sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Gentileza gera Gentileza

O paulista José Datrino, personagem surgido no meio carioca ficou conhecido como o profeta Gentileza, por fazer inscrições em muros e viadutos da cidade do Rio de Janeiro. “Gentileza gera gentileza” é a frase mais proferida, escrita e conhecida do profeta urbano nas décadas de 80 e 90.
Curiosamente foi no campo, no meio rural que o profeta Gentileza desenvolveu seus dons de pregador. Sua profissão era a de amansador de burros de carga e até mesmo seus pais entendiam que o filho sofria de algum tipo de loucura. Gentileza, dizia-se “amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento”.
“Aprendi silêncio com os falantes, tolerância com os intolerantes, e gentileza com os rudes ; ainda, estranho, sou ingrato a esses professores”. Kalil Gibran
No interior do município de Canguçu conheci um agricultor familiar que tinha gentileza nos atos e no próprio nome: Gentil Almeida. Em meados dos anos 90 visitei-o, na localidade de Santo Antônio, uma propriedade onde a filosofia do produtor era estar aberto à tecnologia e a diversificação de culturas. Jamais esqueci o que Gentil me disse: “Não é possível ter crescimento em qualquer atividade se tiver educação”.
A família Gentil começava na agricultura em uma pequena propriedade onde o havia como fontes de renda a criação de terneiras, o leite e a produção de sementes de cebola, esta inclusive empregava e remunerava pessoas da comunidade. Na época, Gentil tinha duas filhas de três ou quatro anos que brincavam de bonecas e se divertiam em um balanço instalado na sombra de uma árvore, sob o olhar atento e gentil dos país.
“A gentileza é a essência do ser humano. Quem não é suficientemente gentil não é suficientemente humano”.  Joseph Joubert
Recentemente encontrei Gentil em Canguçu, saindo do Escritório da Emater/RS-Ascar, estava fazendo um Pronaf para investimento. Ele atencioso, perguntou se ainda lembrava dele  e gentilmente me convidou para voltar a visitar sua casa, a fim de participar de um Dia de Campo em sua propriedade. A idéia era conferir as mudanças ocorridas com o tempo. Além do que já possuía, Gentil agregou técnicas como a inseminação artificial, pastoreio racional e investiu em um projeto de irrigação.
Gentil Almeida tratou a terra com sabedoria e investiu nas  pessoas. Fiquei sabendo que as filhas são três: uma trabalha no sistema bancário, outra formou-se técnica em agropecuária e a terceira é professora. A profecia da família Gentil se realizou, pois eles tiveram a gentileza de investir no conhecimento, na educação.
Marco Medronha


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O mar está pra peixe

Rios e lagoas que correm para o mar estão proporcionando uma ótima safra para o pescado. A água salgou e como diz o ditado popular “o mar está pra peixe”. O pescador, uma das profissões mais antigas desde a criação do mundo, voltou a sorrir, porque quando as redes estão cheias os corações das famílias, se enchem de alegria e dignidade.
Acompanho há muitas safras a vida dura daqueles que dependem da pesca para sobreviver, uma atividade cíclica em que a alternância é constante. A persistência parece ser a qualidade mais necessária ao verdadeiro pescador, aquele que carrega a esperança por uma vida melhor, que coopera, que vive em comunidade, que conserta as redes, recupera embarcações e restaura as relações com os bens materiais e espirituais.
Ao olhar para um passado recente lembro das enchentes que assolaram a nossa região. Cada município com seu próprio drama, mas São Lourenço do Sul teve susto, perplexidade e prejuízos no campo, cidade e litoral. Naquela inundação, nunca vista antes pela população, os pescadores perderam redes e embarcações e só comemoraram o fato de terem sobrevivido para continuar pescando.
Vejo com alegria São Lourenço do Sul, se reerguer com o trabalho de sua gente e com a generosa contribuição divina.
A própria história mostra que nosso mundo é feito de tempestades e calmarias, que não existe governo dos homens ou tecnologia capaz de segurar os desígnios da natureza. Vejo com alegria São Lourenço do Sul, se reerguer com o trabalho de sua gente e com a generosa contribuição divina. Neste ano, durante a realização da Festa do Peixe, vi pescadores felizes em confraternização com a comunidade.
Quatro pescadores de São José do Norte pescaram em uma noite 850 quilos de camarão.
Otimismo também entre os pescadores de Pelotas, Rio Grande, Arroio Grande, Jaguarão e São José do Norte.  Neste final de semana, ao escutar uma emissora de rádio uma manchete me chamou a atenção: “Quatro pescadores de São José do Norte pescaram em uma noite 850 quilos de camarão”. Na mesma hora lembrei da parábola do pescador.
Os pescadores foram discípulos de Jesus e por certo o Mestre sabe e deseja que Pedro, André, Tiago, João e outros tantos de nomes diferentes, que estão nas nossas Colônias de Pescadores, continuem persistindo com fé e jogando suas redes, não só para capturar o pescado.  O mar está pra peixe.

Marco Medronha
mmedronha@hotmail.com

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Não tem pasto; não tem carne


Em tempos em que a mídia anuncia aumento de preço do tradicional churrasco gaúcho, onde a causa principal é atribuída a estiagem prolongada, lembrei de um bordão: “Não tem pasto; não tem carne”, do João Urbano, personagem criado pelos pioneiros amigos, colegas e protagonistas das primeiras edições do Terra Sul. Tempos em que a equipe do programa tinha preocupação de tornar os temas rurais populares as pessoas da cidade.
Aí nasceu o João Urbano, com ele ficava fácil entender a dependência e a ligação que a cidade tem com o campo. Há... saudades daqueles tempos! em que a criatividade vencia de goleada todo o aparato tecnológico que temos hoje para levar a informação, mas isso é outra conversa.
Na época, o recurso utilizado foi de encenar, antes da apresentação de cada reportagem, com conteúdo e humor os problemas enfrentados na cidade pela falta de produção no campo. Aí nasceu o João Urbano, com ele ficava fácil entender a dependência e a ligação que a cidade tem com o campo. Há... saudades daqueles tempos! em que a criatividade vencia de goleada todo o aparato tecnológico que temos hoje para levar a informação, mas isso é outra conversa. Voltemos ao tema campo e a cidade.

Olhando os dados fica evidenciada a importância da produção de alimentos, principalmente da agricultura familiar, para a sustentar e oferecer produtos saborosos e de qualidade a população urbana. Por enquanto a minoria está garantindo alimentos para a maioria e se faz necessário, não estimular as diferenças ou competições entre o rural e o urbano, mas sim buscar a integração.
Segundo dados do Instituto Técnico de Pesquisa e Assessoria – ITEPA/UCPel, de 2009, o município de Pelotas possuí mais de 95 % de habitantes na área urbana e quase 5% das pessoas vivendo no meio rural. O contraponto na nossa região é o município de Arroio do Padre, que exatamente o contrário possui a maioria dos moradores vivendo no campo. A pesquisa mostra que na média dos municípios da Zona Sul, os percentuais apontam para 82,72% da população nas cidades e 17,28 no meio rural.

Olhando os dados fica evidenciada a importância da produção de alimentos, principalmente da agricultura familiar, para a sustentar e oferecer produtos saborosos e de qualidade a população urbana. Por enquanto a minoria está garantindo alimentos para a maioria e se faz necessário, não estimular as diferenças ou competições entre o rural e o urbano, mas sim buscar a integração.

As instituições e a classe política, que dependem de todos para se manterem vivos e operantes; necessitam exercitar mais a prática e menos o discurso. Quanto a nós; precisamos deixar de olhar o rural apenas como um lugar para descansar nos fins de semana ou um lugar para comprar produtos bons e baratos; necessitamos sair da acomodação, ser mais participativos. Quem sabe prestigiar um evento que mostre as potencialidades rurais dos municípios da Zona Sul?
Por certo... vamos compreender melhor a aflição do João Urbano: Não tem pasto; não tem carne.


Marco Medronha
mmedronha@hotmail.com

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Planejar para não faltar



O planejamento é fundamental em qualquer atividade que desejamos realizar, principalmente quando existe escassez de recursos. Embora em nossa região tenhamos um grande potencial hídrico, muitas propriedades rurais sofrem com a estiagem e na maioria das vezes por não planejar o uso da água, ou seja armazenar no período das chuvas para usar nas épocas de seca.

Segundo dados da Agência Nacional da Água, no Brasil há 3,5 milhões de hectares irrigados, que correspondem a apenas 6% da área plantada, em contrapartida a irrigação é responsável por mais de 16% da produção e por 35% do valor econômico gerado pelo setor agrícola. Segundo registros, no Rio Grande do Sul  existe excedente hídrico nos meses de maio a outubro e falta de chuvas nos meses de dezembro a meados de março.

"Dados ainda revelam que em cada 10 anos, sete apresentam estiagens, isso deixa claro a fragilidade dos sistemas nas nossas propriedades rurais, que não apresentam condições para irrigar as lavouras."

Se temos essa informação é necessário planejar uma ação, onde possamos captar o excedente hídrico para usar  nos meses de pouca chuva. Dados ainda revelam que em cada 10 anos, sete apresentam estiagens, isso deixa claro a fragilidade dos sistemas, nas nossas propriedades rurais, que não apresentam condições para irrigar as lavouras.

Os efeitos das enchentes e das secas causam impactos ambientais terríveis, quando são fatores naturais fogem do nosso controle e podem deixar rastros de destruição, na maioria das vezes atribuímos à força da natureza. Talvez para diminuir um pouco a nossa culpa ou dos nossos antepassados que cortaram as matas ciliares, queimaram a vegetação, usaram agrotóxicos indiscriminadamente, não utilizaram o solo corretamente ou realizaram tantas outras práticas degradantes ao meio ambiente.

"Digo que precisamos investir na captação ou armazenamento de água como se investíssemos na nossa casa, na compra de um automóvel,  um trator, uma colheitadeira ou qualquer outro bem que nos traga segurança e conforto para produzir mais e melhor."

Amigos produtores, na condição de repórter rural vejo esta cena repetidamente há mais de 30 anos, alguns agricultores por falta de condições financeiras ou acomodação ficam esperando pelos governos ou pelas dádivas divinas. Digo que precisamos investir na captação ou armazenamento de água como se investíssemos na nossa casa, na compra de um automóvel,  um trator, uma colheitadeira ou qualquer outro bem que nos traga segurança e conforto para produzir mais e melhor.

Planejar para não faltar é uma iniciativa necessária para o sustento da atividade rural e para a segurança alimentar da sociedade.

Marco Medronha
reporter-rural.blogspot.com

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cooperar é preciso


A economia rural da Região Sul é baseada na agricultura familiar, com forte apelo à produção de alimentos tão necessários para a sobrevivência das pessoas moram aqui ou em qualquer parte do mundo, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que no ano de 2050, não haverá comida suficiente para a humanidade, para suprir a demanda deverá ocorrer um aumento significativo na produção.

É das pequenas propriedades rurais que vem os alimentos que trazem fartura a nossa mesa, uma produção que, sem exagero, pode salvar a lavoura mundial e livrar muita gente da fome. Nosso Estado ainda continua sendo um grande celeiro na produção de todo tipo de alimento, no entanto os agricultores familiares encontram dificuldades para disponibilizar os produtos. A venda é realizada de maneira informal ou pelas vias de comercialização dos municípios, estados e união.

As famílias, na maioria da vezes, se esmeram em todas as fases do processo de produção, capricham no preparo do solo, no plantio ou semeadura, fazem os tratos culturais, a colheita, armazenamento e comercialização. A cooperação dos membros da base familiar, nem sempre é suficiente para tornar sustentável uma produção. É preciso cooperar.

Desde os povos primitivos a cooperação é fundamental, os seres humanos necessitam dos grupos organizados para vencer as adversidades, para resolver não só as dificuldades da cadeia produtiva, mas todo tipo de barreiras: clima, fome, doenças e tantas outras, que deixam de ser problemas quando se busca apoio no cooperativismo.

Vejo com muito o otimismo o incentivo dos governos em criar programas de cooperativismo, principalmente aqueles que vem ao encontro das necessidades das economias de base familiar. A própria extensão rural, com o apoio da pesquisa vem atuando no sentido de qualificar as produções, especialmente na agroindústria. O aproveitamento dos alimentos na sua integralidade e nas épocas de entressafra vem se sustentando e mantendo a cultura de nossos imigrantes, graças ao trabalho de profissionais competentes que atuam na organização das famílias e na manutenção de suas raízes culturais.

Na nossa região temos belos exemplos de cooperativas bem sucedidas, a começar pelos setor de “Laticínios” até os tradicionais “Doces de Pelotas”, mas existem muitos produtores que necessitam de orientação. Na região, já existe um grupo de profissionais trabalhando no sentido de identificar problemas e demandas no setor e atuando no processo de qualificação e gestão de cooperativas, me refiro especialmente ao Programa Extensão Cooperativa da Emater/RS-Ascar, o qual começa um trabalho de introduzir melhorias técnico-gerenciais, produtivas e educacionais nas cooperativas, incentivar a criação de novas formas cooperação, com a finalidade de melhorar a competitividade no mercado.

Em minhas reportagens pelo meio rural, venho observando o desejo das famílias em dar visibilidade a sua produção, em vender seus produtos a um preço justo, sem precisar entregar a intermediários. Aí está um problema antigo que traz desestímulo a quem trabalha duro o ano todo e no final do processo fica na mão de oportunistas. Iniciativas individuais são válidas, mas são quase atos de heroísmo, assim vale a máxima da união para vencer as dificuldades e continuar dono do próprio negócio. Cooperar é preciso.

Marco Medronha