segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Pode entrar, a casa é sua


Quem anda pelo interior do Estado e na maioria das cidades gaúchas da região sul conhece bem a fala “pode entrar, a casa é sua”. Nesta expressão está representada uma das marcas da hospitalidade de nosso povo, que gosta de receber muito bem aqueles que chegam com missão de paz e trazem no coração um sentido claro de fazer novas amizades.

Recentemente recebemos a visita de dois jornalistas do Ministério da Agricultura da República de Cabo Verde, um país africano e um arquipélago de origem vulcânica constituído por dez ilhas, localizado no Oceano Atlântico. Manoel Brito e Rizulena Monteiro nos brindaram na chegada com um sorriso aberto, largo e fácil, era tudo o que precisávamos para abrir nossas portas, porteiras, cadeados, desfazer cercas e alambrados.

Os colegas africanos vieram em uma missão para conhecer a comunicação rural feita no Rio Grande do Sul. Como bom gaúcho e conhecedor dos costumes, o gerente de comunicação da Emater/RS-Ascar, Paulo Mendes elaborou um roteiro que incluiu uma visita a Pelotas, com objetivo de conhecer o Terra Sul, uma parceria da pesquisa e extensão rural, na produção do programa de televisão que possui mais de 20 anos, um patrimônio cultural e audiovisual das instituições nos registros das atividades e modo de vida das famílias rurais.

Mesmo para leigos sobre o universo rural é possível imaginar uma grande diferença entre os dois sistemas agrários. O Brasil um país agrícola de dimensões continentais, clima tropical com distribuição de chuvas regulares durante o ano contrasta com Cabo Verde, onde chove apenas em três meses durante o ano e possui pouca terra para produção de alimentos. A lotação do gado é apertada no país africano enquanto aqui, principalmente no sul do Brasil, os animais desfrutam de fartura de campo nativo para alimentação e muito espaço para criação.

Mas também existem muitas semelhanças, principalmente ao se tratar de pessoas e de relações amistosas. O idioma é o primeiro sinal de identidade, pois Cabo Verde foi colônia de Portugal e conseguiu sua independência apenas em 1975. Com base lexical portuguesa, o crioulo, língua original do Arquipélago sobreviveu influências externas e ainda é usada entre os descendentes cabo-verdianos de várias partes do mundo. O gosto pela música também é semelhante, onde o ritmo da percussão é bem marcada, lembrando muito nosso samba de raiz. 

Entre os jornalistas, a identidade é ainda maior. Não só pelo orgulho que cada um de nós cultiva por suas pátrias, independentemente de tamanho, mas pela consciência de que na comunicação plena não existem barreiras. Um sentimento de consenso predominou no encontro de duas realidades: É preciso deixar a porta aberta, pois se o mundo é nosso e desfrutamos do mesmo mar, pode entrar que a casa é sua.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

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