sábado, 20 de dezembro de 2014

Queimadas: perigo eminente no campo


A prática das queimadas está longe de ser uma forma rápida e barata de limpar o solo. Pelo contrário, os resultados são negativos para a agricultura e acarretam danos muito grandes a terra e seus sistemas ecológicos. No período de verão, principalmente em meses de estiagens, a vegetação seca representa um perigo eminente e um produtor desinformado, que pode causar um incêndio ao tentar limpar uma área com fogo. 

As queimadas raramente acontecem por acidentes, na intenção de obter uma boa produção com as sementes plantadas nas cinzas, o agricultor ao atear fogo numa pequena área pode estar começando um incêndio de proporções incontroláveis. Infelizmente esta é uma prática utilizada na agricultura, especialmente pelos pequenos agricultores ao preparar uma nova área para plantio. É importante ressaltar que existe diferença entre queimada e incêndio. Incêndio é uma queimada sem controle. 

Entre os principais objetivos do agricultor ao queimar uma área agrícola estão o controle de pragas, a limpeza do terreno, renovar pastagens e facilitar a colheita facilitando a mão-de-obra familiar. Mas os benefícios são a curto prazo, porque as queimadas prejudicam a biodiversidade, a dinâmica dos ecossistemas, aumentam a erosão do solo, afeta a qualidade do ar e pode trazer danos ao patrimônio público e privado, quando ocorre o fogo descontrolado próximo a rodovias, redes elétricas e entre as divisas das propriedades rurais. 

O lucro rápido obtido após o plantio em uma queimada resulta na degradação do solo, alterando as características físicas, químicas e biológicas do terreno queimado. O resultado é o empobrecimento da terra causado pela eliminação dos microrganismos fundamentais para a fertilização, tecnicamente altera os nutrientes, como o cálcio, enxofre e potássio. Além, de deixar o solo desprotegido com a queima de árvores, arbustos e outros tipos de vegetação.

A natureza responde aos incêndios e as queimadas, porque as práticas com fogo ao solo desestabilizam o ciclo do carbono e o ciclo hidrológico. Quando não existe vegetação, a consequência é a falta de chuva, pois a evapotranspiração das águas do oceano fica prejudicada. Parte dessa água é captada pela vegetação e a outra é absorvida pelo solo, onde tem destino ao lençol freático, mas a queimada deixa o solo ressecado impedindo este processo de infiltração.

Ao evitar as queimadas, o agricultor vai colaborar também com a saúde do planeta, porque uma queimada prejudica todo o conjunto, o ecossistema tão importante para a manutenção da atividade agrícola. Imaginem... se os incêndios continuarem, em pouco tempo, não haverá mais água para apagar tanto fogo e nem mesmo solo fértil para plantar. 

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Saber a procedência


Em tempos de falta de limites para tudo e especialmente o desrespeito com a vida dos seres humanos, o abigeatário aparece como grande vilão quando o assunto é roubo de gado. A figura sinistra se aproveita do escuro da noite, da calmaria do meio rural e da hora de descanso do trabalhador, para praticar o abigeato ou seja, o furto de animais nos campos, pastos e currais. Antigamente o roubo de animais, que sempre existiu, servia para  alimentar as famílias dos próprios ladrões que não tinham como prover comida aos seus, mas atualmente virou um grande negócio que ameaça o patrimônio do produtor rural e a saúde da população.

A falta de segurança nas propriedades rurais e provavelmente a precariedade dos serviços de inspeção sanitária, que deveriam fiscalizar mercados, açougues ou outros estabelecimentos que comercializam carnes, colocam em risco tanto a atividade rural, que está desestimulada, quanto a saúde dos consumidores que adquirem o produto sem saber a procedência. O abigeato se tornou profissional porque tudo favorece o ladrão, nesta cadeia abjeta tem, além do próprio, o receptador, o comerciante e principalmente aqueles consumidores relapsos, que não se preocupam em saber a origem do seu alimento.

Quando não sabemos a procedência, certamente corremos um grande risco de entregar aos nossos familiares, a carne de um animal doente com tuberculose, por exemplo, a doença passa do animal para o homem quando ocorre o consumo da carne mal cozida. Outras formas de transmissão da tuberculose para as pessoas, pode ser pela respiração, através do contato direto ou indireto com animais doentes. A transmissão também pode se dar pela ingestão de água e alimentos contaminados, principalmente o leite.

Quando acontece roubo de gado nas pequenas propriedades, praticamente deixa a família de agricultores sem condições de continuar gerando renda no campo, há muitos casos de êxodo rural registrados pela prática do abigeato, onde os bandidos levam tudo. As quadrilhas fortemente armadas, também atacam as grandes propriedades, os fazendeiros com freqüência contratam seguranças particulares com a finalidade de proteger seu patrimônio. No campo jurídico, a figura do abigeato não está tipificada de forma independente, mas abrangida no conceito de furto do Código Penal, previsto no Art. 155 e seus parágrafos. Isso porque animal, para o legislador, é coisa, no caso, “coisa alheia móvel”.

A grande questão é se os governos terão “bala na agulha” para resolver mais esse problema de segurança pública nacional. As forças estão concentradas em conter a delinquência nas cidades, enquanto que no meio rural o serviço é feito por heróicas patrulhas que se perdem nas divisas e na imensidão dos campos. Enquanto a proteção não chega aqui fora, o jeito é falar muito sobre isso nos meios de comunicação, talvez com informação nossos consumidores descuidados queiram saber mais sobre o valor da procedência, caso contrário serão eles os grandes vilões dessa história.

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A carne ovina


       Quando o assunto é a culinária gaúcha, logo lembramos da tradicional carne de charque para o arroz carreteiro e do churrasco, refeições práticas utilizadas nas fazendas e nas tropeadas pelo Brasil afora. Mas também temos a influência das imigrações italiana, alemã, polonesa, francesa, portuguesa, africanas e demais culturas que fazem parte do nosso estado continente. A carne, como fonte de proteína possui identidade alimentar com os vizinhos uruguaios e argentinos promove a qualidade dos rebanhos ovino e bovino.

     Resgatar receitas do meio rural poderia ser uma tarefa complicada se não fosse gratificante. Com a carne ovina por exemplo, a extensão rural desenvolveu um trabalho pioneiro na região, com estímulo a criação e a publicação de um livro com mais de 300 receitas de “Carne Ovina”. O resgate culinário foi realizado na década de 90, em Pinheiro Machado, pela extensionista rural, Neli Ferreira da Silva. O município tradicional na ovinocultura possui atualmente um rebanho ovino superior a 150 mil cabeças, onde os produtores mantêm a qualidade do manejo nas propriedades rurais.

    Com o rebanho expressivo no município é natural a utilização da carne de ovelha como fonte de alimento. Porém foi necessário quebrar o hábito do churrasco de ovelha e incentivar as famílias na utilização de novas receitas. Recentemente, a Emater/RS-Ascar realizou o 1º Almoço do Cordeiro a Cacimbinhas, trata-se de uma receita de carne ovina feita com ingredientes locais, utilizando vinho e azeitonas, produtos destaques do município. O almoço, carne de cordeiro além de divulgar os diferentes tipos de culturas produzidas na região, também incentivou o turismo no local, mostrando diversificação do preparo da carne de ovelha.

Receita:   
      Para otimizar o preparo da carne ovina, os especialistas dão a dica: Na região do pescoço, há carne para panela, ensopado e linguiça; Na da paleta, há para fritar ou ensopar – as carnes desossadas ou fatiadas prestam-se para o churrasco; Na região do lombo, estão os cortes nobres ou a peça inteira usada para o churrasco; Na anca, encontram-se, também, carnes nobres usadas para churrasco; Na região do pernil estão as peças mais nobres dos cortes de ovino – excelentes pratos são preparados com pernil de cordeiro; Na costela e aba da costela situam-se essas e suas pontas, mais o “vazio” (carne sem osso), tipos muito usados na panela ou em churrasco com a peça inteira.



Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

As crianças lá do campo


Foto postada por: Felipe Brandão


Naqueles dias chuvosos bate uma nostalgia gostosa das lembranças e saudades dos tempos de criança lá no campo. Lembro dos amigos de infância e da vontade que tínhamos em brincar, tempos em que divertido era correr, entrar na chuva para se molhar e se atirar de carrinho nas poças d’água depois de uma chuva de verão. O risco era chegar em casa quase a noitinha, cansado de tanto gastar energias e receber um dolorido puxão de orelhas pela roupa molhada e embarrada.

Será que valeu à pena? Tenho certeza que sim. As crianças lá do campo provavelmente eram mais felizes porque tinham a natureza e a inocência como aliados e seus pais eram rigorosos na educação dos filhos. Eu, particularmente nunca apanhei, pois era do grupo dos mais comportados ou daqueles que sabiam fazer a arte na hora certa, tipo “sorrateiro”, no bom sentido. Nem todos tinham a mesma sorte, a disciplinadora varinha de marmelo, com freqüência   riscava as pernas dos calças curtas. 

Mesmo que todas as crianças sejam imaginativas, algumas poucas brincadeiras eram parecidas com aquelas da gurizada da cidade, talvez o jogo de bola, com uma diferença: os do meio rural jogavam com os pés descalços, o tal de tênis era artigo de luxo. Subir em árvores e tomar banho de açude eram minhas artes preferidas, mesmo quando as pernas ficavam tapadas de sanguessugas e tinha que arrancar com os dedos uma por uma. Pra quem não sabe, a sanguessuga é um anelídeo, animal hermafrodita, que possui ventosas e se alimentam geralmente de sangue. No Rio Grande do Sul, os guris do campo chamam de “chamichungas”.

Bah... mas isso era saudável. Mas claro, no meio rural existe um universo imaginativo para as crianças explorarem o faz-de-conta e tudo que existe na natureza possui seu fundamento, aprendi que para qualquer enfermidade ou machucado dos arteiros, ali mesmo nos campos, rios e florestas existe o tratamento adequado, mesmo a grudenta chamichunga é utilizada pela gente da cidade, nos tratamentos medicinais, estéticos e terapêuticos. 

Mas os tempos mudaram e atualmente até os meninos do campo estão esquecendo das brincadeiras e aderindo a modernidade das novas tecnologias. Recentemente, entrevistando alguns pais do meio rural, que nem e-mail possuem ou conhecem, todos relataram que os filhos possuem um perfil no Facebook e, que o Nintendo, o X-Box, o Playstation e outros jogos eletrônicos mais atuais que a moçada conhece, já estão ultrapassados. 

Fiquei realmente preocupado. Será que os meninos do campo estão virando marionetes da tecnologia e estão entregando suas vidas ao controle sem fio e sem volta dos jogos eletrônicos? Se isso estiver acontecendo, certamente vão estar perdendo o encanto de ser criança, daquela que ao abrir a janela reconhece o canto dos pássaros. Acredito que cabe aos pais impor limites e mostrar, que os “bips” são sons forjados pela indústria alienante e que é bom ser criança lá no campo.


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Cancha reta

 
Aos domingos à tarde no interior do Rio Grande do Sul, por muitos anos, a corrida de cavalos foi a grande atração das famílias rurais, alguns municípios gaúchos a cancha reta ainda é preservada, assim como o gosto do homem dos pampas pelos cavalos. A competição é para muitos um acontecimento a parte, na corrida são feitas apostas e os animais são preparados para a “penca”, um termo regional que define a corrida de cavalos numa cancha reta de mais ou menos 700 metros.
 
Ainda lembro da zoiera de uma corrida de cavalos, entre gaúchos pilchados e prendas bem arrumadas, sempre havia algum borracho fazendo fiasco, depois de alguns goles de cana os tauras apostavam até o que não tinham. Guri ou piá, como chamam os pequenos se perdiam na poeira de cada penca corrida e não tinham muitas chances de se dar bem, só olhar o movimento, mas tinha algo que valia a pena: o refrigerante geladinho e o gostoso pastel de carreira.
Ao comando de “se vieram caraco”, cavalos e jóqueis começavam a corrida e daí até o final era uma gritaria só, eu pequenino nunca consegui ver uma chegada, mas me contentava enquanto os grandes comemoravam, em ver o retorno dos competidores. Ali, na cancha reta, aprendi que as raças ou pelagens de cavalos tinham influência no resultado por seu melhor ou pior desempenho, mas até hoje não sei qual a melhor, mas sei que falavam em zaino, tobiano, tordilho, colorado, douradilho, bragado, malacara, gateado, lubuno, rosilho e pangaré, entre outros.
Lembro que patrões e peões tinham suas preferências, mas aplainavam suas diferenças na hora da cancha reta, pois era o momento em que o trabalhador do lombo do cavalo mostrava seu valor e podia ser mais respeitado, um precisava do outro para vencer e receber juntos o prestígio da comunidade. Ser um bom jóquei era tão importante quanto a escolha do cavalo que iria correr, saber conduzir as rédeas era quase um dom e respeitar o adversário também, pois era preciso estar bem preparado e reconhecer as qualidades dos outros e impor seu ritmo até o final.
 
Na cancha reta das últimas eleições assistimos recentemente, um péssimo exemplo de competidores, pois na corrida para ganhar a ordem era sacanear o adversário e desconstruir a imagem do outro para poder mascarar as próprias deficiências. Nesta carreira, eles se esqueceram do público que está ali assistindo e querendo aplaudir o talento do melhor jóquei, aquele que com humildade e elegância põe o que tem de melhor na competição mostrando que tem café no bule e muito pastel de carreira para oferecer.
 
 Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com
 










 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Mato sem cachorro


Foto: Tárcio Michelon


Uma expressão que provavelmente tenha surgido na Inglaterra, onde nas famosas caçadas o cachorro era decisivo na perseguição e apreensão da caça, quando na mata não havia os caninos os caçadores se viam num mato sem cachorros, sem condições de caçar. O dito popular se espalhou pelo mundo e, principalmente aqui entre os gaúchos é muito utilizada para expressar uma situação de extrema dificuldade, em que não se tem ninguém para recorrer, a pessoa tem a sensação de estar perdida, sem saída.

Ao percorrer propriedades do meio rural percebemos que o cachorro é unanimidade, não só para dar as boas vindas pra quem chega na porteira, quando não assusta o visitante, mas para auxiliar o produtor nas atividades campeiras.  Na função de guardião, o cachorro proporciona segurança e qualquer movimento estranho, de dia ou a noite, põe todos na casa em alerta. De acordo com a insistência do latido, o dono já sabe por antecedência do que se trata, não consigo imaginar uma propriedade rural sem cachorro.

Mesmo sabendo da preferência das pessoas por determinadas raças e respeitando as opções, quero falar de uma raça de cachorro que me impressionou, o Border Collie. Numa dessas pautas indicadas por colegas extensionistas rurais fui conhecer o trabalho de um treinador de cães, na Zona Sul do estado, em Arroio Grande. Chegando à propriedade para gravar a reportagem encontrei apenas o dono, o homem veio nos receber montado em seu cavalo, um gaúcho vestido tipicamente com um apito pendurado no pescoço e acompanhado por três Border's, recém treinados.

Ao ver os cães trabalharem com as ovelhas apenas sob o comando do apito do treinador entendi porque o Border Collie é considerado um das raças mais inteligentes do mundo. Cão pastor por excelência, ele adora o ofício de camperiar e apenas um cachorro, bem treinado pode conduzir um rebanho bovino ou ovino, com rapidez e eficiência. A raça possui alguma semelhança com o nosso tradicional cachorro ovelheiro, mas o Border é menor, tem o porte médio e é originário da Grã-Bretanha.

Outras características importantes e valiosas pra gosta de cachorros é a personalidade da raça: perspicaz, alerta, tenaz, receptivo, inteligente, jamais nervoso ou agressivo, trabalha pesado e com grande sociabilidade. Seu comportamento é de extremo companheirismo, cheio de energia e muito brincalhão com as crianças, mas pouco reservado com os estranhos. Assim como a maioria dos cães, o Border Collie adora uma recompensa, especialmente quando envolve elogios e alimentos, lógico. 

Uma raça assim, com tantas qualidades não custa muito barato e o preço pode limitar a aquisição pelo homem do campo. Se bem que aqui nos pampas tem alguns parentes próximos, que também dão conta do recado. Um guaipéca ou cusco e até mesmo um guaiúsco misturado podem ser mais preguiçosos, mas possuem o sentido do companheirismo e fidelidade ao seu dono, com eles sempre por perto, o produtor rural nunca estará sozinho ou num mato sem cachorro.

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Momentos de expectativas



As eleições mexem com as estruturas emocionais das pessoas, o Brasil vive momentos de expectativas, as quais podem se transformar numa oportunidade de mudança para uma vida melhor. O desejo por algo próspero é intrínseco e muito pessoal, pois cada ser humano possui expectativa própria e o tamanho desta pode ser proporcional ou até mesmo maior que a decepção, caso você tenha problemas depressivos.

Ter expectativas na vida é necessário, mas não deixe que estas sejam a razão de tudo. Podemos comparar a expectativa com um caminho e colocar o pé na estrada, sem medo de ser feliz, afinal temos que acreditar nos nossos sonhos porque outros poderão viver aquilo que você deixou de acreditar. A eleição e as escolhas dos seus candidatos devem estar de acordo com suas convicções e não devem ser contaminadas pela influência daqueles que querem que você viva os delírios deles.

Mesmo que nossas expectativas quase nunca correspondam a realidade de nossas fantasias pense, que neste cenário, a angústia não pode ter lugar, caso contrário estaremos transformando as eleições numa batalha. Segundo Karl Kraus, numa guerra partimos da ideia que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou.

Não queremos isso... não é mesmo? Por isso viva suas expectativas de forma serena e tranquila no rumo da sua estrada, que deve ser o caminho do bem, sem ódio e sem rancor no coração. Não tenha receio de ser atencioso demais, carinhoso demais, amante por demais, amigo demais porque os excessos para as coisas boas fazem bem a alma. Agora... não tenha expectativas demais porque é difícil lidar com as frustrações.

A expectativa de obter um sim ou não é um desafio constante em nossas vidas, mas também um casamento com o futuro incerto do qual não devemos ter medo, afinal nosso caminho é feito de múltiplas escolhas todos os dias e começam bem cedinho, logo que abrimos os olhos pela manhã.



Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Sonho de menino


Machu Picchu

Qual é seu sonho de menino ou menina? Ele pode ser único, alguns ou infinitos, pois entendo que nossos sonhos dependem da nossa capacidade de sonhar e correr atrás para realiza-los. Quero compartilhar neste espaço um sonho de menino que há mais de meio século percorre o imaginário de uma vida: conhecer de perto a cultura milenar dos Incas.

Tudo começou numa brincadeira de criança, num tempo em que as alternativas de entretenimento eram escassas, mas a imaginação compensava a falta de opções para uma criança brincar. Bastava ter na mão uma caneta ou lápis, folha de papel e vontade de desafiar os próprios conhecimentos, o jogo era assim: fazia-se traços em forma de colunas e na cabeça delas escrevia-se referenciais como cidade, estado, país, cor, animal, planta, esporte, planeta e quantos mais desejassem. O segundo passo era escolher aleatoriamente uma letra do alfabeto e começar a escrever palavras que começassem com cada referencial.

Não sei ao certo o nome da brincadeira ou jogo de memória, mas sei que jamais esqueci a sensação de em um determinado tempo listar todo o conjunto de referências solicitado. A brincadeira havia iniciado e o jogador da vez disse: escrevam agora palavras que comecem com a letra “C”, sem pestanejar escrevi Cusco para a coluna de cidade, assim como as demais solicitações. No tempo encerrado era hora de corrigir e mostrar o que cada um escreveu.  Hahahaha...esta cidade não existe! riram todos quando mostrei que tinha escrito Cusco, na opção cidade. O meu ponto, não valeu, mas tinha certeza que havia visto no mapa mundial aquela cidade.

Não aceitei a derrota e corri para a biblioteca em busca de informações, que comprovasse meu possível engano.  Lá estava: Cusco (em espanhol Cuzco ou Cusco, em quíchua Qosqo ou Qusqu, que significa umbigo "do mundo) é uma cidade no Peru situada no sudeste do Vale de Huatanay ou Vale Sagrado dos Incas, na região dos Andes, com população de 300 mil habitantes. É a capital do departamento de Cusco e da província de Cusco.

Perdi aquele jogo, mas ganhei um sonho: um dia conhecer a maravilha que meus olhos viram naquela página de enciclopédia. Cusco é uma cidade bastante alta (com 3,4 mil metros de altitude e foi o centro administrativo e cultural do Tahuantinsuyu, ou Império Inca. Templos gigantescos, palácios construídos no século XI ou XII, por um gente dotada de conhecimentos superiores na engenharia, astronomia, agricultura e outras ciências.
Construções perfeitas e em harmonia com o cosmos e a natureza, verdadeiros monumentos antigos que superam e desafiam a modernidade. Tudo isso, agora comprovados com meus próprios olhos em uma viagem a Cusco. Aqueles risos debochados, que me deixaram triste no passado não me chateiam mais, agora foram transformados numa alegria incontida de ter realizado um sonho de menino.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com


sábado, 13 de setembro de 2014

O Saci-Pererê não envelhece



















Saci Pererê foi listado para concorrer a mascote da Copa do Mundo de 2014. (Foto: Montagem/Globo Esporte)
O tempo nos faz esquecer as lições que as lendas nos ensinaram quando crianças. Pena que mudemos tanto, a tal ponto de perdermos as referências boas que aprendemos na infância e que poderiam guiar nosso comportamento, parece que preservamos e cultivamos, com o passar dos anos, sentimentos mesquinhos e heranças malditas como o racismo.
Recentemente presenciamos a triste cena de uma jovem sendo execrada pela opinião pública, quando em um jogo de futebol chamou o goleiro Aranha de “Macaco”. Penso, que ela poderia ser eu, você ou qualquer um de nós sendo flagrado em um momento de emoção, onde a razão não explica, pois ela estava reproduzindo um sentimento trazido pelos antepassados e que nunca desapareceu da sociedade.
Envelhecemos centenas de anos, mal humorados e sem curar nossos traumas. Esquecemos com facilidade do Saci-Pererê, moleque travesso e brincalhão, que na pele de personagem popular alegrava a imaginação da criançada pulando numa perna só, fumando cachimbo e ostentando a touca vermelha. Segundo a lenda, ele vive escondido na floresta onde sua diversão é assombrar os homens maus que destroem a mata e o meio ambiente.
Está aí outra lição que não aprendemos. A ganância do homem continua desmatando a Amazônia, poluindo nossos rios, matas, lagos, praças e o próprio ar que respiramos. É tanta malvadeza que o coitado do Saci, nem na velocidade do seu redemoinho consegue assombrar.  Aliás, a assombração mudou de lado é pai que mata filho, mãe que joga bebê no lixo, homem que bate em mulher e mulher que vira lobisomem. Serão estas as lendas contadas por nossos filhos no futuro? Histórias em que o ranço venceu a alegria? Não quero acreditar.
Prefiro as histórias do negrinho moleque de uma perna só. Aquele com poderes mágicos para bagunçar as coisas, só pra depois encontrar e divertir as pessoas. O Saci-Pererê ficou mais popular quando foi adaptado e ganhou vida nas obras de Monteiro Lobato, onde virou figura querida e nada assustadora no Sítio do Picapau Amarelo. 
A personagem continua por aí fazendo as travessuras que toda criança deveria ter o direito vivenciar. Assim, com espírito serelepe teríamos mais ânimo e preparo para superar as adversidades. Vestir a carapuça do Saci é se despir dos preconceitos e saber que todas as cores, embora diferentes são complementares.   É saber que a convivência é uma arte e que a alegria não pode envelhecer.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com


sábado, 6 de setembro de 2014

Ora vá criar galinhas!


Aquilo que era entendido como um xingamento, quase uma ofensa, hoje pode ser compreendido como uma excelente ideia. A frase “ora vá criar galinhas!” é mais uma herança de provérbios trazidos pelos nossos imigrantes portugueses. O dito popular foi no passado aplicado para a pessoas sem habilidade ou nenhuma capacidade de exercer uma profissão, a não ser para os que, após a aposentadoria, se refugiavam em um sítio e optavam pela criação de galinhas afim de passar o tempo. 

O trabalho feito pela pesquisa agropecuária e a extensão começa a mudar o conceito de atividade passatempo. A avicultura colonial, hoje possui tecnologia suficiente para sustentar famílias no meio rural. O sistema avícola possui linhagens utilizadas para Corte Colonial – Embrapa 041 ou Poedeira Colonial – Embrapa 051, estas permitem aos agricultores, com pequenos investimentos integrar suas produções vegetais com a avicultura. A criação colonial, ainda apresenta outras vantagens como a pouca mão-de-obra e a integração dos jovens na atividade.

A avicultura colonial está muito próxima da avicultura orgânica e pode contribuir para a diversificação das atividades na agricultura familiar, especialmente em regiões onde se pratica a monocultura. A criação minimiza a utilização de agrotóxicos e medicamentos preventivos e, o mais importante contribui para o abastecimento dos mercados urbanos com um produto nobre gerando uma alimentação saudável a população e maior renda aos agricultores.

Neste sistema de produção, a busca é pelo bem estar das aves, com a consequente estimulação do sistema imunológico, diminuindo ou eliminando a necessidade de medicamentos quimioterápicos, desta forma se tem carne e ovos com muito mais qualidade. A alimentação é baseada exclusivamente em produtos de origem vegetal. Recentemente conheci, em Mariana Pimentel, seu Darci Turato, ele planta milho, mandioca, batata doce para utilizar na ração de seus frangos, atualmente, a avicultura colonial é sua maior fonte de renda.

Ao observar os rendimentos do pai, o filho Leandro Turato largou o emprego na cidade e implementou seu próprio aviário. Seguindo as orientações da pesquisa e extensão, as aves são criadas em confinamento, aproximadamente até 28 dias de vida e soltas em piquetes após este período. A diferença entre o manejo colonial e o convencional ocorre principalmente após este período, quando as aves terão livre acesso, a um piquete ao redor do aviário, com sombra e espaço para caminhar livremente. 

Em cada lote de criação, eles recebem cerca de 500 pintinhos, com apenas um ou dois anos de vida. Ao final de três meses cada um deles pesam mais ou menos três quilos, durante este tempo não existe perda de aves, devido manejo adequado. Pai e filho conseguem criar 3000 aves por ano e os compradores buscam na granja. Agora... você, amigo leitor, procure se informar quanto eles recebem por um produto dessa qualidade e se lhe disserem “ora vá criar galinhas!”, entenda como uma oportunidade de ganhar dinheiro.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Espaço de convivência

Foto: Marco Antônio/Secom
 
Para quem vive na cidade, os conceitos de espaço de convivência são fundamentais para uma relação harmoniosa entre as pessoas. As regras de respeito mútuo e do com viver podem começar no local de trabalho e estender-se aos ambientes de lazer. As praças arborizadas com bancos, tabuleiros de xadrez, equipamentos de ginástica, pista de skate, de ciclismo e esportes da moda reúnem grupos ou tribos de várias idades, credos e ideologias. São espaços para o trabalho e lazer que se complementam e agradam quem vive nos centros urbanos.
Estariam faltando espaços de convivência no meio rural? Recentemente em um dia de campo realizado no interior de São Lourenço do Sul, um conceito ficou claro:  O meio rural deve ser entendido como um modo de vida e não apenas como um espaço de produção, nesta ideia é no rural que o agricultor constrói sua relação com o trabalho, constitui família, faz amigos, participa dos grupos, associações, cooperativas e vive em comunidade.
A outra percepção diz respeito a preservação ambiental, o bom manejo dos recursos naturais torna o espaço de convivência das famílias mais aprazível e até mesmo lucrativo no sentido financeiro e da saúde das pessoas. Lugares com a natureza em harmonia, dificilmente são deixados para traz, comumente o campo é abandonado quando o próprio homem destrói os recursos naturais ao fazer o desmatamento e ao realizar práticas inadequadas de conservação do solo.
Embora não seja uma regra, isso está longe de ser uma utopia. Encontramos numa colônia de imigrantes alemães, localidade chamada Passo do Pinto, em São Lourenço do Sul, a família Radke e neles quero referendar como um exemplo, entre tantos outros da região sul. Na propriedade de economia familiar do casal Edwino e Ivone possui a principal atividade na bovinocultura de leite, as práticas de pastoreio rotativo em piquetes, a alimentação complementada com silagem e o tratamento homeopático dos animais mostram os sinais de avanços dos agricultores familiares na adoção de sistemas agroecológicos de produção. 
O agricultor Edwino Radke falou a um grupo de visitantes em sua propriedade que ele e a esposa Ivone dão contado recado, porque a propriedade está organizada de acordo com suas necessidades. A agricultora Ivone comemora os resultados e as melhorias nas condições de vida do casal. Ela conta que com a renda do leite e dos hortigranjeiros compraram um resfriador de leite, um trator novo e um automóvel zero quilometro. Os filhos saíram, mas não para a cidade, eles também são agricultores e moram por perto, disse a mãe agricultora entusiasmada.
Assim entendo que respondi a pergunta, pois não faltam espaços de convivência no meio rural, mas sim um modo ou filosofia de vida.
 
Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Árvores com personalidade



Quem disse que as árvores não tem personalidade? Acredito que tenham, assim como os seres humanos, elas possuem multiplas personalidades, com a vantagem de viver centenas de anos contribuindo com funções valiosas ao proporcionar qualidade de vida para as pessoas e equilíbrio da natureza.

O certo é que a arborização exerce papel de importância fundamental nos centros urbanos e no meio rural. Nas cidades, as árvores influenciam o clima, a qualidade do ar, atuam sobre o nível de ruídos, melhora a estética das ruas e avenidas, no equilíbrio da temperatura, na proteção do lençol freático, embelezam a paisagem, fornecem sombra e são o refúgio certo e indispensável à fauna remanescente nas áreas urbanas.

Mas é no meio rural que elas parecem ter um valor maior, muito mais do que promover o equilíbrio ambiental, elas são utilizadas diretamente pelos agricultores em construções de casas, galpões, cercas, utensílios e ferramentas de trabalho. O conhecimento vem dos antepassados que desbravaram os pampas e ali encontraram uma natureza exuberante.

Lembro de algumas muito faladas pelas suas utilidades: Corticeira, Angico, Guajuvira, Pitangueira, Aroeira, Figueira e a Amoreira, que até hoje enfeita, dá frutos e uma bela sombra nas tardes quentes de verão lá de casa. Já vi muitas espécies enfeitarem as entradas das estâncias e dizem ainda, que os índios plantaram as frondosas as Figueiras que existem ao longo da Costa Doce, para marcar o caminho a ser seguido.

Talvez você já ouviu falar que para uma trama ou moirão, capaz de segurar touros, nada melhor que a personalidade do Angico; para amarrar potros e aporreados, a preferência é pela Guajuvira; numa boa brasa para o churrasco, nada melhor do que Espinilho; como esquecer a sombra do Cinamomo e das Pitangueiras carregadas de frutos, que viravam obras de arte aos olhos e nas mãos do artista, em um final de tarde ensolarado.

As árvores tem personalidade e ainda são autossuficientes, mesmo sem se mover, elas vivem muito bem e se viram sozinhas. É necessário que tenham apenas os recursos básicos para sobreviver, água, luz, nutrientes e o que podem retirar do ambiente em sua volta. Provavelmente, o homem é sua maior ameaça.

 

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

 

domingo, 17 de agosto de 2014

Boa tarde senhora Aroeira!

 

Conhecer plantas nativas é uma habilidade que me falta e uma fraqueza que me acompanha pela vida. Identificar uma árvore entre centenas de milhares na natureza sempre foi uma tarefa mais apropriada para agrônomos, engenheiros florestais, biólogos, botânicos, técnicos agrícolas, índios, agricultores, gente que vive ou estuda a natureza. A um jornalista, mesmo com conhecimentos técnicos, o que atraí são as histórias.

Pois bem... tá ai uma planta que eu respeito, a senhora Aroeira, talvez por não identifica-la em meio a tantas árvores de uma floresta. Na verdade, sempre fui avisado quando me aproximava de uma, quando entrava na mata, logo vinha o alerta: Ao passar pela Aroeira demonstre respeito e fale o tempo ao contrário: se for de manhã diga “boa tarde senhora Aroeira e à tarde diga “bom dia senhora Aroeira”. Lenda ou não conheci algumas pessoas que ficavam com coceiras insuportáveis e brotoejas. Ao não cumprir o ritual, a pessoa adoece com sintomas de muita febre e visão turva, coisa muito parecida com o sarampo.

Segundo o que aprendi, o segredo consiste em manter pouca distância e muito respeito com a dita cuja, como se apresentasse diante de uma divindade. O cuidado, nesse momento é que não se deve nem pestanejar e se possível repetir três vezes o cumprimento às avessas, desta forma não precisa temer o mal da planta. Dizem que a Aroeira possui eflúvios que excitam de tal maneira o sangue de algumas pessoas, que, só por passar por baixo desta árvore, ou mesmo perto, adoecem de um modo alarmante.

Na vida conhecemos pessoas tipo Aroeira que nos causam coceiras e por vezes nos deixam doentes por emanarem fluídos negativos, prejudiciais à nossa saúde, não é verdade? Dessas é melhor manter distância e trata-las com respeito, humildade e precaução. Como diz aquele velho ditado português: “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

 

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

 

sábado, 9 de agosto de 2014

Aperto de mão


Ao ouvir a notícia que hospitais nos Estados Unidos estavam por aprovar uma lei que proíbe o aperto de mão entre profissionais da saúde e os pacientes fiquei surpreso com a quantidade de doenças de um ato, que para muitos é cheio de simbologia e, que ao mesmo tempo pode trazer prejuízos sérios para aqueles que em recuperação nas unidades de tratamento. Como lidar com a situação quando, dependendo da cultura, o gesto social é um relevante modo de expressar, confiança, afinidade, amizade e sentimentos entre os seres humanos.

O aperto de mão, na maioria dos países,  pode ser uma saudação ou um cumprimento que, seguido de um acordo verbal ou informal sela um compromisso entre as partes. Também é símbolo na concretização dos acordos formais assinados entre as pessoas ou instituições. No Rio Grande do Sul, principalmente entre os homens, o aperto de mão é mais que uma maneira de cumprimentar é um gesto que demonstra parceria ou respeito pelo outro. No entanto, em outras culturas, os mesmos significados são representados pela troca de beijos nas faces. Exemplos estão bem próximos, nossos vizinhos uruguaios ou mais distantes como o povo árabe.

O sorriso seguido do aperto de mão comunicam mais do que aparentam e são ricos em significados. Estudos realizados em 2008, do Journal of Applied Psychology, com centenas de estudantes mostram jovens que se submeteram a entrevistas para conseguir emprego fizeram parte de uma pesquisa, com recrutadores profissionais. Descobriu-se que havia uma forte sobreposição entre o grupo dos que receberam boas avaliações dos recrutadores e o grupo dos que tinham os apertos de mão melhor avaliados. Análises creditaram ao aperto de mão um efeito da extroversão do aplicante nas recomendações de contratação dos recrutadores.

Mesmo com este gesto tão positivo na vida das pessoas, a ameaça persiste. De acordo com a Unicef e a Organização Mundial de Saúde (OMS), a lavagem das mãos com sabonete pode reduzir infecções diarréicas em até 40%. Outro dado alarmante veio da Universidade do Arizona (EUA), esta constatou que o celular pode ter 10 vezes mais bactérias do que vasos sanitários. Meu Deus! Agora estamos mesmo perdidos, o celular que é quase uma extensão de nossos braços.

No mundo contemporâneo vivemos compartilhando tantos objetos, que até fica difícil de contar, pois imagine a condição das suas mãos se você não tiver uma higiene adequada. Na maioria das vezes é inevitável “conviver” com esses riscos, assim como é da natureza ter bactérias, vírus e fungos por todos os lados. 

Para evitar uma série de doenças a prevenção mínima fundamental é a higiene das mãos. Considerando o contato que temos com objetos contaminados e, também a necessidade de preservação deste gesto tão representativo e necessário entre as pessoas, o aperto de mão. 


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mão na roda


Nestes dias chuvosos de inverno sempre encontramos pessoas em dificuldades, principalmente quando acontecem temporais, ventos e mais recentemente as enchentes que deixaram desabrigadas mais de 20 mil famílias no estado. Voltava para casa, depois de um dia de trabalho dirigindo com cuidado para não lamear os pedestres já molhados na calçada. De repente, um senhor meio curvado e cheio de sacolas acena levanta o braço e acena me pedindo uma carona. Parei sem pestanejar, quando ele entrou disse: “Obrigado meu filho foi uma mão na roda”.

Se você ainda não ouviu o termo, “mão na roda” saiba que ele é bem coloquial, normalmente é utilizado para designar uma ajuda de grande valor. Um sinônimo para mão na roda pode ser “quebrar o galho”, quando um indivíduo ajuda o outro e o auxílio humanitário pode representar algo de extrema importância. Fiquei pensando... como é bom poder ajudar alguém a superar uma barreira, pois quem de nós já não passou por algum tipo de dificuldade na vida? As vezes, um gesto, uma palavra, um auxílio material, uma carona ou até mesmo emprestar o ouvido para um desabafo pode ser uma mão na roda.

Existe uma explicação para o termo mão na roda, pois dizem que antigamente, quando os carros possuíam tração animal e atolavam nas estradas, não havia solução a não ser pedir auxílio a outras pessoas, qualquer uma que passasse e pudesse ajudar, então todos colocavam a “mão na roda”, fazendo um esforço para tirar o veículo da lama, por isso o termo tem o sentido de ajuda, auxílio, que se presta a alguém. Geralmente é um préstimo de grande valor para quem recebe.

Em tempo de modernidade aparecem guias e manuais de grande utilidade para o cidadão. Em São Paulo, por exemplo existe o Blog Mão na Roda – Guia de sobrevivência do cadeirante cidadão, um tipo de orientação atualizada para os portadores de necessidades especiais, que mostra locais dotados de acessibilidade. A ferramenta de comunicação presta um serviço indispensável, uma mão na roda para quem possui dificuldades de locomoção e necessita ter uma vida cidadã. Uma iniciativa de um grupo de pessoas que serve de exemplo para governos desatentos.

As novas tecnologias também são referências de ajuda prática e eficiente, o surgimento do GPS proporcionou aos cidadãos grande facilidade de orientação para chegar a algum lugar, de automóvel ou mesmo caminhando, pois hoje a ferramenta já faz parte da telefonia móvel e está disponível nos aparelhos celulares. Não podemos esquecer os tradicionais manuais de instrução, peças impressas que acompanham vários tipos de mercadorias, principalmente os eletrodomésticos.

Com tantas facilidades oferecidas para auxiliar os cidadãos consumidores não é difícil confundir as intenções. É claro que existem interesses comerciais por traz dos tais “guias práticos”, os fabricantes tornam as coisas mais fáceis para estimular o consumo. Ainda prefiro o tipo de ajuda nostálgica, do tipo humanitário, da origem do termo “mão na roda”, em que as pessoas arregaçam as mangas para auxiliar o próximo.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com