sexta-feira, 26 de abril de 2013

Heróis da resistência



No município de Barra do Quarai, localizado no canto esquerdo alto do mapa do Rio Grande do Sul, onde o Brasil faz fronteira com o Uruguai e Argentina existe um amplo predomínio de grandes propriedades com o cultivo extensivo do arroz e criação de gado. Cercada por latifundiários, a família Araújo, descendente de quilombolas, resiste o cerco e ao tempo criando bovinos e ovinos em uma pequena área inserida no Bioma Pampa. Foi neste contexto que produzimos uma reportagem sobre o projeto RS Biodiversidade, o qual faz parte de uma das políticas do Estado para a proteção e conservação dos recursos naturais. O projeto busca promover a incorporação do tema biodiversidade nas instituições e comunidades envolvidas.
Na localidade de Guterres, conhecemos o pecuarista familiar, Camilo Araújo Filho. Ele a esposa e mais três irmãos com suas famílias, desenvolvem as atividades de pecuária em uma área com 31 hectares utilizada na criação de 23 bovinos, 160 ovinos e 02 eqüinos. A propriedade é quase totalmente aproveitada. São 29 hectares divididos em piquetes sendo manejados no Sistema Voisin, uma tecnologia considerada ecológica por preservar formas de vida que podem sobreviver na pastagem e no solo. Seu Camilo, a cada dois dias troca os animais de piquete e garante que eles estão ganhando peso.
Os princípios do trabalho desenvolvido pelas instituições respeitam a manutenção do modo de fazer local, preservando os costumes das famílias e incentivando a ampliação de espécies características do lugar. Para o extensionista da Emater/RS-Ascar, Claudio Marques Ribeiro, o projeto valoriza o conhecimento dos produtores e busca juntamente com eles, as alternativas dentro das possibilidades existentes. A implantação de plantas nativas da região é outro trabalho feito na propriedade e que tem parceria da Sema. A bióloga, Tatiane Uchoa realiza o plantio de espécies para melhorar o solo e proporcionar sombras para os animais. Como exemplo cita a coronilha e o espinílho.
Na pequena propriedade de atividade tipicamente familiar são visíveis os resultados observados pelos técnicos, entre eles são destacados o padrão de sanidade do rebanho, o real ganho de peso, a sementação do campo, o florescimento de espécies que antes não cresciam, o domínio do ser humano sobre a técnica de manejo, a construção e apropriação do conhecimento entre técnicos, produtores, comunidade e instituições.
A família Araújo, mesmo cercada por grandes propriedades resiste heroicamente na atividade e de quebra ainda mostra aos latifundiários que, os pequenos podem viver com dignidade e seguir as normas de preservação, sem agredir o meio ambiente.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com



sábado, 20 de abril de 2013

Parábola do Velho Lenhador



A parábola pode ser compreendida como uma narração figurativa, na qual por meio de comparação, o texto nos proporciona entendimento de outras realidades, tanto fantásticas quanto reais. A experiência dos mais velhos, por exemplo, é muitas vezes desvalorizada e revestida com a conotação de algo ultrapassado. Assim como as pausas para o descanso podem ser entendidas como sinais de fraqueza ou cansaço, quando na verdade se configuram em excelentes estratégias para melhorar o desempenho.

A parábola do Velho Lenhador ilustra bem o valor do saber experiente sobre a força física e a importância de estarmos sempre afiando nosso “machado” na fé, na vida pessoal e na profissão que exercemos. Diz a parábola: “Certa vez, um velho lenhador, conhecido por sempre vencer os torneios que participava, foi desafiado por outro lenhador jovem e forte para uma disputa. A competição chamou a atenção de todos os moradores da localidade. Muitos acreditavam que finalmente o velho perderia a condição de campeão dos lenhadores, em função da grande vantagem física do jovem desafiante.

No dia marcado, os dois competidores começaram a disputa, na qual o jovem se entregou com grande energia e convicto de que seria o novo campeão. De tempos em tempos olhava para o velho e, às vezes, percebia que ele estava sentado. Pensou que o adversário estava velho demais para a disputa, e continuou cortando lenha com todo vigor.
Ao final do prazo estipulado para a competição, foram medir a produtividade dos dois lenhadores e pasmem! O velho vencera novamente, por larga margem, aquele jovem e forte lenhador.
Intrigado, o moço questionou o velho: Não entendo, muitas das vezes quando eu olhei para o senhor, durante a competição, notei que estava sentando, descansando, e, no entanto, conseguiu cortar muito mais lenha do que eu, como pode!
- “Todas as vezes que você me via sentado, eu não estava simplesmente parado, descansando. Eu estava amolando meu machado…”.

A lição serve para muitas situações que enfrentamos na vida. Às vezes baixamos a cabeça e nos desgastamos fisicamente sem nos darmos conta que para quase tudo existe uma boa estratégia. Ainda para contribuir deixo aqui um antigo Provérbio Chinês: “Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado."


Ilustração: Wilmar Marques
Marco Medronha          mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 12 de abril de 2013

As cobras entre os humanos


Ilustração: Wilmar Marques

Aprendemos desde crianças a temer as cobras. O mito da víbora, serpente ou simplesmente cobra assusta mais do que esclarece. Dia desses lembrei-me de um fato verídico acontecido entre dois agrônomos; um extensionista e outro pesquisador, ambos estabelecidos, contemporâneos de escola e parceiros na vida profissional. O que pesquisava tinha tanto interesse em cobras que resolveu ter uma coleção no pátio de sua casa, a fim de melhor estudá-las.

O tempo passou e num certo dia, o agrônomo extensionista foi visitar o colega pesquisador. Este, o recebeu na varanda que dava para o pátio e pediu que ficasse à vontade, pois iria preparar o chimarrão. Alguns minutos depois, o visitante quase não acreditou quanto viu uma cobra se mexendo em sua direção, ele rapidamente pegou um pedaço de madeira e acertou a cobra na primeira paulada. Quando o anfitrião voltou com o mate encontrou o amigo com a cobra enrolada na ponta da madeira, este a mostrou como um troféu, dizendo: - Olha aqui parceiro! Livrei a ti e tua família de uma picada de cobra. De suposto herói virou vilão na hora, quando o dono da casa disse: - O que tu fez seu monstro! Matou a Filomena... Minha cobrinha de estimação!

Na verdade os humanos são mais perigosos que as cobras. Segundo dados de boletins epidemiológicos, os óbitos no Brasil por picada de cobra são inferiores a 150 vítimas por ano. Ao contrário desta estatística, milhares e milhares de pessoas são assassinadas anualmente no país. Na lógica deveríamos temer muito mais os seres da nossa própria espécie. Bem... O termo “cobra”, também é utilizado para designar alguém muito bom no que faz ou, com mais freqüência, para referir-se a alguém muito traiçoeiro. Pura injustiça com as cobras de verdade, pois elas só atacam e gastam seu veneno quando se sentem ameaçadas com a aproximação de alguém ou quando pisam sobre elas.

Outro dado que muitas pessoas desconhecem sobre algumas espécies peçonhentas é que elas contribuem grandemente para salvar vidas. As cobras possuem propriedades farmacológicas descobertas no seu veneno.  Um exemplo é um anti-hipertensivo isolado do veneno da jararaca, criado na década de 60, ainda amplamente utilizado. Além de outros como a cola para fins cirúrgicos, obtido com o veneno da serpente.

Por isso, antes de sair por aí matando cobras é melhor pensar em conhecer melhor esses importantes animais para a humanidade. Quem sabe mudar os conceitos e pensar em preservar algumas espécies, já ameaçadas de extinção. Porém, não devemos ignorá-las:
- Ao encontrar o animal no seu habitat é recomendado deixá-lo em paz e avise as pessoas que estiverem próximas sobre a localização da cobra.
- Em área urbana deve-se procurar o telefone de órgãos que capturam esses animais (Bombeiros, Centros de Triagem e etc...). Lembre-se que as serpentes são animais importantes nos ecossistemas e é crime matar animais silvestres.
- Quando for picado procure manter a calma e busque socorro o mais rápido possível. O soro antiofídico e o médico em um ambiente hospitalar são as melhores alternativas. Informe-se e leia bastante sobre o assunto, pois existem muitas lendas sobre procedimentos.


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com 

domingo, 7 de abril de 2013

A insensatez do deboche


Nas observações que fazemos do cotidiano, nada é mais rico do que ficar atento ao comportamento dos seres humanos. O modo de ser e de agir das pessoas podem trazer encantamento, surpresas positivas ou, não raramente, desencantos e decepções. Quando se trata da ação, na forma explícita de diminuir o próximo, principalmente os mais humildes, aí chegamos ao desrespeito, à falta de cultura, talvez de sensibilidade e ao deboche.

Algumas vezes fiquei indignado ao ver a simplicidade do homem ou da mulher do campo sendo motivo de chacota e risos, procedimentos impróprios daqueles seres incultos que não sabem enxergar as virtudes do outro. O ato de debochar denota a má conduta, a ausência de regras, o desprezo ao igual e a desconsideração com gente de muito valor. Minha indignação estende-se a todos que sofrem algum tipo de bullying com agressões psicológicas.

A insensatez do deboche, infelizmente, ganha espaço na mídia e arrasta na sua onda, uma legião de debochadores, muito mais preocupados em zombaria do que levar informação aos ouvintes ou telespectadores. Existem emissoras de rádio e TV, que confundem bom humor com a insistente forma de desculturamento ao seu público, em nome do chamam de entretenimento.

Concordo que devemos ter momentos de descontração, na roda de amigos, ver ou ouvir um bom programa de humorístico, curtir o aprendizado dos filhos, netos, tirar uma onda do rival no futebol. Enfim... São tantas as formas que podem nos proporcionar momentos de prazer e alegria sem agredir a dignidade das pessoas. Valorizemos sim a auto-estima, a cultura e o valor de cada cidadão para que tenhamos mais decência e menos deboche.

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com