sábado, 26 de outubro de 2013

A hora da formiga

Quando se aproxima o verão e junto aqueles dias de calor intenso, que quase não dá vontade de ir trabalhar, lembro da fábula da cigarra e da formiga. O pessoal da minha geração (pré-internet), por certo irão recordar da histórinha infantil, em que a cigarra vivia cantolando com sua guitarra e convidando a formiga, que trabalhava pesado carregando folhas,  para largar tudo e ir com ela afim de juntas divertirem-se. 

Época de preparo do solo para o plantio das culturas de verão é só o início do trabalho que envolve a maioria dos agricultores. Agora é a hora do produtor, assim como a formiga faz, garantir-se para um inverno mais tranquilo. Um clássico exemplo entre as práticas agrícolas é a silagem, na qual o milho plantado agora vai garantir a alimentação das vacas no inverno. Nesse tempo de trabalho do agricultor formiga, muitas são as cigarras com poderes de persuasão, de fala fácil e o canto ardiloso, que tem levado muitos agricultores a perderem o foco. 

Portanto, atenção as armadilhas melodiosas e mantenha seu plano de trabalho, pois o agricultor pode ser na verdade diferente da formiga quando faz o planejamento das rotinas de atividades na propriedade, o ano todo. Neste caso, o trabalho não fica concentrado apenas na época de verão, só para exemplificar: Se conseguir armazenar água na propriedade durante o inverno, através de cisternas ou até mesmo no açude, não precisará sair correndo no verão e gastar o que não tem de recursos para molhar as plantas. 

Outro exemplo é realizar as práticas conservacionistas como o terraceamento (curvas de nível), cobertura do solo através do plantio das pastagens de inverno. Estas são práticas simples e obrigatórias a todo agricultor. Na fruticultura temos no inverno as podas de limpeza e de frutificação nos pomares, as quais são necessárias para uma boa produção de frutas no verão. Na pecuária temos o melhoramento do campo nativo e os cuidados com a sanidade do rebanho.

Outra medida necessária no verão ou no inverno é cuidar as outras formigas e, assim como fez a rainha da fábula, se alguma delas cair na tentação e sair por aí... tocando violão, seja firme e procure trazê-la de volta, pois não é nada bom ver o formigueiro espahado campo afora. Fazendo o planejamento durante o ano, o agricultor poderá ter também tempo, não só para se divertir, mas também condições de chamar “as cigarras” para tocar na sua festa.

Fábula: “No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: Toque e cante para nós. 
Para cigarra e paras formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas”.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Mais informação, mais consciência é igual a mais educação



Em um dia quente de início de verão estava indo para mais uma reportagem no meio rural, o destino era uma localidade no interior de Pinheiro Machado. Junto comigo no veículo estavam o cinegrafista e o palestrante da reunião, no meio do caminho tivemos que chegar em um comércio na beira da estrada para comprar uma água ou refrigerante, pois a umidade do ar estava baixa e o calor quase insuportável. Até aí tudo normal, mas jamais esqueci o momento em que o palestrante, depois de saciar a sede, abriu o vidro do carro e jogou a garrafa “pet” numa vala junto a estrada.

Não lembro bem quais foram as palavras que disse ao sujão, só sei que fiquei muito indignado, pois não esperava aquela atitude vinda de uma pessoa com formação superior e que revelou educação tão inferior. Depois da invasão do plástico, das latas e dos vidros, o nosso meio rural não é mais o mesmo e o lixo não é mais problema apenas dos centros urbanos. Hoje é comum você sair para uma atividade rural, seja a trabalho ou turismo, e encontrar vestígios de sujeira, rastros deixados por quem tem pouca consciência e nenhuma educação. No caso do palestrante em questão acredito que ele tinha a informação, mas ela estava adormecida e não foi capaz de se sobrepor as atitudes inconscientes da criatura que se julga culta.

Nem tudo está perdido. Ações, mesmo que isoladas em relação ao tema precisam ser divulgadas e o trabalho deve começar nas escolas entre as crianças e adolescentes. Nesta semana conheci um trabalho de educação ambiental realizado na Ilha da Torotama. É o projeto “Pescando Lixo”, no qual envolve os extensionistas da Emater, do Porto, de educadores e escolares do município de Rio Grande. Depois de palestras sobre a importância da água e a necessidade de preservação do meio ambiente, o grupo formado pelas instituições envolvidas e alunos da Escola Fundamental Cristóvão Pereira de Abreu, saiu em direção a Lagoa dos Patos para recolher o lixo deixado pela comunidade, inclusive pelos pescadores, que dependem da pesca para a sobrevivência.

Neste caso a comunidade da Ilha da Torotama, talvez não tivesse a informação sobre o tempo de decomposição dos materiais mais encontrados, por exemplo: Latas de alumínio (200 a 500 anos), Isopor (400 anos), pneus (600 anos), vidro (4000 anos) e garrafa “pet” (tempo indeterminado). Em apenas uma hora, o mutirão da limpeza recolheu em sacos plásticos, quantidade suficiente para encher mais de dez barcos de pesca.

A informação recebida pela comunidade, aliada a forma participativa dos alunos, uma “gincana”, contribuiu para elevar o conhecimento de todos, estimular a consciência cidadã e com certeza melhorar a educação. Tenho a convicção que ações direcionadas aos jovens, nas quais fazem deles protagonistas são efetivas e saem barato aos poderes públicos. Na verdade, não se faz necessário criar programas complexos e sim estimular atitudes simples onde a informação possa ser compartilhada e experimentada.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Preciosidades nas mãos dos pequenos


As coisas preciosas da vida devem ficar sob o domínio dos grandes. Certo? Quando nos referimos a responsabilidades dos adultos em relação às crianças, talvez. Mas, quando tratamos de temas relativos à preservação dos recursos naturais, como o resgate e guarda das sementes crioulas posso afirmar que, neste caso as preciosidades devem ficar na mão dos pequenos. Sejam eles colonos, índios, quilombolas, assentados ou outra categoria de agricultores familiares que o homem teima em classificar.

O município de Canguçu e suas organizações de agricultores, juntamente com as instituições organizaram, neste mês de outubro (05 e 06/10/2013), a Feira Estadual de Sementes Crioulas e Tecnologias Populares. Na condição de repórter rural pude constatar que preciosidades decisivas para o futuro da humanidade estão nas mãos dos pequenos agricultores e que da resistência histórica desses grandes homens do campo depende a soberania alimentar do planeta.

Sementes crioulas de produtos a exemplo do milho, feijão, abóbora, hortaliças e todo tipo de alimento foram trazidas por agricultores da região como jóias raras, com objetivos de promover a troca de sementes entre as famílias produtoras e aquisição para quem desejasse cultivar e passar adiante. Além dos adultos, as escolas do município envolveram também crianças e adolescentes, os estudantes passaram a pesquisar as sementes e saber mais a importância para as comunidades. Nisso, veio também o respeito e a admiração pelo trabalho dos agricultores.

Foi de uma jovem estudante chamada Milena, que veio a inspiração para criar mais que uma frase, mas a síntese do pensamento da Feira de Sementes – “Crioulas: Sementes que resgatam o passado e garantem a segurança alimentar do futuro”. Acredito que o envolvimento da juventude nas causas nobres e fundamentais para o planeta pode trazer mais esperança na luta constante entre grandes, de interesses escusos e pequenos com ideais consolidados. Este é o tipo de disputa, em que todos saem perdendo, porque não teremos nem grandes e nem pequenos não existirem mais alimentos para o consumo.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A essência do Pampa


O Pampa no Brasil está presente no estado do Rio Grande do Sul e ocupa 63% do território gaúcho. Também conhecido como Campos do Sul ou Campos Sulinos, ele rompe fronteiras e constitui parte de territórios da Argentina e Uruguai. É formado principalmente por vegetação campestre, a exemplo de gramíneas, herbáceas e algumas árvores.

A origem do termo “pampa” é indígena, significado encontrado para designar “região plana”, característica de terras encontradas na divisa da região sul com o Uruguai. O pampa gaúcho possui tradição na atividade de pecuária e ocupa uma área de 40% do Rio Grande do Sul, uma tradição que se iniciou com a colonização do nosso País. A área pampeana da Campanha Meridional representa a maior proporção de campos naturais preservados, sendo um dos ecossistemas mais importantes do mundo.

As diversas categorias de profissionais e instituições, que atuam na área ambiental, vêem se manifestando de maneira formal ou informal sobre os efeitos danosos da monocultura sobre o terreno fragilizado do Pampa. A flora e a fauna passam a ser mais conhecidos e através da informação, os habitantes dessa região passam a realizar práticas agropecuárias sustentáveis, visando à preservação do meio ambiente.

Preservar as características naturais do lugar do planeta em que vivemos é uma necessidade, mas as pessoas não são coisas ou substâncias encontradas no ecossistema. A essência do Pampa é o grande legado humano deixado por homens e mulheres que lutaram bravamente para constituir uma pátria livre da escravidão, da exploração da riqueza e do trabalho duro de campesinos que tinham na fé e nos conceitos de comunidade, uma forma de construir uma nação.

A essência é o constitui a natureza e o cerne de um ser, independentemente de existir ou de ter existido de fato. O Pampa gaúcho é formado de coisas substanciais e espírito, a lógica clássica daquilo que não pode ser indissolúvel.


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com