sábado, 17 de agosto de 2013

Capão da Amizade


Capão é uma formação vegetal típica da região Sul do Brasil. Para quem é do meio rural, provavelmente conhece como um “mato pequeno” isolado ou agrupados em meio aos campos. No novo Dicionário da Língua Portuguesa, segundo Ferreira (1986),  diz que capão “Consiste em um grupamento de vegetação arbórea cercada por campinas”. Grande ou pequeno, ele já deu nome para alguns municípios do Rio Grande do Sul. Temos, por exemplo: Capão do Leão, Capão da Canoa, Capão do Cipó, Capão Bonito do Sul e Muitos Capões. 

Relembrando os tempos de guri, quero falar de um capão que conheci e pude vivenciar o crescimento de uma comunidade em sua volta, o Capão da Amizade, no município de Cristal. Um mato de formato arredondado, de vegetação variada, entremeada com pedras grandes e pequenas, onde algumas delas são suportes para  crescimento de árvores que derramam suas raízes sobre as pedras, formando desenhos e arranjos tão belos que só a natureza proporciona. Na lembrança tenho na memória uma floresta, pois o capão, como era chamado, parecia um mato muito grande, no qual me deliciava ao sentir o frescor da relva, em subir nas árvores, nas pedras, se embalar nos cipós e até mesmo levar pra casa, barba-de-pau para enfeitar o pinheirinho no natal.

Nunca deixei de visitar o Capão da Amizade e num dia desses estive lá. Fiquei feliz ao vê-lo preservado, com calçadas e ruas de concreto ao seu redor. A comunidade, formada pelos órgãos públicos e seus habitantes, entendeu que aquele capão é um patrimônio com valor ambiental e cultural, faz parte da história dos cristalenses. Durante muitos anos, na formação do povoado até passar a categoria de vila, as festas realizadas no Capão da Amizade ergueram, entre tantas obras, as igrejas, escolas e salões comunitários. Das festas mágicas do Capão surgiu a amizade entre as pessoas e a vontade de estarem próximas na construção de uma cidade, que bem poderia se chamar Capão do Cristal. 

Bons tempos aqueles... em que as pessoas se encontravam para conversar e  juntas buscavam o entendimento. Compadres e comadres se respeitavam e trabalhavam pelo bem comum, sem reclamar. E tinha também muita diversão: O jogo da argola, do porquinho da índia, do tiro ao alvo, da roleta de prêmios, da pescaria na caixa de areia, da banda tocando, dos barris de chopp, dos sucos e guaranás. Um palco feito de tábuas plainadas era o espaço das apresentações artísticas, onde gaúchos e prendas dançavam nossas melhores canções folclóricas. Sem esquecer que pelos caminhos de subidas e ladeiras, sob um teto de folhas, desfilavam rapazes e moças à procura de um olhar insinuante a fim de começar um namoro ou uma simples e sincera amizade.

Muitas pessoas que conheceram e passaram pelo Capão da Amizade, possivelmente vão lembrar com carinho daquele lugar. Em outras, o sentimento pode ser de medo quando passaram pelo mato na noite  escura. Para alguns, mesmo em  dia claro, o capão  nada representa, talvez por não terem vivido numa época que mesmo na simplicidade as pessoas eram evoluídas e os contatos pessoais eram mais importantes.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

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