Nesta semana visitei Santana da Boa Vista, município em que foi realizado um curso para educadores, lideranças locais e agricultores familiares sobre o tema biodiversidade. Conhecer a realidade local da flora, fauna, bem como aspectos culturais, sociais e econômicos com vistas a a presenvação e produção sustentável foi a ideia central da capacitação. A Serra das Encantadas possui formações rochosas e vegetação variada, rica para o estudo do Bioma Pampa.
Entre tantos temas relavantes do curso, que prevê também o auto conhecimento, um pensamento gravado a ferro quente em um couro bovino, na entrada do Galpão Anita Garibaldi, chamou-me a atenção: “Ao entrarmos neste galpão pendura no cabide de tua humildade, tuas diferenças e preconceitos e se mesmo assim preservares algum orgulho, que seja o de ser gaúcho”. Para mim ali estava a primeira lição para quem vai participar de algum grupo onde a troca de conhecimentos é fundamental na construção de um aprendizado consciente.
Ao buscar mais significados para humildade, investiguei dicionários e descobri por exemplo, que o termo humus vem do latim e significa "filhos da terra". Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é considerada pela maioria das pessoas como a virtude que dá o sentimento exato do nosso bom senso ao nos avaliarmos em relação às outras pessoas. Tais características são marcas atribuídas ao povo gaúcho e principalmente a aqueles que moram no campo, qualidades como a cordialidade , o respeito , a simplicidade e a honestidade .
Poderia trazer para reflexão personagens famosos, os quais através dos tempos registraram em textos, escritos marcantes sobre a humildade. Mas prefiro relembrar a contribuição de alguém mais próximo do nosso tempo, a brasileira Cora Coralina, poetisa e cientista considerada uma das mais importantes escritoras do nosso País. A mulher simples do meio rural deixou seu legado literário escreveu, em forma de oração:
Humildade
Senhor, fazei com que eu aceite
minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.
Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
minha pobreza tal como sempre foi.
Que não sinta o que não tenho.
Não lamente o que podia ter
e se perdeu por caminhos errados
e nunca mais voltou.
Dai, Senhor, que minha humildade
seja como a chuva desejada
caindo mansa,
longa noite escura
numa terra sedenta
e num telhado velho.
Que eu possa agradecer a Vós,
minha cama estreita,
minhas coisinhas pobres,
minha casa de chão,
pedras e tábuas remontadas.
E ter sempre um feixe de lenha
debaixo do meu fogão de taipa,
e acender, eu mesma,
o fogo alegre da minha casa
na manhã de um novo dia que começa.”
Cora Coralina
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