segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Humildade

Nesta semana visitei Santana da Boa Vista, município em que foi realizado um curso para educadores, lideranças locais e agricultores familiares sobre o tema biodiversidade. Conhecer a realidade local da flora, fauna, bem como  aspectos culturais, sociais e econômicos com vistas a a presenvação e produção sustentável  foi  a ideia central da capacitação. A Serra das Encantadas possui formações rochosas e vegetação variada, rica para o estudo do Bioma Pampa.
Entre tantos temas relavantes do curso, que prevê também o auto conhecimento, um pensamento gravado a ferro quente em um couro bovino, na entrada do Galpão Anita Garibaldi, chamou-me a atenção: “Ao entrarmos neste galpão pendura no cabide de tua humildade, tuas diferenças e preconceitos e se mesmo assim preservares algum orgulho, que seja o de ser gaúcho”. Para mim ali estava a primeira lição para quem vai participar de algum grupo onde a troca de conhecimentos é fundamental na construção de um aprendizado consciente.
Ao buscar mais significados para humildade, investiguei dicionários e descobri por exemplo, que o termo humus vem do latim  e significa "filhos da terra". Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é considerada pela maioria das pessoas como a virtude  que dá o sentimento exato do nosso bom senso ao nos avaliarmos em relação às outras pessoas. Tais características são marcas atribuídas ao povo gaúcho e principalmente a aqueles que moram no campo, qualidades como a cordialidade , o respeito , a simplicidade e a honestidade .
Poderia trazer para reflexão personagens famosos, os quais  através dos tempos registraram em textos, escritos marcantes sobre a humildade. Mas prefiro relembrar a contribuição de alguém mais próximo do nosso tempo, a brasileira Cora Coralina, poetisa e cientista considerada uma das mais importantes escritoras do nosso País. A mulher simples do meio rural deixou seu legado literário escreveu, em forma de oração:

Humildade
Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.

Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.

Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.

Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
Cora Coralina

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Nascimento do Guri

Numa cidade da Zona Sul, o agricultor José Brasil trabalhava como carpinteiro. O ofício que escolheu para sustentar a família, não era suficiente para o viver dignamente, pois era obrigado a pagar pesados impostos ao governo a fim de manter-se dentro da regularidade. Ele tomou a decisão de voltar para o campo e rumou para as suas terras, as quais estavam arrendadas a um parente, afim de retomar sua antiga profissão. A esposa, Maria esperava pelo nascimento de um menino.
Os amigos e compadres, Zacarias e Isabel foram solidários e, emprestaram-lhes o velha camionete Rural Willys, onde coube toda a mudança de José e Maria. O casal rumou pela estrada poeirenta do interior com um novo sonho: Cultivar a terra com sustentabilidade, produzir alimentos saudáveis para alimentar  a família, vender o excedente e criar os filhos dentro das leis de respeito à natureza e o meio ambiente.
Para a realização de sonhos é preciso sacrifícios e determinação, a familía enfrentou dificuldades na viagem de volta. Além das condições ruins do veículo, que estragou e das estradas esburacadas, Maria já sentia as dores do parto, a criança estava pra nascer. Em volta, só campo e animais foi quando José avistou uma casinha abandonada, uma típica tapera com um pomar de pêssegos improdutivo. Foi ali que o Guri enrrolado em um ponche nasceu, a cama era um pelêgo. Em sua volta os bichos de criação: ovelhas, cabras, vacas, porcos e até um cusco guaipéca fazia festa com os outros animais.
Aquele movimento chamou atenção do repórter Gabriel, que passava de motocicleta pelo local rumo ao trabalho em sua rádio comunitária. Ele reconheceu a família abençoada, como antigos vizinhos do lugarejo e através do microfone anunciou: “Bom dia amigos e amigas... Hoje, dia 25 de dezembro é um dia feliz para nossa comunidade, José e Maria voltaram, junto com eles uma criança que irradia luz, um Guri com brilho diferente.
Os moradores do lugarejo ouviram o anúncio do rádio e correram para a tapera abandonada, com a finalidade de auxiliar e saudar o retorno dos velhos  amigos. Todos louvaram o menino, como sinal de esperança e renovação.
A semelhança dessa história e das personagens, com o nascimento do menino Jesus, não é mera coincidência. Feliz Natal aos leitores do Repórter Rural.

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Associação do conhecimento


Exemplos de associações com pessoas que se agrupam para superar desafios são comuns e conhecidas como práticas antigas no mundo social, embora cada nova  forma associativa tenha suas peculiaridades e venha soar como novidade para os indivíduos de um grupo. A associação é uma estratégia de fortalecimento das minorias para enfrentamento das desigualdades, inclusive entre os outros animais.

De uma maneira geral, a associação é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne pessoas físicas ou outras sociedades jurídicas com objetivos comuns, visando superar dificuldades e gerar benefícios para os seus associados. É também caracterizada como uma forma jurídica de legalizar a união dos sócios para conseguir recursos na aquisição de bens e serviços que possam trazer a melhoria da qualidade de vida e o bem estar coletivo.

No meio rural as associações permitem a inclusão social de muitas famílias no mercado e através delas a possibilidade de comercialização de suas produções. Conheci na localidade de Alto Bonito, uma associação que possuía algo diferente: A associação do conhecimento. Os produtores rurais desta região possuem em comum a pecuária familiar e através da associação compram insumos e vendem o gado. Mas afinal, onde está a diferença? Está no processo de criação dos animais em uma área biodiversa, onde técnicos e produtores manejam o gado com base na observação dos fatores naturais da flora, fauna e clima.

No trabalho da Associação dos Produtores do Alto Bonito, não existe hierarquia de conhecimentos dos facilitadores do processo, pesquisadores da Embrapa ou dos extensionistas da Emater/RS, sobre os agricultores. Existe uma união de conhecimentos históricos adquiridos pela comunidade com as ciências agrárias a serviço do respeito à biodiversidade de cada local. Os agricultores passam a conhecer melhor a sua área e realizam o manejo com o gado respeitando cada especificidade, ao mesmo tempo que compartilham com os demais associados e técnicos.

Os resultados são consistentes e ajudaram manter a integridade do Alto Bonito, entre eles: A preservação os recursos naturais da região; A auto capacitação dos agricultores familiares; A democratização do conhecimento; O fortalecimento da comunidade;  A melhoria da qualidade de vida dos associados através da compra conjunta de insumos e comercialização da pecuária.

Alto Bonito pertence ao município de Pinheiro Machado e faz parte da chamada Serra do Sudeste, diversa em formações vegetais devido, especialmente, à sua variação geológica. Destacam-se afloramentos rochosos, considerados de extrema prioridade para a conservação.


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Senhas



Um dia desses precisei digitar uma senha e não lembrei da combinação, após tres tentativas frustradas bloquei a conta. Isso possivelmente já tenha acontecido com você,  o inconveniente de ter esquecido os digitos da senha. Nada anormal, pois com tantas combinações que utilizamos diariamente... Eu mesmo contei pelo menos 20 senhas que utilizo com frequência: Senhas de bancos, do computador, do facebook, do msn, do skipe, do cartão de crédito, do alimentação, do combustível, do cadeado e lá se vai. Muitas dessas dobradas, com letras e números.

No conceito tradicional, senha é uma palavra ou código secreto previamente convencionado entre as partes como forma de reconhecimento. Em sistemas de computação senhas são amplamente utilizadas para autenticar usuários e conceder-lhes privilégios — para agir como administradores de um sistema, por exemplo — ou permitir-lhes o acesso a informações personalizadas armazenadas no sistema. No meu entendimento a senha é um conjunto de carecteres combinados (letras e números) utilizados para acessar bens,  serviços, buscar informações e até para comunicar-se, acreditem. As pessoas hoje, mesmo no mesmo ambiente, conversam pelas redes sociais.

Como era a vida antes das tecnologias da informação? Na contemporaneidade vivemos cercados de números e letras e, necessariamnete as ações implicam no uso de senhas para chegar a um objetivo. Com certeza vivemos tempos de relações frias, mediadas  por códigos de defesa para proteger o cidadão em seus atos rotineiros. A senha é pessoal, intranferível  e foi criada para dar segurança ao usuário. Por isso, existe o conceito de senha forte ou fraca, quanto mais complexa, mais impessoal, menos possibilidade de ser violada.

Penso que a senha mais forte é também a mais simples e está dentro de nós. A senha do coração, não pelo fato de ser um órgão vital, mas sim pelo sentimento que carregamos nele. O segredo para uma vida segura, não está na complexidadede  e na dificuldade para os outros e sim na simplicidade de ações e atitudes, exemplos deixado por Jesus, há mais de 2000 anos. Através da senha do coração, ele mostrou que caminho para acessar a felicidade é compartilhar a sua senha com outros. Entre todas as senhas, a do coração nos ajuda a ser inviolável e conviver com todas as outras.

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Uma vez pato...


Quem são estes indivíduos carentes em reviver momentos de quando a vida era uma incógnita? Digo que eram um bando de sonhadores, que viviam contrariados com o regime, criaturas aladas forjadas pela disciplina. Em tempos de escassez de recursos, sobrava juventude e muito companheirismo. São patos, uma classe migratória com talentos multiculturais espalhados pelo mundo, lideranças formadas para construir realidades.
Os patos não esquecem suas origens, procuram estar junto em pequenos grupos e, a fim manter os laços de amizades realizam pequenas reuniões com freqüência. Eventualmente, quando a saudade aperta o bando de patos promove encontros é o momento especial para que cada membro do grupo mantenha acesa a chama que o tempo insiste em transformar. No encontro deste mês de novembro (24), em Pelotas, os velhos patos, alguns avós, reviveram o jargão: Uma vez pato, sempre pato!
O pato é o símbolo do Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça, escola que tradicionalmente, formou profissionais das ciências agrárias e da economia doméstica rural teve origem em outubro de 1923, sob a denominação de “Patronato Agrícola do RS”. Atualmente é o Campus Pelotas – Visconde da Graça (CAVG), um dos Campi vinculado ao Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), instituição de Educação Profissional Técnica de Nível Médio e Superior de Graduação e Pós-graduação.
O encontro dos ex-alunos, a maioria egressos no início da década de 70, reuniu profissionais ainda em atuação de várias áreas como: direito, comunicação, agronomia, veterinária, letras e várias outras profissões. Muitos atuam como professores, políticos, empresários ou profissionais liberais. Em comum a convivência escolar no regime de internato e rica experiência da escola, realmente, de tempo integral. São pessoas que fazem parte de um bando vencedor. Eles têm rosto, nome e endereço, mas aqui uma só identidade: Pato.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O porco que encontrou água











Ilustração:
Wilmar Marques






Em tempos difíceis de estiagens, as pessoas se dão conta que é preciso reservar, economizar, fazer uso racional dos recursos hídricos. Nós conhecemos a velha máxima e, por vezes sempre atual: “Se dá valor a um bem quando não se tem”. Isto acontece com muitas coisas, mas com frequência quando o assunto é o bem mais precioso da natureza, a água.

Contei recentemente a história real do mago da forquilha, personagem conhecido no interior dos municípios, que com uma varinha, quase mágica, encontra água subterrânea para cavar poços. Dia desses conheci o relato de um agricultor de Pedro Osório, ele falou sobre a falta de chuva e as dificuldades que encontrava para irrigar as plantas desidratadas, água boa principalmente para o consumo humano e para os animais de criação.

Quando a situação estava muito ruim, quase insustentável, um dos porcos fugiu do chiqueiro e começou a fuçar a terra desesperadamente. A surpresa do agricultor foi grande quando encontrou o porco fujão banhando-se em uma poça d’água, lameado de barro. Ao contrário que muita gente pensa, o porco não é burro, seu intelecto é comparável ao dos golfinhos, elefantes e primatas superiores, um degrau acima do cachorro.

Pois bem, o porco utiliza sua inteligência natural não só para encontrar água, também na sociabilidade. Na natureza, por exemplo, eles se dividem em pequenos grupos liderados pela fêmea, em que a hierarquia da líder é exercida de forma linear, sem sobreposições de papéis, onde cada indivíduo ocupa um determinado espaço. Muito provavelmente, o porco encontrou água pelo desempenho extraordinário do seu olfato, capaz de farejar predadores cerca de um quilometro de distância e objetos a trinta centímetros de profundidade.

O focinho tipo tomada, que todo mundo acha engraçado, quando toca alguém com o nariz é para manifestar afeto, reconhecer um amigo ou manipular objetos, os porcos adoram brincar. Além do mais, o porco não é porco, ele não gosta de sujeira e, por natureza é muito asseado. Os porcos para aliviar o calor recorrem aos banhos de lama quando não há disponibilidade de água limpa e fresca. A lama também serve para livrá-los de alguns parasitas causadores de doenças.

Então amigos e amigas, o fato do porco encontrar água não é nenhuma surpresa. Afinal, com tantas qualidades do bichano é sensato a gente repensar nossos conceitos sobre os porcos e tudo que falam deles. Talvez, quando alguém falar em “espírito de porco”, teremos que avaliar melhor o sentido.

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O mago da forquilha


                                                                 Ilustração: Wilmar Marques
Quem tem um pé na roça por certo já ouviu histórias ou acompanhou a batalha das famílias rurais para encontrar água subterrânea. Mesmo os que possuem recursos para investir na construção de um poço artesiano (aquífero profundo), precisam saber qual o melhor local para cavar. Lembro claramente de um homem franzino que morava no município de Cristal, seu Alcidinho, era um craque para encontrar água e ordenar a abertura de poços.
Ele usava apenas uma vara em forma de forquilha, com a ponta para cima, enquanto as duas mãos fechadas e invertidas (palmas para fora) seguravam o instrumento como se fosse um “V” invertido. Na medida em que se aproximava do “veio d’água”, a forquilha inclinava-se para baixo, envergando-se e mostrando o lugar certo para cavar. Seu Alcidinho, convicto dizia: - É aqui... Pode cavar o poço.
A água lá de casa foi encontrada por ele, assim como os poços da maioria dos primeiros habitantes (cerca de 300) da Vila Cristal, antes da água encanada. O mago da varinha d’água, por certo é uma dessas personagens rurais dotadas de sensibilidade, do pequeno grupo da radiestesia, termo de origem grega significa “sensibilidade às radiações”. São pessoas têm a capacidade de perceber, inconscientemente, as radiações do ambiente, como as que são produzidas pela água em movimento. “Elas geram impulsos musculares que acabam se refletindo na forquilha", afirma Sérgio Areia, presidente da Associação Brasileira de Radiestesia (Abrad).
Cada tecnologia tem seu tempo e lugar, o talento do seu Alcidinho para encontrar água hoje, certamente não teria muita serventia nos lugares em que existe água potável, encanada e que não é necessário cavar, apenas abrir a torneira. Talvez no interior dos municípios, onde os poços ainda são preciosas fontes de abastecimento de água para beber. Basta saber se o “mago da forquilha” deixou seus discípulos.

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com



sábado, 3 de novembro de 2012

Era uma vez... Um ouriço


Era uma vez um ouriço que voltava de viagem num luxuoso trem Maria Fumaça. E vinha assobiando uma alegre canção. Mas, de repente, nosso herói ouviu uma conversa que o deixou todo arrepiado. Na cabina ao lado, dois cães falavam em explodir o trem com dinamite, assim que chegassem à estação de Pelotas.

Quando o trem parou em frente uma fazenda, para deixar passar uma boiada, os dois cães desceram... - Depressa, antes que nos vejam! Disse um dos cachorros dinamitadores. Mas, do trem, o ouriço observava tudo encontrou uma solução. Começou a gritar a primeira coisa que lhe veio à cabeça para chamar a atenção de todos:
 - Encontrei OURO na linha do trem! OURO!

O coelho veio correndo, o porco também e depois toda a cidade, todos os animais. Mas o ouro era falso, pedras amarelas de uma velha mina abandonada. Os animais, em um primeiro momento, ficaram furiosos. Só depois que ficaram sabendo que o ouriço havia salvado a todos de uma grande explosão. Quando os animaizinhos souberam da verdade correram para abraçar o herói. E assim, todos receberam o castigo pela ganância, pois ao abraçar um ouriço não é coisa muito agradável.

Caros leitores e leitoras... Este foi o primeiro livro que li, da Coleção Era Uma Vez, presente da minha querida professora, Marli Almeida Villela. A história infantil são fragmentos da minha inserção no mundo da leitura. No livro comecei a formar minhas primeiras imagens através da imaginação das personagens e das situações de improviso e senso que a vida oferece. Entre estas, o dualismo sociais do herói/bandido, a mentira/malandragem, a ganância/punição.

O livro é transformador e uma fonte de conhecimentos para tudo, desde os infantis até os mais complexos, ele proporciona momentos de prazer, suspense, romantismo e tantas outras sensações possíveis de mexer com a gente. Estamos precisando exercitar nossos neurônios. A Feira do Livro é uma ótima oportunidade de buscar a própria mudança e proporcionar que outras pessoas mudem.

Só não quero contar aqui esta história: Era uma vez... Um menino internauta que não conheceu o livro.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com 

domingo, 28 de outubro de 2012

Lindos seios













Ilustração: Wilmar Marques




A grande maioria dos municípios da Região Sul do Estado realizam suas exposições feira, a partir do mês de outubro. É uma excelente oportunidade de negócios para os produtores rurais, momento em que se apresenta ao público em geral toda a qualidade da produção agropecuária, especialmente dos ovinos, eqüinos e bovinos. Nas feiras, compradores e visitantes podem encontrar as tecnologias para o setor de máquinas, equipamentos e o melhor da genética dos animais.

Nesta época, excursões de agricultores de várias localidades do interior vão em busca dos melhores resultados do setor, com o objetivo de investir na propriedade rural. Para alguns, a feira é uma das raras oportunidades de sair da porteira para fora e uma possibilidade de integração com outros produtores. Nestas ocasiões, os técnicos costumeiramente acompanham os grupos de agricultores.

Quando atuei como extensionista rural, tive o privilégio de acompanhar alguns desses grupos. Na maioria pessoas muito simples, interessadas, educadas e como cada um de nós, passíveis de cometer enganos que não prejudicam em nada a relação entre amigos. Certo dia caminhava com o seu Marcos, agricultor, em um corredor com exposição de vacas leiteiras, em Pelotas. De repente, ele parou e admirado olhando um grande úbere, disse: - Olhe doutor... Que lindos seios têm essa vaca! Na hora tive vontade rir, mas não o fiz. Compreendi que ele tentou argumentar bonito... Talvez pra não falar “tetas”, temendo ser palavra “feia”.

As mamas (conhecidas popularmente também como seios ou peitos nos humanos, também são chamadas de tetas nos demais animais). Talvez seu Marcos não saiba, que toda palavra pode ser bonita, quando o motivo é nobre e o coração é puro. Ele levou aquela vaca holandesa de seios, digo de tetas fartas para sua propriedade, melhorou a genética de seu plantel e atualmente é a produção de leite que garante a renda e o sustento da família.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

sábado, 20 de outubro de 2012

Meio verde meio cor de rosa


Ilustração: Wilmar Marques

No meio rural é comum encontrar imigrantes, principalmente na colônia, com dificuldades na fala do idioma português. Fato perfeitamente compreensível, pois a aquisição da linguagem teria como referência a pátria mãe (alemães, poloneses, italianos...). O alfabeto estrangeiro da maioria dos colonos possui entre 21 a 32 letras, o que talvez justifique o aprendizado mais facilitado da língua, embora os tropeços sejam inevitáveis.
Quando trabalhei como extensionista rural, acompanhei um diálogo no mínimo engraçado, um colono alemão tentava vender uma vaca para um “brasileiro”. No meio da negociação o “brasileiro” perguntou: - Qual a cor do pelo da vaca? O alemão sem pensar muito disse: - Meio verde meio cor de rosa. Logo percebi que ali poderia ter alguém sem domínio do idioma português ou quem sabe, com pouco conhecimento das cores e até mesmo sofresse de perturbação da percepção visual, o daltonismo.
Segundo alguns artigos especializados existem diferentes tipos de daltônicos, pessoas que possuem alguma deficiência para enxergar as cores: Deuteranopia: Ausência de vermelhos. O vermelho parece cinza-esverdeado e o roxo não aparece. O verde parece meio acinzentado e o tom da pele perde o rosa.
Protanopia: Parece muito com a uma deuteranopia, mas não é mesmo. Exceto que o vermelho parece ser cinza escuro.
Tritanopia: O amarelo vira um rosa claro. Não há laranja. O azul do céu muda, assim como todos os vermelhos. O que você mais enxerga se parece com tonalidades de rosa e azul. A imagem fica mais embaçada.
Imagino que a pelagem da vaca do nosso querido colono poderia ser uma Jersey malhada (amarelo e branco) ou até mesmo uma vaca Holandesa européia (vermelho e branco). O certo é que estou fazendo uma simples dedução, pois é muito difícil imaginar o que o outro vê.
Segundo estudos, a vantagem para aqueles que possuem problemas para enxergar cores como o vermelho e o verde é que elas são melhores em detectar camuflagens. O mesmo ocorre com os portadores de dicromacia. Eles são mais apurados para avaliar texturas e dificilmente são enganados pelos padrões de cor. [fonte: Gene Reviews].

Marco Medronha

sábado, 13 de outubro de 2012

Os professores do bem



Nos caminhos da vida, todos nós tivemos professores. Quero destacar aqui os que foram importantes para nossa formação e decisivos na aprendizagem, nossos ídolos, os educadores ou educadoras do bem. Devo admitir que, na linha do tempo, não foram raros os professores da maldade, mas eles ficaram na fumaça do passado, pois um dos ensinamentos que aprendi é que o bem, assim como o amor, sempre prevalece.

Para a grande maioria, os professores pioneiros foram os pais, referências quando guiaram nossos primeiros passos, nos deram alimento, ajudaram na aquisição da linguagem, construíram demonstrações de carinho, mostraram os perigos da convivência social, estiveram ao lado como companheiros e amigos. Para alguns de nós, os pais foram os tios, avós, parentes próximos ou até mesmo desconhecidos apenas no início, eles poderiam ser dois ou apenas uma pessoa que se doa com amor incondicional.

Quando começamos a frequentar a escola formal surgem outras pessoas importantes. As “tias” e os “tios” do pré, o encanto pelos professores do ensino fundamental, a contestação injusta aos educadores do ensino médio (na adolescência), a aposta nos professores do ensino superior e da pós-graduação. O certo é que, em todas estas fases ou em pelo menos uma delas, tivemos professores ou professoras do bem, aqueles inesquecíveis, porque foram balizadores na formação do nosso caráter.

No dia do professor, 15 de outubro, desejo homenagear os mestres do bem. Figuras ilustres que figuram como heróis da minha existência e eles não foram poucos. Eu te convido a fazer uma reflexão e buscar no túnel do tempo, educadores que foram fundamentais em tua vida. Quem sabe eu e tu possamos nesta data lembrar, de pelo menos uma pessoa importante em nossa educação e, num ato de gratidão escolher um meio de enviar uma mensagem ao querido professor ou professora do bem.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Vote nos candidatos do PPR


Ilustração: Wilmar Marques

Nas campanhas eleitorais, os candidatos fazem suas propostas para ganhar o voto do eleitor. Quero acreditar que todos eles querem o melhor para a população, mas está cada vez mais difícil acreditar nisso, dado o nível apelativo, demagógico e desgraçadamente debochado de parte dos candidatos no horário político. Por favor... O eleitor não aguenta mais o baixo nível das campanhas. Parabéns! A você candidato que percebeu isto.

No sentido de colaborar com os políticos, para que promovam propostas úteis e coerentes, faço analogia do município com a propriedade rural e lanço, de forma fictícia é claro, o Partido da Propriedade Rural (PPR), com bases sólidas em práticas de conservação do solo e na produção sustentável no campo. As plataformas de ação do partido são direcionadas à agricultura familiar e irão garantir a segurança alimentar, o êxodo rural e a fartura na mesa do campo e da cidade.

Candidatos a vereadores do Partido da Propriedade Rural:
Análise do Solo – Possui grande capacidade de enxergar as deficiências do solo. A partir de um punhado de terra analisada pode trazer grandes benefícios à propriedade ao indicar suas necessidades. É a candidata da saúde, que faz muito com pouco.
Calcário – Presta grande serviço para a educação do solo, sendo responsável pela correção da acidez. O calcário trabalha junto com a Análise do Solo, pois é ela que indica as quantidades, inclusive de elementos para a adubação com fertilizantes.
Terraço – É o candidato da segurança, ele garante que sendo bem feito, de base larga ou estreita, não deixa a chuva nem os ventos roubarem sua terra. Eleger o terraço para sua propriedade é garantia de solo para a produção.
Cisterna – A candidata tem excelentes condições de suprir os períodos de falta d’água. Durante as chuvas, ela capta dos telhados para seu interior, através de canos ou calhas, quantidades de água boa para saciar a sede das pessoas, animais ou irrigar as plantas. É a candidata do abastecimento.
Floresta – É a candidata do meio ambiente.  Quando ela é compreendida como Área de Preservação Permanente nos topos de morros, encostas e margens de rios mantêm o equilíbrio da flora e da fauna. Pode ser fonte de lazer, a Floresta sabe valorizar a propriedade rural.
Artesanato – O candidato que promete rendimento extra para as famílias rurais tem grande capacidade de transformar em fonte de renda o que é descartado na propriedade. Normalmente precisa de inspiração para ser criado, mas promete satisfação para quem o produz.
Agroindústria – É uma candidata ligada a economia familiar tem a capacidade de aproveitar os alimentos que não são vendidos in natura. É transformadora, auxilia na renda e pode ser a solução alimentar para os períodos de entre safra. 

Candidato a prefeito do Partido da Propriedade Rural:
Agricultor – Trabalhador ou trabalhadora rural, grupo familiar disposto a aplicar as ferramentas de gestão na propriedade, receber assistência técnica, trabalhar em formas associativas e cooperativas.
Escolha os candidatos do PPR para ter mais qualidade de vida no campo.


Marco Medronha       mmedronha@hotmail.com 

sábado, 29 de setembro de 2012

O Turismo Rural e a Copa do Mundo

Lagoa dos Patos - São Lourenço do Sul

A proximidade do evento Copa do Mundo de 2014, no Brasil, enche de otimismo diversos setores da economia em todo o território nacional. Os investimentos em infra-estrutura já começam a aparecer nos municípios sedes (capitais), principalmente nos complexos urbanos. Aeroportos, estádios, anéis viários, hotéis, transportes recebem recursos vultosos e transformam as paisagens dia a dia. As pessoas se capacitam e buscam a profissionalização, com o objetivo de receber bem os estrangeiros, delegações de outros países movidos pela paixão do futebol. 
Há aqueles contrários à realização da Copa, que mesmo não sendo a favor sabem da inevitável mudança, mas estamos certos que a Copa vai ajudar muita gente e que não será a solução para os graves problemas sociais brasileiros. Defendo aqui um setor que conheço e que caminha à margem dos grandes investimentos, me refiro ao turismo rural. A região Sul do RS possui poucas chances de sediar, com Centros de Treinamentos, as seleções que virão ao Estado jogar a Copa do Mundo. Embora não tenha sido oficialmente escolhida pela FIFA, precisa mostrar seu potencial para aqueles turistas que procuram cenários únicos e diferentes e estão dispostos a deixar nos pampas dólares, euros e outras moedas valorizadas.
Nesta semana, quinta-feira, 27 de setembro comemoramos o Dia Mundial do Turismo, pode ser quem sabe, uma boa oportunidade para os estrategistas em marketing e entendidos do turismo pensar em estratégias para mostrarmos ao mundo tudo que de belo temos: As lagoas, as planícies, as colônias, os rios, os pampas, as criações, nossa gastronomia e principalmente nossa maior atração: as pessoas do Sul. Será um pecado muito grande nossa gente perder este momento único de congraçamento com outras nações, assim como tenho certeza que os turistas deixaram de ter ricas experiências e grandes lembranças dos gaúchos daqui.
A FIFA ((Federação Internacional de Futebol e Associados) e o COL (Comitê Organizador Local) selecionaram, ao todo, são 54 locais (quatro na região Norte, três no Nordeste, três no Centro-Oeste, 30 no Sudeste e 14 no Sul) espalhados por 14 Estados. De acordo com a entidade máxima do futebol, a lista é uma recomendação para as seleções e será enviada para todas as federações que estão disputando as eliminatórias para o Mundial. No Rio Grande do Sul, estes são os CT’s escolhidos até o momento:
Bento Gonçalves-RS - Dall'onder Grande Hotel / Estádio das Castanheiras
Bento Gonçalves-RS - Hotel & SPA do Vinho / Parque Esportivo Montanha dos Vinhedos
Lejeado-RS - Inn Italy Hotel / Centro Esportivo Lajeadense
Caixas do Sul-RS - Intercity Premium / Estádio Francisco Stédile
Caxias do Sul-RS - Samuara Hotel / Estádio Alfredo Jaconi
Porto Alegre-RS - Plaza São Rafael Hotel / Complexo Esportivo da Ulbra (Canoas)
Viamão-RS - Vila Ventura Hotéis / Centro de Treinamento Vila Ventura

As escolhas foram justas e acertadas, pois devemos reconhecer que os investimentos em turismo se deram, até o momento, com maior intensidade na Serra, inclusive no meio rural. As regiões do Estado possuem suas especificidades, potencialidades e são igualmente ricas em contextos históricos e paisagísticos, as pessoas são hospitaleiras e desfrutam de uma mesma identidade no cultivo das tradições. Mas então, o que estaria faltando para que o Sul do Rio Grande deixar de ser apenas um corredor de passagem? Para esta pergunta teríamos muitas respostas diferentes, mas acredito que uma seria comum: A mobilização de todos.
Porém é bom continuar atento, pois os 32 países que se classificarem para o torneio não serão obrigados escolher os campos da lista oficial para a preparação no Brasil. Caso um Centro de Treinamento fora da relação seja escolhido, a Federação terá que conversar com a FIFA para a inclusão do local na lista de credenciados. Uma segunda versão será divulgada no segundo semestre de 2013, e novos CTs poderão se inscrever para receberem vistorias do COL. A relação completa, que sairá no segundo semestre de 2014, deverá ter entre 80 e 90 centros (o mínimo é 64).

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os Gaúchos do Sul e a Semana Farroupilha

Museu Histórico Farroupilha, Piratini/RS

Os gaúchos durante a Semana Farroupilha comemoram um dos mais significativos movimentos de revoltas civis do Brasil, lutas que envolveram vários segmentos sociais. Basicamente, relembram a Guerra dos Farrapos contra o Império, de 1835 a 1845. A data de 20 de setembro foi escolhida como marco inicial da revolução, dia em que homens armados, comandados por Gomes Jardim e Onofre Pires entraram em Porto Alegre.
Na nova capital instalada em Piratini foi então proclamada, a República Rio-Grandense. O movimento revolucionário teve como bandeira os ideais liberais, federalistas e republicanos. É nesta época do ano, mês de setembro, que os sentimentos afloram e nos vários municípios do Estado, principalmente onde aconteceram batalhas e fatos marcantes da revolução, homens e mulheres demonstram orgulho de um povo aguerrido.
Além da primeira Capital Farroupilha, importantes batalhas se deram nos municípios da Zona Sul: Segundo registros históricos do próprio Museu Histórico Farroupilha, em Piratini, a Batalha de Arroio Grande ocorreu a 26 de novembro de 1844, em local próximo ao Arroio Chasqueiro, no então distrito de Arroio Grande que fazia parte de Pinheiro Machado.
Teixeira Nunes e os Lanceiros Negros remanescentes da Batalha dos Porongos foram enviados por David Canabarro para uma ação na retaguarda inimiga. Resultou no massacre do Corpo de Lanceiros Negros de Teixeira Nunes, que estavam acampados na curva do arroio Porongos, no atual município de Pinheiro Machado quando foram atacados pelos imperiais. Em Porongos foi o último confronto da Revolução Farroupilha.
Em Candiota, cruzando o arroio Seival, deu-se outro embate nos campos dos Menezes. A Batalha do Seival teve como objetivo de derrubar o presidente da província, apenas, os revoltosos gaúchos enfrentaram as tropas imperiais. Destacado por Bento Gonçalves, o coronel Neto deslocou-se, no início de setembro de 1836, à região de Bagé, onde encontrava-se o comandante imperial João da Silva Tavares, vindo do Uruguai. A primeira brigada de Neto, com 400 homens, atravessou o arroio Seival e encontrou as tropas de Silva Tavares sobre uma coxilha, com 560 homens. A batalha foi o conflito militar que ensejou a proclamação da República Rio-Grandense por Antônio de Sousa Neto.
As grandes batalhas do passado que aconteceram na região, até hoje inspiram os gaúchos do sul do Brasil. O exemplo de coragem dos Farrapos, parece impregnado nos habitantes, pois apesar das dificuldades enfrentadas em todos os setores, nada está perdido, muito pelo contrário, da perseverança vem a recompensa e o quadro já se apresenta animador.

sábado, 15 de setembro de 2012

Tragicamente pilchado







Ilustração: 
Wilmar Marques










Entre as diversas manifestações da cultura gaúcha, o modo de vestir é evidenciado e o sentimento farroupilha aparece, os CTG’s ficam lotados e a música regional ecoa em todos os lugares. Os peões, de maneira geral, vestem a tradicional bombacha, botas, chapéu ou boina e o lenço no pescoço e, as prendas o vestido longo e rodado ou a bombacha feminina. A indumentária gaúcha é rica e variada.

Na tentativa de demonstrar o amor pelo Rio Grande, um vereador da metade sul vestiu a pilcha completa e foi a Brasília, com uma comitiva de gaúchos. A finalidade da viagem era de divulgar a “Semana Farroupilha”. Lá na capital Federal foi tudo muito bem, o problema foi no retorno do parlamentar em uma sessão na Câmara Municipal. O vereador ocupou a tribuna e disse em tom solene: - Senhoras e senhores... A nossa comitiva que foi a Brasília estava tragicamente pilchada.

Os risos vieram aos poucos, mas puxaram outros e a seriedade quase virou deboche, pois a maioria associou tragicamente a: De modo trágico, funestamente, ou a modo de catástrofe. Pessoalmente conheço o cidadão, trata-se de uma belíssima pessoa, integra e muito bem intencionada, valores que não depreciaram sua fala e muito menos suas boas intenções.  

O Centro de Tradições Gaúchas disciplina o uso da pilcha no estado do Rio Grande do Sul é, por lei, traje de honra e de uso preferencial inclusive em atos oficiais públicos. A pilcha é a indumentária gaúcha tradicional, utilizada por homens e mulheres de todas as idades. É a expressão da tradição, da cultura e da identidade própria do gaúcho, a origem da indumentária gaúcha data dos primórdios da colonização dos pampas.

O modo de vestir dos gaúchos é levado muito a sério, recentemente, durante a 76ª Convenção Tradicionalista Gaúcha, realizada no município de Taquara, foram estabelecidas diretrizes para a pilcha. Na convenção, um dos objetivos foi deixar claro, para os simpatizantes e adeptos do movimento, como participar e estar bem vestido, sem que a adaptação, a cor, a tatuagem, piercing, enfim a moda jovem atual, entre em conflito com as regras rígidas do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Vale à pena conferir o regulamento do MTG, para não sair na Semana Farroupilha, tragicamente pilchado.



Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

sábado, 8 de setembro de 2012

Santa Isabel: A superação pelo cooperativismo







Foto: 
Letícia 
Schinestsck








     

Antiga Vila independente de Santa Isabel dos Canudos, hoje Distrito de Santa Isabel, em Arroio Grande teve, em 1790, ano de sua fundação, um passado promissor. A localidade, que recebeu a visita do imperador D. Pedro II, tinha no charque sua principal economia, graças à localização privilegiada nas margens do canal São Gonçalo e pela proximidade da Lagoa Mirim.

A população de Santa Isabel tem cerca de 900 habitantes, com 120 pescadores cadastrados. Durante sua história passou por momentos difíceis de enfrentamento as enchentes, desativação da balsa que liga  Arroio Grande ao município de Rio Grande e até mesmo pela escasses do pescado. Muitos moradores da localidade atribuem a falta de crescimento da localidade, a maldição do padre que morreu apedrejado há mais de 100 anos.

A tragédia que havia caído no esquecimento dos moradores, voltou a tona durante a reforma da igreja. Na ocasião foi encontrado em um caixão, restos mortais e alguns objetos, entre eles uma batina e um crucifixo.  O motivo místico que assombrou a população no passado e levou muitas pessoas, principalmente jovens, a abandonarem o lugar ressurgiu e intrigou a todos.

Mas a gente de Santa Isabel não se entregou ao destino e apostou na força do cooperativismo, justamente ao apostar na principal vocação de seus moradores, a pesca. A motivação da comunidade para virar o jogo foi o ponto de partida para buscar o apoio de varias instituições do âmbito municipal, estadual e federal. Governos e pessoas uniram-se aos pescadores e fundaram a Coopesi – Cooperativa de Pescadores de Santa Isabel.

Os recursos do projeto cooperativo possibilitaram ainda outras melhorias na comunidade, entre elas a água potável, a fábrica de gelo, reformas em prédios e praças e movimento no comércio. Enquanto os pescadores estão na lagoa, em busca dos peixes de água doce, as mulheres trabalham na cooperativa e aproveitam a traíra, o peixe preferido, na sua forma integral. Na Coopesi, elas preparam o filé, tirinhas, bolinhos e a grande novidade: a bochechinha de traíra, vendida para o Projeto de Alimentação Escolar no município de Arroio Grande.

Sair em busca do pescado para sustentar a família está deixando de ser uma incerteza. Quem visita Santa Isabel percebe otimismo de quem trabalha, enquanto as crianças alheias aos fantasmas do passado, freqüentam a escola e brincam nas praças aproveitando as  melhorias na comunidade.

Quanto a comercialização... Tudo vai bem, a Coopesi recebe assistência do município e do estado em gestão cooperativa, o pescado já tem mercado em outros municípios. Neste ano, a exemplo do ano passado quando comercializou tudo, os pescadores cooperativados participam da 35ª Expointer, a maior feira agropecuária da América Latina.

Marco Medronha



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A fenomenal ovelha boca cheia











Ilustração: Wilmar Marques






Nas viagens que faço pelas cidades do interior gaúcho tenho como hábito ouvir rádio, seja dirigindo o carro ou no local em que fico hospedado. 
Conhecer diferentes manifestações culturais pode ser para qualquer pessoa uma forma de crescimento, mesmo naquelas localidades das quais o senso comum atribui, como lugares atrasados e que pouco tem para contribuir com a nossa formação. Puro engano, aí está uma oportunidade de conhecer o diferente, o peculiar e o genuíno, pois nos cursos de rádio jornalismo, além de todas as normas e regras tem uma que se sobressai: Seja você mesmo.

O advento das rádios comunitárias trouxe para muitas localidades, principalmente as rurais, uma oportunidade fantástica de manifestação popular. Ao percorrer as estradas poeirentas do interior é comum o rádio sintonizar uma emissora e ali um radialista empolgado. Imagino que esta pessoa ao microfone, mesmo que seja apenas para sua comunidade tem o poder de influenciar, esclarecer, informar, desinformar e até mesmo causar grandes confusões. A pessoa do microfone pode ser alguém da própria comunidade, em trabalho quase voluntário ou um profissional do rádio trabalhando por um ideal ou em troca de apoios culturais.

A comunicação rural, assim como o jornalismo esportivo tem suas especificidades. Quem está por traz dos microfones tem que ser do meio, ou pelo menos estar interado do assunto. Caso contrário pode ocorrer casos pitorescos e até engraçados como este lá do interior de Alegrete. Segundo minha prima Dora, um locutor entusiasmado fazia a narração de um remate de ovinos, onde sucessivos lotes ingressavam no pavilhão de remates, enquanto o narrador falava de suas características com raça, pelagem,  idade. A cada lote ele recebia uma folha de papel com letras e números escritos à mão, com caligrafia sofrível.   

Pois bem... Em um desses papéis com garrachos, o locutor que era da cidade e não possuía muitos conhecimentos sobre o meio rural narrou com pompa: Senhoras  e senhores: O lote de borregas que estamos assistindo agora é da raça Corriedale e pertencem a uma Cabanha do Uruguai. São ovelhas com 246 dentes e ... Hehehehe (risos do locutor). Depois exclamou: - Nossa! Quanto dente tem essa ovelha tchê!

Quem é do ramo sabe que a dentição em ovinos tem a ver com a idade: 2, 4 e 6 dentes. As borregas com 2 dentes incisivos na mandíbula possuem de 13 a 24 meses, com 4 dentes de 24 a 32 meses, com 6 dentes elas tem de 32 a 40 meses, isto conforme a raça. Os ovinos também possuem dentes de leite que somam 20 no total. Após todas as trocas e na idade adulta somam 32 dentes. Quando completam a dentição são chamados de “boca cheia”.

Quem passou pela disciplina de Radiojornalismo na universidade, ministrada pelo meu colega e amigo professor Jorge Malhão, ou até mesmo por outro curso pode relembrar algumas dicas de redação radiofônica: Nomes estrangeiros, números e percentuais devem ser escrito por extenso; usar frases curtas, que facilitem a leitura interpretativa e o entendimento do ouvinte; escrever exatamente como você costuma conversar, ou seja, com naturalidade; usar verbos no presente, pois indicam ação e atualidade; evitar palavras que possam dar duplo sentido à mensagem; a mensagem deve ser escrita de forma objetiva, clara e simples; manter corretamente as concordâncias verbais, escrevendo dentro das regras de um bom português; entre outras.

A prática da locução

No Rio Grande do Sul e no Brasil existem vários programas de rádio dirigidos ao público rural, alguns eu conheço bem e contribuo na produção e locução. Como exemplo o programa de rádio Terra Sul – produzido em Pelotas pela parceria Emater/RS e Embrapa, o Programa da Emater – produzido em Porto Alegre pela Gerência de Comunicação da Emater/RS-Ascar e o Prosa Rural – produzido em Brasília pela Embrapa – Informação Tecnológica.

Os programas citados promovem a locução jornalística nas entrevistas e também nas falas dos apresentadores, os quais em dupla ou em separado utilizam a forma de diálogo descontraído ao relatar ao público ouvinte informações gerais ou tecnologias do setor agropecuário. Entre os tipos de locução no rádio destacamos:
Jornalística – Normalmente séria e pausada, sem passar emoção aos ouvintes;
Esportiva – Rápida e bastante emotiva (A narração de corrida de cavalos é utilizada como exercício com a finalidade de melhorar a pronúncia).
Publicitária ou Comercial – A técnica é interpretada de acordo com o roteiro.
Apresentador de rádio – Observa o perfil da emissora, geralmente tem um tom descontraído.

Na locução radiofônica, já se foi o tempo em era exigido aquele vozeirão como requisito principal, uma condição primordial dos primeiros programas de rádio. No entanto, a técnica de expressão ao microfone exige uma postura profissional. Para falar de forma natural é necessário ter um bom ritmo e entonação, pronúncia nítida e agradável, que facilite a compreensão do ouvinte, de uma só vez.
De acordo com o manual de produção e edição Prosa Rural (2009) é competência do locutor:
Entender o conteúdo – O locutor deve entender o que está escrito, tendo razoável domínio sobre os temas tratados;
Interpretar o texto – Ao compreender a abrangência do assunto, pode interpretar o texto e transferir a informação ao ouvinte;
Transferir as informações – Essa transmissão de conceito implica saber medir a expressão da locução;
Medir o ritmo – Cada palavra tem um realce próprio;
Matizar – O profissional de microfone precisa saber variar ou dar diferentes gradações ao que é dito. Assim, conforme o caso, realça a expressão, muda o tom ou faz pausas.
Ser natural – A voz constitui-se num instrumento de trabalho que deve ser usada sem exageros;
Convencer – Ser natural não significa deixar de lado a importância de convencer o ouvinte. A arte está em saber usar a capacidade de convencimento com naturalidade, sem tom apelativo, apenas com os recursos naturais da fala;
Concluir bem a leitura – Concluir bem a leitura, sem depreciar os últimos detalhes do texto ou as últimas palavras da frase.

Quem trabalha em rádio, além do necessário cuidado com a voz, deve estabelecer para si mesmo padrões que o possibilitem fazer uma boa locução. De acordo com o Dicionário Aurélio, o termo locutor é o profissional que lê textos, irradia ou apresenta programas ao microfone das emissoras da televisão ou do rádio.
Para fazer rádio sem amadorismo e conseqüentemente com mais profissionalismo, a boa locução requer:

Postura diante do microfone – Posicionar-se diante do microfone com o corpo ereto, sem inclinar-se para um lado ou para outro. Pois isso pode afetar as cordas vocais e, desta forma, prejudicar a dicção;
Modulação correta da voz – A distância do microfone não deve ser muito próxima, nem muito distante. Antes de falar regule bem o equipamento, ajustando volume e tonalidade (graves e agudos);
Respiração – Respirar pelo nariz, o suficiente para o tempo de chegar até a pausa, usar frases curtas que permitam breves paradas e facilitam a respiração;
Dicção – Dar a entonação adequada ao texto, tirando o máximo efeito das palavras. Enfatizar as palavras, mas com naturalidade para convencer e cativar o ouvinte;
Vozes – Se possível, usar mais de um timbre de voz para quebrar a monotonia. O ideal é alternar uma voz masculina e uma feminina, para estabelecer um contraste e manter a atenção do ouvinte.

Regras do bom profissional de rádio recomendam também treinos, visando alcançar um nível de qualidade satisfatório e realizar a locução com mais segurança. Observe o seguinte:
- ler a mensagem, de preferência em voz alta, antes da apresentação;
- ficar atento para não trocar nomes, números ou omitir alguma palavra. Isto      pode prejudicar toda a mensagem;
- evitar improvisações, pois sempre existe o risco de confundir o ouvinte, principalmente quando você não tem pleno domínio sobre o conteúdo da mensagem;
- a articulação correta das palavras com finais em “s” e “r” são importantes. É  comum a omissão das letras na pronúncia, ou até mesmo, ficarem quase inaudíveis.
- para uma boa locução, é importante atentar para a acentuação das palavras, qual ênfase deve se dar a elas.

Os cuidados com a pronúncia são fundamentais, independentemente de estruturas mais simples ou complexas, assim como às junções naturais das palavras quando reunidas em frases. É importante ter em mente, que você pode irradiar o programa dirigido a um público específico, mas não pode determinar quem está recebendo a mensagem. Através das ondas do rádio a sua voz poderá atravessar fronteiras e atingir um público multicultural.