém apareceu no céu e anunciou ao mundo, o nascimento de Jesus.  A oliveira que crescia na entrada da caverna de Belém ofereceu, entre outros, os seus frutos dourados. A palmeira deu ao Bebê a sombra verde da sua abóboda como proteção contra o calor e as tempestades. Só o pinheiro nada tinha para oferecer. A pobre árvore mergulhou no desânimo e na dor, tentando inutilmente pensar em um presente para o Cristo-Criança.


A estrela, que brilhava em silêncio percebeu as lágrimas da árvore e  derramou sobre o pinheiro, uma chuva de luzes cintilantes. Então, feliz e trêmulo de emoção, o pinheiro orgulhosamente ergueu os seus galhos inclinados e apareceu pela primeira vez diante do mundo surpreso, mostrando um brilho nunca antes visto.  Desde aquele momento, conta a lenda, os seres humanos adotaram o hábito de ornamentar pinheiros com grande número de velas acesas na véspera de Natal.  


Enfeitem suas árvores e não esqueçam do presépio, pois ele representa as personagens desta linda história de amor da humanidade. 


Feliz Natal aos Amigos Leitores!



Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com


domingo, 15 de dezembro de 2013

Tempos de fraternidade

 
Nesta semana, o mundo presenciou momentos de fraternidade entre as nações. Após a morte do líder sul africano, Nelson Mandela, as diferenças entre as pessoas e as ideologias impregnadas dos povos e de líderes mundiais, se renderam ao silêncio, agora eterno de “Madiba”, símbolo da luta contra o preconceito, a discriminação racial. A maior personalidade do século XX, mesmo no momento de sua partida foi capaz de proporcionar a humanidade imagens jamais vistas.

O Estado brasileiro foi protagonista de uma cena rara, a presidente Dilma Rousseff e mais quatro ex-presidentes, José Sarney, Fernando Collor, Luis Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso posaram para a fotografia, lado à lado, na formação da comitiva do Brasil que viajou a Joanesburgo, para o último adeus a Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1993. Mandela morreu em 05 de dezembro e foi sepultado em Soweto, cidade símbolo do foco de resistência anti-racista e de protestos dos negros contra a política oficial de discriminação racial.

O exemplo de Mandela foi sempre baseado no diálogo e na exposição clara das ideias, sem jogo político de ataque aos adversários, sem estratégias de conchavos políticos para vencer, com muito respeito as pessoas e a igualdade entre todos os seres humanos. As mensagens de reconciliação entre as comunidades e o reconhecimento do outro como gente capaz de agregar para vencer as dificuldades, resgatam valores difíceis de serem comprovados na prática de governos brasileiros. No discurso e na teoria todos são democráticos. O caso da imagem da comitiva brasileira gera dúvidas sobre o que ela realmente que dizer. Será o efeito Mandela inspirando procedimentos?
Ou quem sabe o espírito natalino? Ou...

Outra cena histórica presenciada em Soweto, por centenas e milhares de sul africanos, foi o aperto de mão entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e o presidente de Cuba, Raul Castro. Há mais de 50 anos os dois países vivem uma relação muito tensa, mas o legado democrático de Mandela possui o poder incrível de unir as nações e diminuir as diferenças. No caso considero a imagem mais relevante que a dos presidentes brasileiros perfilados, a imagem de Obama e Castro aconteceu um aperto de mão, aparentemente mais representativo.

Pelo menos, os políticos brasileiros, América do Norte e Central souberam demonstrar ao mundo imagens de civilidade. Desejamos que os exemplos de comportamento digno, com ou sem jogo de cena, sirvam de exemplo para a triste realidade das torcidas organizadas do futebol brasileiro. Deixo como exemplo as recordações que guardo da última Copa do Mundo, no País de Mandela, na África do Sul. Todos juntos e misturados torcendo para times diferentes. O jogo precisa ser jogado com respeito ao ser humano e ao sentimento do próximo. Não precisa ser encenado quando este estiver próximo.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Sem extensão rural falta comida na mesa


Mais de 70% da produção de alimentos consumidos pela sociedade vem da agricultura familiar. Além dos produtos colocados no mercado na forma in natura, à agroindústria e outros de processos artesanais que proporcionam alimentos à população, tem origem nos núcleos familiares rurais. Na assistência técnica e extensão rural e social, de um público fundamental para o abastecimento da mesa dos gaúchos e brasileiros, a Emater/RS-Ascar.

As ações desenvolvidas pelos bravos extensionistas rurais ecoam também para combater as desigualdades sociais. Neste contexto está o trabalho com as comunidades, quilombolas, indígenas, pescadores e assentados da reforma agrária, públicos assistidos nas políticas públicas, que visam promover a inclusão social e produtiva dessas famílias. São mais de 150 mil famílias incluídas no Cadastro Único para os Programas Sociais, destas, 73 mil estão em situação de vulnerabilidade social. Pessoas que vivem na extrema pobreza do meio rural gaúcho.

Além da comprovada prática da extensão rural e social, em 493 municípios do Rio Grande do Sul, com mais de 378 mil estabelecimentos rurais da agricultura familiar e que correspondem a um percentual superior a 27% do PIB gaúcho, a Emater/RS-Ascar apresenta-se como a estrutura de informação mais eficiente para a chegada das informações tecnológicas ao campo, em muitas vezes a única. Com resultados incontestáveis no aumento da produtividade e na melhoria da qualidade de vida das famílias rurais. Tudo isso sem custos para os agricultores, pois os serviços gratuitos são obrigações do Estado e da União.

Quem recebe assistência técnica, as famílias rurais, sabem e reconhecem o valor das ações extensionistas. Por outro lado, entre os consumidores urbanos poucos imaginam ou não se dão conta, que a qualidade da comida diária na mesa depende basicamente da produção dos pequenos agricultores e do trabalho da Emater/RS-Ascar no campo. Se faltar extensão rural vai faltar comida na mesa da população. Falo isso por conhecer a história, não só pela condição de servidor, mas principalmente como cidadão.

A defesa da Emater/RS-Ascar como entidade filantrópica e a manutenção dos serviços de assistência técnica e social é vital para o conjunto da sociedade. A não existência da instituição pode possibilitar um desequilíbrio econômico e sem nenhum dramatismo, a falência dos núcleos familiares dos gaúchos. Para não chegar a este ponto é necessário uma mobilização constante e um abraço de todas as instâncias a uma causa de todos.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

sábado, 30 de novembro de 2013

Cavalgada ao luar


Os Caminhos Rurais de Porto Alegre vem se constituindo numa oportunidade de lazer em meio ao campo, morros e matas preservadas. O roteiro aparece como opção a quem deseja fugir da vida cinzenta da cidade, onde predomina o concreto, o asfalto e o barulho insuportável de um trânsito cada vez mais caótico pelo excesso de veículos e seus condutores, com pessoas afetadas estresse e contaminadas pelo mau humor.

A Cabanha La Paloma faz parte de um desses roteiros e apresenta como contraponto o passeio a cavalo, como forma de lazer para familiares, amigos e  para o turista que deseja curtir um cenário rural próxima a zona sul da cidade. Entre os atrativos da propriedade de 15 hectares, está a realização da Cavalgada da Lua Cheia, que acontece a cada três meses. O evento, que faz parte do calendário oficial da Secretaria Municipal de Turismo, é também uma forma de cultivar as tradições gaúchas e praticar o turismo equestre.

No dia da cavalgada, a movimentação começa cedo na propriedade. Ao cair da tarde os animais começam a receber a ensilha e os tratos de alimentação e embelezamento, afinal cavalo e cavaleiro ou amazonas precisam estar bem apresentados para o charmoso passeio noturno pelo meio rural da capital dos gaúchos. O percurso é realizado entre duas e três horas, no ritmo “passo lento” e monitorado por guias experientes, com o auxílio da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e Brigada Militar.

Mesmo cercada de segurança, a companhia mais agradável e desejada é mesmo a da Lua Cheia. A fase da lua que inspira poetas, escritores, compositores, cantores, namorados e todos os apaixonados por uma noite enluarada. É uma fase da lua em que ela encontra-se refletida na sua totalidade sobre a terra. O disco lunar é visível à noite, pois a lua se opõem ao sol em relação à terra. O brilho característico, bem dominante nessa fase, é denominado luar.

A Cavalgada da Lua Cheia parece ser uma combinação infalível para quebrar as rotinas e experimentar o prazer de cavalgar ao luar. Tudo conspira a favor, o gosto pela tradição gaúcha, a terapia do lombo do cavalo, os amigos, os enamorados, o brilho do luar, o som da natureza e para completar um retorno feliz a sede da Cabanha, onde a culinária típica do campo é degustada, regada pela boa música tradicionalista.



Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Dever cumprido com louvor



Depois de escrever sobre os perigos do consumo de alimentos, principalmente para a saúde de jovens em idade escolar, desejo relatar uma realidade bem próxima, aqui na Zona Sul do Estado, o exemplo da prefeitura de Cerrito, a qual administra recursos oriundos do Programa Nacional de Alimentação Escolar de forma admirável. No município 100% da alimentação escolar vem direto da produção dos agricultores familiares. Uma ação que favorece a comercialização de produtos dos agricultores locais e promove a saúde dos futuros cidadãos cerritenses.

Méritos para o prefeito Flávio Vieira, que certamente sabe o que está escrito lá na Constituição Brasileira, no Art. 208, inciso VI: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência a saúde”. No que se refere a saúde e educação, o prefeito Flavinho, como conhecido na região cumpre seu dever com sobra.

As diretrizes do PNAE preconizam o emprego da alimentação saudável e adequada; educação alimentar e nutricional no processo de ensino aprendizagem e o apoio ao desenvolvimento sustentável. Estas cruzam com as recomendações de Estratégias Globais, as quais objetivam atingir o balanço energético e peso saudável; limitar e redirecionar o consumo de gorduras não saturadas, eliminar o consumo de gorduras hidrogenadas (“trans”), aumentar o consumo de frutas, vegetais, grãos integrais; limitar a ingestão de açúcar e sal; e promover alimentação saudável em ambientes escolares.

As ações da prefeitura de Cerrito, representadas por suas secretarias envolvidas e o trabalho conjunto de instituições assistência técnica e extensão rural desenvolvem o potencial educativo das crianças e adolescentes, além de promover hábitos saudáveis de consumo de alimentos. Reflexos que se estendem da escola para casa, onde os pais não devem ficar indiferentes.

Na outra ponta, mas também integrados estão os agricultores familiares vendo a sua produção valorizada comercialmente e direcionada para alimentar e educar, muitas vezes seus próprios filhos. É o sentido de comunidade aparecendo forte e trazendo benefícios para todos.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

domingo, 24 de novembro de 2013

Somos aquilo que comemos


A sentença é tão simples e verdadeira, que deveria tocar direto à consciência das pessoas preocupadas ou não, com o bem viver. A frase “somos aquilo que comemos” poderia ser uma criação publicitária da atualidade, dado ao fervor e o apelo da mídia para o consumo, mas ao contrário o dito foi proferido por Hipócrates, considerado pai da medicina, que divulgou a ideia há mais de 2500 anos. Ele também, provavelmente foi o primeiro a concluir que a boa alimentação tem efeitos medicinais e vem antes do remédio.

Acredito que não é necessário fazer um curso de nutrição para mudar nossos hábitos alimentares, basta ouvir os profissionais da área, seguir as recomendações e não se iludir com o apelo publicitário por consumo dos alimentos prontos, práticos e baratos. Muitas vezes, provocam uma falsa sensação de modernidade ignoramos as propriedades maléficas ao nosso organismo contidas, por exemplo, em uma lata de refrigerante: O mais famoso deles possui 39 gramas de açúcar.

Ainda ontem cheguei a um restaurante para almoçar e observei um jovem pedir ao garçom, um litro de refrigerante, aquele de líquido escuro que promete frescor nos dias quentes. De imediato lembrei da palestra da nutricionista, da Prefeitura de Cerrito, Renata Solé. Ela, juntamente com o pessoal da Emater, reuniu famílias rurais para falar sobre alimentação saudável, promover avaliação nutricional em crianças e adultos. Considero este assunto tão importante, quanto promover práticas agrícolas para aumentar a produção.

Na palestra realizada na Vila Freire, meio rural de Cerrito, as famílias unidas e perplexas pelas informações contundentes assistiram o vídeo “Muito além do peso”, documentário que mostra de forma prática situações da vida real, onde crianças obesas consomem desmedidamente produtos industrializados, como salgadinhos, refrigerantes outros carregados de conservantes. Os pais, inconscientes e dominados diante dos apelos dos filhos se curvam ao choro e a mal criação e acabam cedendo este tipo de “alimento”, muitas vezes sem imaginarem ou ignorarem as consequências futuras. Segundo o documentário, atualmente 53% das crianças no mundo sofrem com a obesidade.

Segundo o psiquiatra e professor em Educação da Universidade do Porto,  Carlos Mota Cardoso, "Vivemos numa altura em que há um fundamentalismo relativamente à silhueta, mas os casos de obesidade aumentam a cada dia". Ele diz também que a publicidade promove mais doenças que a saúde. Mas devemos atribuir a culpa somente a publicidade? Penso que não, este é um tema de responsabilidade de todos. O exemplo deve começar em casa, ser reforçado na escola e tornar-se, inclusive uma política pública. Afinal estamos falando da saúde da população.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com








terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ao sabor do mate

Conselhos de Martin Fierro – Carlos Ferreyra

O mate que me refiro é a erva-mate (Ilex paragurienesis), que nós gaúchos chamamos de chimarrão. O termo mate, como sinônimo de chimarrão, é mais utilizado nos países de língua castelhana, a mesma uma bebida característica da intrínseca dos habitantes da América do Sul. Os estudiosos da tradição sabem que adquirimos um hábito, um legado das culturas indígenas quíchuas, aimarás e guaranis.

O conjunto bomba, cuia e erva-mate saíram das aldeias para ocupar lugar cativo nos escritórios, nas repartições públicas ou particulares. O hábito de sorver um mate com erva moída fina ou grossa passou a ser uma prática quase obrigatória e, porque não dizer um vício. Nas reuniões das quais participo com freqüência, lá estão os participantes, às vezes contrariando as tradições: Cada um com seu conjunto de chimarrão individualizado como se estivessem a matear sozinhos. 

Em algumas vezes me incluo neste grupo e tento entender está lógica. Pois bem... Quando sorvemos nosso mate quente com sabor quase amargo experimentamos sensações de coragem e até de clarividência, em alguns segundos parecemos elaborar perguntas ou respostas mais consistentes. Sou daquelas pessoas que não tenho respostas prontas e em algumas vezes encontramos pessoas que tem prazer de fazer perguntas inesperadas, às vezes mal intencionadas, só para colocar o outro na famosa “saia justa”. Nestas ocasiões queria sempre ter uma resposta ao sabor do mate.

Talvez seja por isso que o mate individualizado, no grupo comece a fazer sentido para algumas pessoas, se pensarmos na vida competitiva atual, onde o indivíduo precisa provar em todo momento que é capaz. No mundo dos concursos, onde aparentemente este possa ser uma ferramenta de justiça, já vi muita gente boa fora e outros tantos muito ruins dentro. Porque isso me incomoda? - Respondo ao sabor do mate: Diferente da concepção original do mate compartilhado, em um mesmo grupo com objetivos iguais, as pessoas são percebidas como concorrentes e não mais como parceiros.

Que a ideia original do mate seja perpetuada, que na roda de mate cada um possa ter um tempo para sorver, pensar e ter consciência do no que dizer. Que o hábito de matear “solito” aconteça quando estiver realmente só.  Que o mate possa ser tomado, não como uma forma maquiavélica de trapaça, mas como algo espiritualizado, saboreado como partilha do conhecimento e da parceria.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com



domingo, 3 de novembro de 2013

Quando o virtual é real


Antes de falar sobre o mundo virtual e digital, quero lembrar de uma aula sobre Novas Mídias, do doutor, professor e amigo Alex Primo. “Popularmente, chama-se de virtual tudo aquilo de diz respeito às comunicações via internet” e de acordo com os conceitos de Pierre Levy, citado por Alex, o virtual é um espaço real e, como exemplo cita o nosso próprio relacionamento na atualidade, com os modernos meios de comunicação, que existe de fato, é concreto e real.

O universo de potencialidades do mundo digital esteve recentemente a serviço do meio rural, tornando possível uma atividade característica dos pecuaristas familiares de Jaguarão. Vejamos, a extensão rural no município tem utilizado o concurso, como uma ferramenta para estimular aos pecuaristas familiares a troca de experiências e conhecimento de requisitos e técnicas para melhorar a qualidade do rebanho.

Pois bem... Os primeiros concursos ainda foram realizados na área do Sindicato Rural, na cidade, mas surgiram dificuldades relativas ao custo e logística para o transporte de animais, de vários pontos do município até a cidade. A sugestão criativa dos extensionistas locais foi gravar em vídeo os lotes de terneiras e vaquilhonas concorrentes, apenas com numeração para avaliação dos jurados. 

Uma equipe de comunicação foi a campo e gravou 34 lotes de terneiras e vaquilhonas, previamente selecionados pelos produtores, filmados num mesmo enquadramento, os quais foram editados em tempos iguais para cada lote. Graças à tecnologia digital, o concurso foi viabilizado de maneira econômica, pois os organizadores não possuíam estrutura para buscar os animais, em diferentes pontos do interior do município. O custo existiu, mas ficou dentro do serviço de assistência técnica e social prestada pela Emater/RS e, os 102 animais não precisaram ser transportados, couberam em um cartão de memória.

No dia do concurso, os pecuaristas e suas famílias foram até a cidade e lá pelo computador, assistiram na tela de cinema, as terneiras e vaquilhonas num belo desfile. Puderam então apreciar a qualidade da produção do campo, também tiveram a comprovação que o virtual é real, que alternativas e tecnologias existem... Precisamos de mais iniciativas e de criatividade.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

sábado, 26 de outubro de 2013

A hora da formiga

Quando se aproxima o verão e junto aqueles dias de calor intenso, que quase não dá vontade de ir trabalhar, lembro da fábula da cigarra e da formiga. O pessoal da minha geração (pré-internet), por certo irão recordar da histórinha infantil, em que a cigarra vivia cantolando com sua guitarra e convidando a formiga, que trabalhava pesado carregando folhas,  para largar tudo e ir com ela afim de juntas divertirem-se. 

Época de preparo do solo para o plantio das culturas de verão é só o início do trabalho que envolve a maioria dos agricultores. Agora é a hora do produtor, assim como a formiga faz, garantir-se para um inverno mais tranquilo. Um clássico exemplo entre as práticas agrícolas é a silagem, na qual o milho plantado agora vai garantir a alimentação das vacas no inverno. Nesse tempo de trabalho do agricultor formiga, muitas são as cigarras com poderes de persuasão, de fala fácil e o canto ardiloso, que tem levado muitos agricultores a perderem o foco. 

Portanto, atenção as armadilhas melodiosas e mantenha seu plano de trabalho, pois o agricultor pode ser na verdade diferente da formiga quando faz o planejamento das rotinas de atividades na propriedade, o ano todo. Neste caso, o trabalho não fica concentrado apenas na época de verão, só para exemplificar: Se conseguir armazenar água na propriedade durante o inverno, através de cisternas ou até mesmo no açude, não precisará sair correndo no verão e gastar o que não tem de recursos para molhar as plantas. 

Outro exemplo é realizar as práticas conservacionistas como o terraceamento (curvas de nível), cobertura do solo através do plantio das pastagens de inverno. Estas são práticas simples e obrigatórias a todo agricultor. Na fruticultura temos no inverno as podas de limpeza e de frutificação nos pomares, as quais são necessárias para uma boa produção de frutas no verão. Na pecuária temos o melhoramento do campo nativo e os cuidados com a sanidade do rebanho.

Outra medida necessária no verão ou no inverno é cuidar as outras formigas e, assim como fez a rainha da fábula, se alguma delas cair na tentação e sair por aí... tocando violão, seja firme e procure trazê-la de volta, pois não é nada bom ver o formigueiro espahado campo afora. Fazendo o planejamento durante o ano, o agricultor poderá ter também tempo, não só para se divertir, mas também condições de chamar “as cigarras” para tocar na sua festa.

Fábula: “No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: Toque e cante para nós. 
Para cigarra e paras formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas”.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mais informação, mais consciência é igual a mais educação



Em um dia quente de início de verão estava indo para mais uma reportagem no meio rural, o destino era uma localidade no interior de Pinheiro Machado. Junto comigo no veículo estavam o cinegrafista e o palestrante da reunião, no meio do caminho tivemos que chegar em um comércio na beira da estrada para comprar uma água ou refrigerante, pois a umidade do ar estava baixa e o calor quase insuportável. Até aí tudo normal, mas jamais esqueci o momento em que o palestrante, depois de saciar a sede, abriu o vidro do carro e jogou a garrafa “pet” numa vala junto a estrada.

Não lembro bem quais foram as palavras que disse ao sujão, só sei que fiquei muito indignado, pois não esperava aquela atitude vinda de uma pessoa com formação superior e que revelou educação tão inferior. Depois da invasão do plástico, das latas e dos vidros, o nosso meio rural não é mais o mesmo e o lixo não é mais problema apenas dos centros urbanos. Hoje é comum você sair para uma atividade rural, seja a trabalho ou turismo, e encontrar vestígios de sujeira, rastros deixados por quem tem pouca consciência e nenhuma educação. No caso do palestrante em questão acredito que ele tinha a informação, mas ela estava adormecida e não foi capaz de se sobrepor as atitudes inconscientes da criatura que se julga culta.

Nem tudo está perdido. Ações, mesmo que isoladas em relação ao tema precisam ser divulgadas e o trabalho deve começar nas escolas entre as crianças e adolescentes. Nesta semana conheci um trabalho de educação ambiental realizado na Ilha da Torotama. É o projeto “Pescando Lixo”, no qual envolve os extensionistas da Emater, do Porto, de educadores e escolares do município de Rio Grande. Depois de palestras sobre a importância da água e a necessidade de preservação do meio ambiente, o grupo formado pelas instituições envolvidas e alunos da Escola Fundamental Cristóvão Pereira de Abreu, saiu em direção a Lagoa dos Patos para recolher o lixo deixado pela comunidade, inclusive pelos pescadores, que dependem da pesca para a sobrevivência.

Neste caso a comunidade da Ilha da Torotama, talvez não tivesse a informação sobre o tempo de decomposição dos materiais mais encontrados, por exemplo: Latas de alumínio (200 a 500 anos), Isopor (400 anos), pneus (600 anos), vidro (4000 anos) e garrafa “pet” (tempo indeterminado). Em apenas uma hora, o mutirão da limpeza recolheu em sacos plásticos, quantidade suficiente para encher mais de dez barcos de pesca.

A informação recebida pela comunidade, aliada a forma participativa dos alunos, uma “gincana”, contribuiu para elevar o conhecimento de todos, estimular a consciência cidadã e com certeza melhorar a educação. Tenho a convicção que ações direcionadas aos jovens, nas quais fazem deles protagonistas são efetivas e saem barato aos poderes públicos. Na verdade, não se faz necessário criar programas complexos e sim estimular atitudes simples onde a informação possa ser compartilhada e experimentada.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Preciosidades nas mãos dos pequenos


As coisas preciosas da vida devem ficar sob o domínio dos grandes. Certo? Quando nos referimos a responsabilidades dos adultos em relação às crianças, talvez. Mas, quando tratamos de temas relativos à preservação dos recursos naturais, como o resgate e guarda das sementes crioulas posso afirmar que, neste caso as preciosidades devem ficar na mão dos pequenos. Sejam eles colonos, índios, quilombolas, assentados ou outra categoria de agricultores familiares que o homem teima em classificar.

O município de Canguçu e suas organizações de agricultores, juntamente com as instituições organizaram, neste mês de outubro (05 e 06/10/2013), a Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares. Na condição de repórter rural pude constatar que preciosidades decisivas para o futuro da humanidade estão nas mãos dos pequenos agricultores e que da resistência histórica desses grandes homens do campo depende a soberania alimentar do planeta.

Sementes crioulas de produtos a exemplo do milho, feijão, abóbora, hortaliças e todo tipo de alimento foram trazidas por agricultores da região como jóias raras, com objetivos de promover a troca de sementes entre as famílias produtoras e aquisição para quem desejasse cultivar e passar adiante. Além dos adultos, as escolas do município envolveram também crianças e adolescentes, os estudantes passaram a pesquisar as sementes e saber mais a importância para as comunidades. Nisso, veio também o respeito e a admiração pelo trabalho dos agricultores.

Foi de uma jovem estudante chamada Milena, que veio a inspiração para criar mais que uma frase, mas a síntese do pensamento da Feira de Sementes – “Crioulas: Sementes que resgatam o passado e garantem a segurança alimentar do futuro”. Acredito que o envolvimento da juventude nas causas nobres e fundamentais para o planeta pode trazer mais esperança na luta constante entre grandes, de interesses escusos e pequenos com ideais consolidados. Este é o tipo de disputa, em que todos saem perdendo, porque não teremos nem grandes e nem pequenos não existirem mais alimentos para o consumo.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A essência do Pampa


O Pampa no Brasil está presente no estado do Rio Grande do Sul e ocupa 63% do território gaúcho. Também conhecido como Campos do Sul ou Campos Sulinos, ele rompe fronteiras e constitui parte de territórios da Argentina e Uruguai. É formado principalmente por vegetação campestre, a exemplo de gramíneas, herbáceas e algumas árvores.

A origem do termo “pampa” é indígena, significado encontrado para designar “região plana”, característica de terras encontradas na divisa da região sul com o Uruguai. O pampa gaúcho possui tradição na atividade de pecuária e ocupa uma área de 40% do Rio Grande do Sul, uma tradição que se iniciou com a colonização do nosso País. A área pampeana da Campanha Meridional representa a maior proporção de campos naturais preservados, sendo um dos ecossistemas mais importantes do mundo.

As diversas categorias de profissionais e instituições, que atuam na área ambiental, vêem se manifestando de maneira formal ou informal sobre os efeitos danosos da monocultura sobre o terreno fragilizado do Pampa. A flora e a fauna passam a ser mais conhecidos e através da informação, os habitantes dessa região passam a realizar práticas agropecuárias sustentáveis, visando à preservação do meio ambiente.

Preservar as características naturais do lugar do planeta em que vivemos é uma necessidade, mas as pessoas não são coisas ou substâncias encontradas no ecossistema. A essência do Pampa é o grande legado humano deixado por homens e mulheres que lutaram bravamente para constituir uma pátria livre da escravidão, da exploração da riqueza e do trabalho duro de campesinos que tinham na fé e nos conceitos de comunidade, uma forma de construir uma nação.

A essência é o constitui a natureza e o cerne de um ser, independentemente de existir ou de ter existido de fato. O Pampa gaúcho é formado de coisas substanciais e espírito, a lógica clássica daquilo que não pode ser indissolúvel.


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Pode entrar, a casa é sua


Quem anda pelo interior do Estado e na maioria das cidades gaúchas da região sul conhece bem a fala “pode entrar, a casa é sua”. Nesta expressão está representada uma das marcas da hospitalidade de nosso povo, que gosta de receber muito bem aqueles que chegam com missão de paz e trazem no coração um sentido claro de fazer novas amizades.

Recentemente recebemos a visita de dois jornalistas do Ministério da Agricultura da República de Cabo Verde, um país africano e um arquipélago de origem vulcânica constituído por dez ilhas, localizado no Oceano Atlântico. Manoel Brito e Rizulena Monteiro nos brindaram na chegada com um sorriso aberto, largo e fácil, era tudo o que precisávamos para abrir nossas portas, porteiras, cadeados, desfazer cercas e alambrados.

Os colegas africanos vieram em uma missão para conhecer a comunicação rural feita no Rio Grande do Sul. Como bom gaúcho e conhecedor dos costumes, o gerente de comunicação da Emater/RS-Ascar, Paulo Mendes elaborou um roteiro que incluiu uma visita a Pelotas, com objetivo de conhecer o Terra Sul, uma parceria da pesquisa e extensão rural, na produção do programa de televisão que possui mais de 20 anos, um patrimônio cultural e audiovisual das instituições nos registros das atividades e modo de vida das famílias rurais.

Mesmo para leigos sobre o universo rural é possível imaginar uma grande diferença entre os dois sistemas agrários. O Brasil um país agrícola de dimensões continentais, clima tropical com distribuição de chuvas regulares durante o ano contrasta com Cabo Verde, onde chove apenas em três meses durante o ano e possui pouca terra para produção de alimentos. A lotação do gado é apertada no país africano enquanto aqui, principalmente no sul do Brasil, os animais desfrutam de fartura de campo nativo para alimentação e muito espaço para criação.

Mas também existem muitas semelhanças, principalmente ao se tratar de pessoas e de relações amistosas. O idioma é o primeiro sinal de identidade, pois Cabo Verde foi colônia de Portugal e conseguiu sua independência apenas em 1975. Com base lexical portuguesa, o crioulo, língua original do Arquipélago sobreviveu influências externas e ainda é usada entre os descendentes cabo-verdianos de várias partes do mundo. O gosto pela música também é semelhante, onde o ritmo da percussão é bem marcada, lembrando muito nosso samba de raiz. 

Entre os jornalistas, a identidade é ainda maior. Não só pelo orgulho que cada um de nós cultiva por suas pátrias, independentemente de tamanho, mas pela consciência de que na comunicação plena não existem barreiras. Um sentimento de consenso predominou no encontro de duas realidades: É preciso deixar a porta aberta, pois se o mundo é nosso e desfrutamos do mesmo mar, pode entrar que a casa é sua.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sábado, 7 de setembro de 2013

Pombos: Do sagrado ao profano


Ao ver pessoas condenando a presença dos pombos em seus condomínios verticais e a sujeira que eles provocam nos patrimônios públicos, fico pensando nos vários significados e sentimentos que a ave provoca desde a sua existência, durante toda a humanidade. Enquanto no presente os eles são acusados pela transmissão inúmeras doenças como histoplasmose, salmonella e criptococose, no passado a ave possui um ar de sagrado, quando no batismo de Jesus aparece como símbolo da Santíssima Trindade. Para os católicos, a pomba representa o Espírito Santo, a terceira pessoa juntamente com Deus Pai e Deus Filho.

O pombo comum ou pombo doméstico é uma ave da família columbidae, com grande variação de cores. Há poucas diferenças visíveis entre machos e fêmeas. Sua plumagem é normalmente em tons cinza, mais claro nas asas que no peito e cabeça, com cauda riscada de negro e pescoço esverdeado. A pomba branca faz parte do imaginário e representa a paz e muitas histórias no imaginário de reis e rainhas. Representa mais que uma lenda, mas o símbolo de liberdade quando soltas em revoadas ou então santificada quando aparece com um ramo de oliveira no bico.

Em muitos países os pombos são considerados um grave problema ambiental, pois competem por alimentos com as espécies nativas, danifica monumentos com suas fezes e pode transmitir doenças ao homem. Mas atualmente vê-se como exagero esta atribuição de vetor de doenças; como exemplo, o Departamento de Saúde de Nova Iorque não tem nenhum registro de caso de doença transmitida por pombos a seres humanos. De certa forma, esse dado me deixou aliviado porque não era a imagem que tinha sobre os pombos.

Os pombos que aprendi a admirar são aqueles que são tirados das cartolas mágicas ou os que são soltos em revoadas nos eventos esportivos. Além desses, sempre procurei entender a lógica dos pombos-correio. Segundo Marques (1997, p. 359 – 363), uma variedade domesticada do pombo-comum ou pombo-das-rochas (Columba livia). Foi escolhido porque, como todo pombo retorna geralmente a seu próprio ninho e a sua própria mãe, era relativamente fácil produzir seletivamente os pássaros que encontravam repetidamente o caminho de volta em longas distâncias. Os pombos-correios foram usados para carregar mensagens escritas em papel claro fino (tal como o papel de cigarro) em um tubo pequeno unido a um pé; por isso o nome de pombo-correio. 

O problema é que o animal por vezes idolatrado e respeitado como símbolo do sagrado e que tem nos penhascos seu habitat natural, invade as cidades do mundo inteiro e se reproduz em qualquer época do ano, com grande potencial de multiplicação. Até pouco tempo, havia uma certa tolerância aos pombos em pontos turíscos das grandes cidades, mas a fama de sujão e transmissor de várias doenças vem trazendo uma certa repugnância a presença dos pombos. Entre o sagrado e o profano, prefiro acreditar que os pombos ainda são as vítimas do desequilíbrio ambiental e do entendimento equivocado dos seres humanos.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

sábado, 31 de agosto de 2013

Quando a cidade enxerga o campo


Muito mais preocupado com as metas e os resultados a serem alcançados, os habitantes da cidade vivem em busca da produtividade, do lucro e do consumismo. Dia e noite fixados no trabalho perdem com freqüência o foco e deixam a vida passar, não percebem que os filhos cresceram sem saber quase nada sobre o universo rural, até mesmo porque eles mesmos desconhecem. Quando chega o período de exposições, principalmente a Expointer, alguns pais urbanos levam os filhos para um passeio na feira, neste dia muitos ficam sabendo que o leite tomado diariamente vem da vaca e não da “caixinha do supermercado”.

É quando a cidade enxerga o campo, ou melhor, do jeito que a mídia vende o rural. Sem querer generalizar, as notícias mais impactantes são os campeões ou as campeãs, a vaca que mais produz leite, o touro mais pesado e valioso, a raças de ovelhas de melhor aptidão, o vencedor do freio de ouro, o faturamento na venda de máquinas dos animais. Reportagens mostram a vida de peão na feira e não nas propriedades, a estética dos bichos ao ingressar na pista, o maior e o menor animal da feira, o modo de vestir dos homens e mulheres “na feira”, uma ou outra novidade de funcionamento da exposição ou de programas governamentais.

Segundo histórico da Expointer, a tradição do Estado em feiras agropecuárias vem desde 1901, quando em pavilhões fechados no Campo da Redenção, hoje área do Parque Farroupilha e do campus central da Ufrgs, em Porto Alegre, ocorreu a primeira Exposição de Produtos do Estado. Em 1972, já em Esteio, foi realizada a primeira Exposição Internacional de Animais, a Expointer, com a presença dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Paraná. Países como Canadá, Holanda, França, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Uruguai, Argentina e Chile também estavam presentes.

Nos últimos anos na feira, o público de freqüentadores pagantes chegou perto de 500 mil, foram arrecadados quase 12 milhões na venda de animais, o setor de máquinas faturou mais de 830 milhões e a agricultura familiar superou 1 milhão em vendas. Estes, embora sejam dignos representantes do campo, não ocupam muito espaço nas divulgações da feira. Sem falar no artesanato rural, nos outros animais e na mostra de serviços essenciais ao meio rural.

Mesmo com números fantásticos e quebra de record’s ano após ano e a visibilidade na mídia, eu chego a conclusão que a cidade ainda não enxerga o campo. Os agropecuaristas persistentes que trabalham sem serem vistos ou aqueles competitivos, que mesmo não ganhando nada estão lá, participando, também estão invisíveis. Para as pessoas da cidade que desejam enxergar o campo, sugiro que façam um roteiro turístico no meio rural aí do seu município. Provavelmente, muitos que trabalham na roça não serão vistos pela falta de inclusão social, mas se quiserem uma referência grandiosa, então visitem a Expointer.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

sábado, 17 de agosto de 2013

Capão da Amizade


Capão é uma formação vegetal típica da região Sul do Brasil. Para quem é do meio rural, provavelmente conhece como um “mato pequeno” isolado ou agrupados em meio aos campos. No novo Dicionário da Língua Portuguesa, segundo Ferreira (1986),  diz que capão “Consiste em um grupamento de vegetação arbórea cercada por campinas”. Grande ou pequeno, ele já deu nome para alguns municípios do Rio Grande do Sul. Temos, por exemplo: Capão do Leão, Capão da Canoa, Capão do Cipó, Capão Bonito do Sul e Muitos Capões. 

Relembrando os tempos de guri, quero falar de um capão que conheci e pude vivenciar o crescimento de uma comunidade em sua volta, o Capão da Amizade, no município de Cristal. Um mato de formato arredondado, de vegetação variada, entremeada com pedras grandes e pequenas, onde algumas delas são suportes para  crescimento de árvores que derramam suas raízes sobre as pedras, formando desenhos e arranjos tão belos que só a natureza proporciona. Na lembrança tenho na memória uma floresta, pois o capão, como era chamado, parecia um mato muito grande, no qual me deliciava ao sentir o frescor da relva, em subir nas árvores, nas pedras, se embalar nos cipós e até mesmo levar pra casa, barba-de-pau para enfeitar o pinheirinho no natal.

Nunca deixei de visitar o Capão da Amizade e num dia desses estive lá. Fiquei feliz ao vê-lo preservado, com calçadas e ruas de concreto ao seu redor. A comunidade, formada pelos órgãos públicos e seus habitantes, entendeu que aquele capão é um patrimônio com valor ambiental e cultural, faz parte da história dos cristalenses. Durante muitos anos, na formação do povoado até passar a categoria de vila, as festas realizadas no Capão da Amizade ergueram, entre tantas obras, as igrejas, escolas e salões comunitários. Das festas mágicas do Capão surgiu a amizade entre as pessoas e a vontade de estarem próximas na construção de uma cidade, que bem poderia se chamar Capão do Cristal. 

Bons tempos aqueles... em que as pessoas se encontravam para conversar e  juntas buscavam o entendimento. Compadres e comadres se respeitavam e trabalhavam pelo bem comum, sem reclamar. E tinha também muita diversão: O jogo da argola, do porquinho da índia, do tiro ao alvo, da roleta de prêmios, da pescaria na caixa de areia, da banda tocando, dos barris de chopp, dos sucos e guaranás. Um palco feito de tábuas plainadas era o espaço das apresentações artísticas, onde gaúchos e prendas dançavam nossas melhores canções folclóricas. Sem esquecer que pelos caminhos de subidas e ladeiras, sob um teto de folhas, desfilavam rapazes e moças à procura de um olhar insinuante a fim de começar um namoro ou uma simples e sincera amizade.

Muitas pessoas que conheceram e passaram pelo Capão da Amizade, possivelmente vão lembrar com carinho daquele lugar. Em outras, o sentimento pode ser de medo quando passaram pelo mato na noite  escura. Para alguns, mesmo em  dia claro, o capão  nada representa, talvez por não terem vivido numa época que mesmo na simplicidade as pessoas eram evoluídas e os contatos pessoais eram mais importantes.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Dialogando com a comunidade rural


O diálogo pode ser considerado um caminho seguro para o entendimento entre as pessoas e a descoberta de novas realidades. Caracterizado pela conversa entre dois ou mais indivíduos, onde o consenso prevalece, a conversação estabelecida é processo propulsor de troca de ideias e alternativas para resolução dos problemas. A criação do diálogo veio do teatro em substituição ao monólogo, a compreensão dos fatos históricos pelo colóquio, no sentido de informar as pessoas sobre o presente é também uma estratégia de comunicação poderosa.

Um programa chamado “Dialogando com a Comunidade”, realizado no município de São José do Norte, utiliza a lógica do diálogo para promover o desenvolvimento técnico e social das comunidades rurais. Através do calendário de visitas, um grupo formado por extensionistas da Emater/RS-Ascar e secretarias municipais da Prefeitura passam o dia conversando com as famílias rurais, onde o propósito é ouvir primeiro todas as demandas, conhecer os problemas e as potencialidades, com o objetivo de elaborar um plano de ação com foco nas ações prioritárias.

Em outra etapa do programa, o grupo realiza novas reuniões com a comunidade onde o momento é de apresentar, discutir propostas para planejar avanços nas áreas de produção da agropecuária, melhorias sociais e culturais. Recentemente acompanhei um dia desses na Comunidade de Capela e pude comprovar o resultado das ações quando a origem vem do diálogo. Parece elementar que para avançar nos processos democráticos, verdadeiramente comunitários é preciso conhecer realidades, mas infelizmente isso na prática não acontece, pois as chamadas “políticas públicas” vêem quase sempre de cima para baixo sem dar ouvidos para aqueles que mais precisam se expressar.

No que se refere à comunhão fática, esta forma de discurso entendida como diálogo, preenche uma função social e esse deve ser o principal objetivo. Recordando os conceitos de Benveniste (2006), “A conversa, por exemplo, é um gênero bastante desprestigiado nas teorias discursivas, isso porque conota temas aleatórios, desnecessários e que, por isso, não produzem resultados concretos”. 

Concluo afirmando que, este tipo de proposta de trabalho não é nenhuma perda de tempo, ao contrário só existem ganhos e maiores chances das políticas darem certo, além de produzir resultados satisfatórios para realmente “todos”.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com 





quarta-feira, 31 de julho de 2013

A imitação da vida

Foto: Linda Tiepelman

Cada vez fico mais convencido de que as respostas que precisamos para os problemas da vida contemporânea encontram soluções nos milhões de exemplos mostrados pela natureza. E não estou me referindo somente às conseqüências para a saúde, como o consumo inadequado de alimentos, a intoxicação por venenos, o uso de drogas sintéticas, estresse ou outros males da vida moderna. Falo de uma ciência que tem como objetivo estudar as estruturas biológicas e suas funções, a qual procura aprender com a natureza através de observações, estratégias e busca de soluções.

A biomimética é uma recente área do estudo científico que provém da combinação de duas palavras gregas bíos, que significa vida e mímesis que significa imitação. De forma direta podemos dizer que é o domínio do estudo que promove a imitação da vida. Sem mesmo que nos demos conta, a ciência está presente nas tecnologias inovadoras que experimentamos ou vivenciamos. Quando nos deslumbramos com uma obra fantástica da arquitetura em forma de espiral, caracol ou cupim, lá está a ciência que imita a vida. 

As abelhas e suas formas organizativas deram origem às conexões dos computadores, as asas do beija-flor inspiraram as hélices dos helicópteros e por aí se vão inúmeros exemplos. Muitos outros produtos criados a partir das observações da natureza trouxeram avanços inestimáveis à medicina, por exemplo. Um deles é o biofilme, tecido inspirado na pele do tubarão que evita a infecção hospitalar. Outros exemplos, alguns que conhecemos bem estão em destaque:
Velcro - Desenvolvido a partir de 1941, pelo engenheiro George de Mestral a partir da observação de sementes de grama dotadas de espinhos e ganchos que se prendiam nos pelos de seu cão; 
Superfícies de baixo atrito - Inspirada na forma como a pele dos peixes reage ao contato com a água, essa tecnologia, aplicada ao seu traje de natação, ajudou o nadador Michel Phelps, em suas conquistas nas piscinas. A mesma tecnologia tem sido aplicada também em cascos de navios, submarinos e mesmo aviões; 
Telas "asa-de-borboleta" - São superfícies de visualização de baixíssimo consumo de energia, baseadas na forma como as asas de borboletas refletem a luz; 
Efeito lótus - Baseado na forma como as folhas do Lótus repele a água e a sujeira, diversos produtos estão sendo desenvolvidos na indústria para aplicação em tecidos, metais, pára-brisas e faróis de automóveis.

Estes, embora valiosos, são pouquíssimos exemplos diante do gigantesco potencial que a biomimética tem para oferecer como resultados. Existe na natureza trilhões de espécies das quais menos de dois milhões foram catalogadas até agora. Então eu pergunto: Se nos sistemas biológicos são encontrados as resoluções de problemas da engenharia, da física, da química, da arquitetura, da informática, porque  os avanços da tecnologia na produção de alimentos imitam tão pouco a natureza? 

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com


sábado, 27 de julho de 2013

Obrigado agricultor!


Os agradecimentos deveriam começar logo pela manhã ao sentir o cheirinho de café passado na hora e aquele pão quentinho com a manteiga derretendo sobre ele. Hummm... Que delícia! Com os sentidos aguçados saboreamos a primeira refeição do dia e saímos apressadamente para o trabalho sem ao menos lembrar que por traz daquela primeira e necessária alimentação, está o trabalho de um agricultor.

O dia continua e gastamos energias no escritório, nas fábricas, no comércio, na construção civil, nas plataformas de petróleo, nas academias, nas escolas, no esporte, na balada, no trânsito, no legislativo, no executivo, no congresso, na carga e descarga de alimentos... E nem mesmo neste momento, na hora do almoço, lembramos de agradecer a quem de direito, pelo feijão, arroz, ovo, carne, hortaliças e frutas, óleos e temperos que degustamos e nos regozijamos diariamente.

A noite ainda não chegou e já estamos pensando na janta, a última refeição do dia. Pode ser algo leve como uma sopa de legumes, um churrasco entre amigos depois jogo de futebol ou apenas uma pizzaria pra comemorar os resultados do trabalho, ou ainda, um chopp com colegas para desopilar e jogar conversa fora. Lugares onde se fala de tudo, mas não lembramos jamais que por traz muitos momentos nossos de prazer e felicidade está o trabalho de um agricultor.

Não preciso dizer que o agricultor é uma figura estereotipada como alguém sem cultura, que trabalha na roça e muitas vezes é motivo de chacota na cidade. Mas chamamos de agricultor, aquele que prática a agricultura e pecuária e que produz alimentos para nutrir as populações. Desta forma, o valor do trabalho do agricultor deve ser, no mínimo ensinado às nossas crianças, para que elas não cresçam pensando que leite e ovos saem das caixinhas e, que o arroz e feijão vêem das prateleiras dos supermercados.

Em 28 de julho, dia do nosso agricultor é fundamental que tenhamos consciência da importância dessa figura humana em nossas vidas e, que saibamos valorizar e agradecer quem está nesta profissão. Afinal, pelo menos uma vez no ano precisamos de um médico, um advogado, um arquiteto, do dentista, do taxista ou do enfermeiro, por exemplos. Mas, três vezes por dia precisamos de um colono agricultor.



Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

domingo, 14 de julho de 2013

Novelo de lã


Nos caminhos de várias propriedades rurais de municípios como Canguçu, Piratini, Herval, Pinheiro Machado, Pedras Altas, Pedro Osório, Cerrito, Arroio Grande, Jaguarão e outras tantas localidades da Zona Sul do Estado, é comum ver famílias tecendo fios e fazendo do artesanato em lã muito mais do que uma fonte de renda, mas sim encontrando na atividade formas de terapia e uma maneira de serem incluídas socialmente.

Vejo em um “novelo de lã”, um emblema de virtudes e oportunidades para muitos pecuaristas familiares desta região. Para chegar à condição de estar ali, enroladinho e pronto para a transformação, o novelo teve um passado de trabalho e dedicação dos autênticos pastores do sul do Brasil. Pois, eles seguiram o dom dos ancestrais e continuaram o legado de fazer do pampa, um lugar para criar ovelhas, ter carne de qualidade e tirar a lã para tecer os fios, que irão virar peças do vestuário usadas por grande parte dos gaúchos.

Nesta atividade de tecer os fios, estão principalmente as mulheres do meio rural, as artesãs encontraram nos novelos de lã, a oportunidade de mostrar seu valor na propriedade. Primeiro, elas sensíveis e boas estrategistas que são, foram se organizando em grupos, saindo para feiras e exposições com a finalidade de mostrar e vender suas peças. Os homens pagaram para ver e viram, em pouco tempo o artesanato segurava as pontas na propriedade rural e, muitas vezes tornou-se a principal fonte de renda.

O certo é que as famílias que se dedicaram a ovinocultura e não esmoreceram diante das dificuldades encontraram a fórmula do “novelo de lã”, eles souberam dar valor ao trabalho agregado e apostaram na criatividade que vem da arte de tecer. Enquanto as agulhas se entrelaçam na construção de novas peças, o pensamento voa. Acho até que famílias artesãs, inconscientemente, praticam uma das lições deixadas por Charles Chaplin: “A persistência é o menor caminho do êxito”.



Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com