sábado, 23 de março de 2013

Terra Sul, 20 anos



No primeiro domingo de março de 1993, entrava no ar a primeira edição do programa Terra Sul, uma iniciativa da parceria de comunicação Embrapa e Emater/RS, na região de Pelotas. A proposta inicial foi a de produzir um programa de televisão para os agricultores da região sul, com notícias e informações úteis para aplicação em suas propriedades. A fonte geradora de pautas foi o conjunto de atividades desenvolvidas pela pesquisa agropecuária e pela extensão rural.
Nesta época, os agropecuaristas da região sul tinham acesso a apenas dois programas do gênero: O Globo Rural, com notícias de predomínio nacional e o Campo e Lavoura, que veiculava notícias do estado. Nos dois programas, reconhecidamente competentes, pouco se via da agricultura e pecuária regional. O Terra Sul surgiu com uma proposta diferente, inovadora e com foco local: Mostrar tecnologias utilizadas  pelos agricultores para os agricultores, de maneira que eles se identificassem com o produto televisivo mostrado.
A iniciativa foi acolhida no começo pela TV Pampa (SBT), parceira nos primeiros anos da Embrapa e da Emater/RS na veiculação, sempre aos domingos, em sua grade de programação. Com a natural mudança de chefias das empresas de televisão, o Terra Sul teve suas idas e vindas. Andou na RBS TV com o nome de Gente da Terra, retornou a TV Pampa e, atualmente encontrou a maioridade e consolidação na Rede Nativa (Record), onde pode ser assistido às 9h, de domingo.
Nesses 20 anos, muitas mudanças ocorreram. O meio rural conheceu várias alternativas de produção, os agricultores evoluíram e muitas tecnologias foram adotadas a partir de reportagens mostradas no Terra Sul. As comunidades rurais e urbanas passaram a conhecer o que faz a pesquisa e a extensão rural, assim como a origem a produção agropecuária e o valor do trabalho das famílias rurais.
Muito além de informar, o Terra Sul foi escola. Através de estágios aos estudantes de Comunicação Social proporcionados pela Emater/RS e Embrapa, centenas de profissionais que hoje atuam nos mais diversos veículos de comunicação de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil e até mesmo no exterior tiveram seus primeiros passos aprendendo primeiro, a linguagem rural e a respeitar o homem do campo. O quê isso representa para nossos queridos alunos e comunicadores atualmente consolidados? Bem... Isso somente eles podem responder.  De minha parte, expresso publicamente minha gratidão pelo aprendizado, convivência e pela oportunidade de fazer parte dessa história. Vida longa Terra Sul.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

domingo, 17 de março de 2013

Almanaque de Pharmácia

















O Almanaque de Pharmácia foi certamente o meio de comunicação mais importante e poderoso no meio rural, desde 1920, ano em que foi lançado o Almanaque Biotônico Fontoura, livreto criado e ilustrado por Monteiro Lobato. Na época, as páginas do almanaque divertiam e ensinavam a todos na família com as histórias do Jeca Tatu, personagem folclórico que fez muito sucesso, inclusive nos livros infantis, com o seu jeito caipira de ser.

Como veículo de publicidade para vender remédios, os almanaques representavam milhões de exemplares distribuídos em todo país, com a finalidade de divulgar os medicamentos e a indústria farmacêutica, tanto no meio urbano quanto no rural. O Almanaque era conhecido como o “Livreto do Saber”, pois em suas páginas continham piadas, charadas, calendários, fases da lua, dicas de saúde, receitas culinárias, cartas melodramáticas, jogo dos sete erros, caça palavras, calendário agrícola, horóscopo, santos do dia, histórias diversas, datas importantes e comemorativas, textos poéticos (contos, poesias, crônicas) e claro, propaganda de remédios.

Quem nasceu nas décadas de 20, 30, 40 e 50, principalmente, por certo conheceu o livreto com formato de mais ou menos 13 x 18. Esses, em algumas residências, era a única fonte de informação que chegava. Além do Almanaque Biotônico Fontoura, ainda tenho na memória os livretos Almanaques Sadol e Iza. Depois descobri que existem outros como: Almanaque do Licor de Cacau Xavier, Almanaque Dr. Schilling, Almanaque Bristol, Almanaque Capivarol, Almanaque Bayer, Almanaque Cabeça de Leão, Almanaque Catedral, Almanaque Silva Araújo, Almanaque do Colírio Moura Brasil, Almanaque Elixir Brasil, Almanaque Guaraína, Almanaque de Ross, entre outros.

Lembro que lá em casa, uma vez por mês chegava um almanaque. Era uma festa... Eu e meus irmãos disputávamos a leitura, cada um queria ler primeiro para poder decorar as piadas ou dar uma de “esperto” na escola, como saber: Qual o maior osso do corpo humano; Onde fica a Amazônia; O maior mamífero; Os animais invertebrados, coisas das ciências naturais, curiosidades da matemática, da história e da geografia.

O Almanaque no meio rural, também era o doutor, o engenheiro, o amigo, o humorista... Aquele livrinho mágico tinha soluções para quase tudo. Era também uma grande oportunidade do pai ou do avô pegar os pequenos no colo, pra contar histórias de oportunidades para filhos ou aos netos. Tenho a convicção que a geração atual de crianças e jovens deveriam conhecer o Almanaque de Pharmácia, com certeza teriam hábitos mais saudáveis.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com





quinta-feira, 7 de março de 2013

A mulher que a poesia descobriu



No mês de março a mulher é exaltada em verso e prosa. A poesia faz homenagens à mulher operária, a diarista, a empresária, a doméstica, a profissional liberal, a mulher empreendedora urbana ou a mulher trabalhadora rural. Elas ocupam cada vez mais espaço na sociedade, em vários segmentos mostram muita competência. Será que existe no mundo alguma coisa que a mulher não seja capaz de fazer?

São todas reconhecidas por seus múltiplos valores e por uma única forma de ser: Mulher. De todas as fases, de todas as estações, mulher para o que der e vier. Na essência parece não ter idade. Como mostra a poesia de Martha Medeiros: “Sou uma mulher madura, que às vezes anda de balanço. Sou uma criança insegura, que às vezes usa salto alto. Sou uma mulher que balança. Sou uma criança que atura”.

Toda mulher possui seu esplendor único, defendido por Sêneca: “Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas”. O sexo masculino manifesta preferências por algumas exuberâncias femininas, mas é no conjunto de atributos que se reforçam as relações mais duradouras.

O homem, na verdade sempre valorizou a própria existência, pois ela depende da mulher. O poeta Vinícius de Moraes compara a mulher com a vida, à beleza e à amizade, sentenciando: “Você (mulher) tem que ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois”. A ligação da mulher com a vida e de tudo que é belo, não é uma simples utopia do poeta. É só imaginar a magia da concepção de uma nova vida, beleza resultante do ato de amor entre o homem e a mulher. Quanta poesia pode ser criada à infinita maravilha da mulher gestante.

Mas uma mulher em especial, além de estar nos versos dos poetas e poetizas, apresenta qualidades típicas do bem servir. Um tipo de mulher que faz parte de um jardim onde as flores são únicas e todas são comprometidas com a harmonia do conjunto. Mulher que trabalha com leveza, mesmo quando a jornada é dura, porque ama o senso de utilidade, que se importa com o bem estar pessoal e coletivo. Mulher que abraça a casa e a causa. É a trabalhadora da extensão rural. A mulher que a poesia descobriu como luz de esperança a milhares de famílias no campo.
Uma homenagem as mulheres trabalhadoras da Emater/RS-Ascar.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com





terça-feira, 5 de março de 2013

O Negrinho mais querido dos gaúchos


Dia desses, ao chegar num condomínio urbano de Pelotas, fui supreendido por uma cena inusitada, ao menos para mim. Um jovem gaúcho sentado em um banco rústico, sorvia prazeirosamente um chimarão. Ele estava sólito, com olhar distante e típicamente trajado, como manda a indumentária do movimento tradicionalista. Ao seu lado, como uma espécie de altar, uma pequena estatueta de uma figura montada num cavalo branco.
A primeira vista parecia a imagem de São Jorge, mas achei estranho, respeitando a todas as crenças, um gaúcho pilchado venerar o santo guerreiro. Ao chegar mais perto e, como repórter que sou, perguntei ao guadério: “E aí tchê... com saudades do campo”. O gaúcho respondeu: “Pois é... moro aqui no condomínio mesmo, mas todo dia sento aqui com o meu Negrinho do Pastoreio, na esperança que ele me dovolva a querência que perdi”.
Todo gaúcho que se preza conhece a lenda do Negrinho do Pastoreio, muito contada nas rodas de prosa, principalmente nos rincões do Rio Grande do Sul, desde o final do século XIX, em especial por aqueles que defendiam o fim da escravidão. Na versão escrita pelo pelotense João Simões Lopes Neto, o protagonista é um menino negro e muito pequeno, escravo de um estancieiro muito mau; este menino não tinha padrinhos nem nome, sendo conhecido como Negrinho, e se dizia afilhado da Virgem Maria.
Diz a lenda que o Negrinho, após perder uma corrida e ser cruelmente punido pelo estancieiro, caiu no sono e perdeu o pastoreio. Ele foi castigado várias vezes, mesmo tendo achado o pastoreio. Mas muito cansado, caiu no sono novamente e perdeu o pastoreio pela segunda vez. Desta feita, além da surra, o estancieiro jogou o menino sobre um formigueiro, para que as formigas o comessem, e foi embora quando elas cobriram o seu corpo.
Três dias depois, o estancieiro foi até o formigueiro, e viu o Negrinho, em pé, com a pele lisa, e tirando as últimas formigas do seu corpo; em frente a ele estava a sua madrinha, a Virgem Maria, indicando que o Negrinho agora estava no céu. A partir de então, foram vistos vários pastoreios, tocados por um Neguinho, montado em um cavalo baio.
O Negrinho mais querido dos gaúchos é tratado com devoção, pois cada vez que se perde algo aqui nos pampas preces são dirigidas aos céus, ao Negrinho, a Virgem Maria e, quem ora pede também a Deus, assim nossos pedidos serão atendidos. “Que o Senhor devolva a todas as pessoas, a capacidade de orar e acreditar, que com fé, tudo pode ser concedido”.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Perigos da tormenta, temporal ou tempestade

Quando o tempo ficava feio lá fora, minha avó tinha um ritual: Cobria os espelhos, fazia uma cruz de sal, desligava a eletricidade, guardava facas, tesouras e rezava para Santa Bárbara. Nunca discuti ou duvidei dos seus métodos, porque sabia que aquilo era uma forma de proteção a nossa família, uma atitude da experiência. Todos nós, por certo já ouvimos algumas histórias sobre acidentes causados por tormenta, temporal ou tempestade.

Dia desses ouvi no noticiário do rádio o depoimento emocionado de um agricultor, que perdeu toda a sua produção por causa da chuva de granizo, ele se referiu ao termo “tormenta”. Num primeiro momento achei estranho a forma como ele falou do evento, ao investigar descobri que: Tormenta é uma palavra do português, um substantivo que significa tempestade forte; Temporal é relativo ao tempo, grande chuva, tempestade e Tempestade é um estado climático caracterizado por ventos fortes e, muitas vezes, acompanhado por chuvas de granizo, relâmpagos e trovões.

Alguns agricultores são resignados pela ocorrência de perdas nas lavouras, outros fazem o seguro agrícola, pois sabem dos riscos e dos perigos dos fenômenos climáticos. Infelizmente, eles são comuns no campo e não raramente fatais. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os raios principalmente, já causaram a morte de 1321 pessoas no Brasil entre os anos 2000 e 2010. O país é o campeão mundial de descargas elétricas e esse número vem aumentando com os anos, recebendo cerca de 50 milhões de raios por ano.

Tecnicamente, o raio é um fenômeno natural também chamado popularmente de relâmpago. É uma descarga elétrica ou descarga atmosférica que ocorre entre nuvens ou entre a nuvem e a terra. Os raios podem causar destruição atingindo pessoas, residências, danos a eletrodomésticos, transformadores e etc. Eles, os raios, costumam cair no caminho em que encontra menor “resistência” entre a nuvem e a terra. Os pontos altos e pontiagudos favorecem o início da descarga elétrica.

Certamente, o maior dano é a integridade física das pessoas e onde reside nossa grande preocupação. Na próximo espaço do Repórter Rural estarei falando sobre os perigos das descargas elétricas na praia e no campo.

Na praia ou no campo: Atenção redobrada

As tempestades climáticas, acompanhadas por descargas elétricas, vêem sendo monitoradas pela meteorologia. Felizmente, os serviços de previsão do tempo, através de suas estações espalhadas pelo país alertam, com certa eficiência, para os perigos dos prováveis eventos. No entanto, os cuidados ainda dependem de cada pessoa e, o mais importante é a informação como subsídio de como proceder em situações adversas. Na praia ou no campo, a atenção deve ser redobrada.

As recomendações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) alerta, que durante as tempestades, os banhistas devem evitar o mar, rios e piscinas, pois são superfícies lisas e a cabeça, ponto mais alto, pode atrair os raios. Se nadar é perigoso jogar futebol em gramados também traz riscos, já que também o jogo é realizado em superfície plana, com vários pontos altos de riscos. Nestes casos, existem no Brasil registros de várias ocorrências de acidentes fatais. O país é campeão mundial em número de raios, por ser também o maior país tropical; o clima quente favorece a formação de tempestades.

No meio rural, as áreas são geralmente abertas. Encontramos na paisagem  vegetação com pasto natural e cultivado para os animais, quando o agricultor estiver no campo e em meio a uma tempestade, o melhor é abaixar com os pés juntos e as mãos sobre a cabeça. Nunca se abrigue embaixo de árvore isolada. Uma árvore pode receber uma descarga e provocar descargas laterais, podendo causar a morte ou danos irreparáveis a saúde. Muitos animais de criação, também morrem por ano, vítimas destas descargas. Não se aproxime de cercas ou redes elétricas, porque estas recebem influência das descargas atmosféricas e ficam carregadas durante algum tempo.

O problema também existe no campo. Se um trabalhador estiver arando a terra ou dirigindo um trator sem capota, ele corre riscos. Em uma cabine sem proteção, a cabeça é o ponto mais alto. Se tiver um automóvel ou outro veículo com capota por perto, esta pode ser uma boa proteção, pois normalmente os carros são blindados contra raios.
Existem alguns sinais orgânicos sentidos pelo nosso corpo, que prevêem uma tempestade, na praia ou no campo. De acordo com especialistas, se você estiver ao ar livre, durante uma tempestade e sentir seus pelos arrepiarem ou sua pele coçar, este é um sinal de que um raio está para cair na região. Uma recomendação parece básica: Nunca deite no chão, pois é nele que caem as descargas elétricas.



Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Jeitinho: A permissão para a tragédia

O jeitinho já foi exaltado como algo benéfico aos brasileiros, uma marca típica de um povo que sempre encontra uma forma de safar-se das dificuldades. Acredito que o jeitinho, quando ligado a criatividade da nossa gente em encontrar alternativas para transformar realidades, dentro das normas legais, pode ser saudável e incentivado. Refiro-me, exemplificando o trabalho de muitas comunidades na reciclagem do lixo ou a saída encontrada por agricultores orgânicos em buscar a produção de alimentos limpos, sem agrotóxicos. São tantas formas criativas e soluções inesperadas que nos surpreendem positivamente.

No entanto, o jeitinho que encarna a tapeação, enganação ou formas de mascarar realidades, para tirar proveito em benefício próprio é condenável. É a permissão para grandes ou pequenas tragédias que vem assombrando o Brasil e o mundo. Como exemplo, cito a recente tragédia ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria, onde o jeitinho permitido por pessoas que deveriam dar segurança aos freqüentadores da casa de diversão vitimou fatalmente de 238 jovens universitários, interrompendo sonhos e trazendo sofrimento a centenas e milhares de famílias.

Infelizmente, este tipo de jeitinho está enraizado no nosso meio social e na cultura contemporânea. Muitas situações estão diariamente estampadas na mídia para quem quiser ver. O jeitinho aparece com freqüência no meio político, neste caso o desastre é a corrupção e a enganação ao povo brasileiro. O famigerado jeitinho está nas licenças ambientais, na permissão sem condições de veículos de transporte coletivo sem as mínimas condições de trafegabilidade, na construção de moradias em áreas impróprias para habitação, no passeio de barcos sem coletes salva vidas, na liberação de obras dadas como concluídas e seguras. Em cada uma dessas situações é possível lembrar pelo menos um caso de grande repercussão.

Até mesmo, naqueles considerados pequenos atos provisórios, quando o sujeito faz o perigoso “gato” com a eletricidade, o esperto pode estar colocando em risco sua residência e sua própria família, muitos incêndios aconteceram. O perigo da esperteza, quase sempre ilegal, depende do nosso comportamento perante as situações. Assim, antes mesmo de procurar os culpados depois das tragédias, é saudável avaliar se devemos nos permitir em tais situações de perigo. Tenho a consciência de que muitas vezes aceitamos as condições que nos oferecem, sem contestar, imaginando que estamos imunes a tragédias. Triste engano.

Marco Medronha         mmedronha@hotmail.com

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Respeito aos iguais

Muito se tem falado sobre o modo que devemos lidar com as diferenças, as quais são construídas e apontadas historicamente pela sociedade. Vivemos em um processo de aprendizado contínuo, onde cada um procura se entender, se conhecer melhor, buscar suas raízes, encontrar-se com sua identidade, mas o sistema parece enxergar muito mais as diferenças e talvez por isso estas apareçam mais, são mais marcadas.

Aprendi com meus pais, depois com a vida, que entre pessoas não existem diferenças, que os seres humanos devem ser naturalmente concebidos como iguais. Uma tarefa muito árdua para muitos, pois vivemos em um mundo cercado de preconceitos por todos os lados. É incrível que até mesmo entre os Cristãos, as manifestações contrárias aos ensinamentos da doutrina religiosa são afloradas com facilidade. As diferenças aparecem e se sobrepõem aos iguais.

Se espiritualmente possamos não ter incorporado o sentimento de que perante o “Senhor” somos todos iguais, a lei dos homens entendida como a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece, em seu Art.5º, que: “Todo o cidadão brasileiro tem direitos e oportunidades iguais, independente de sua raça, cor, gênero, idade ou condição física”. Os PcD são pessoas que têm impedimentos de natureza física, mental, intelectual ou sensorial permanentes, as quais, em interação com a sociedade podem sofrer com diversas barreiras e terem sua participação plena e efetiva comprometida, no exercício da igualdade com às demais pessoas.

Quando a relação social acontece com a Pessoa com Deficiência (PcD), o assunto realmente complica, pois continuamente estas têm sido segregadas e impedidas de terem seus direitos universais atendidos, como determina a legislação. Para auxiliar aqueles que possuem dificuldades em compreender os iguais, a Faders (Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas), órgão do Governo do Estado RS lançou recentemente uma Cartilha, que além de cumprir sua missão governamental poderá ajudar muito os menos engajados. É uma proposta de mudança de atitude em relação aos nossos iguais. Ressalto aqui algumas procedimentos que poderão fazer a diferença na relação com a PcD, de acordo com a Cartilha da Faders:
·         Se você desejar ajudar, ofereça ajuda, mas não insista. Se precisar de ajuda, a pessoa aceitará sua oferta e lhe dirá o que fazer. Se forçar essa ajuda, isso pode, às vezes, até mesmo causar insegurança.
·         Não estacione seu automóvel em vagas reservadas às pessoas com deficiência física. Tais lugares são reservados por necessidade e não por conveniência.
·         Não segure nem toque na cadeira de rodas. Ela é parte do espaço corporal da pessoa. Apoiar-se ou encostar-se na cadeira é o mesmo que apoiar-se ou encostar-se na pessoa.
·         Quando você e uma pessoa com deficiência física quiserem sair juntas, preste atenção às eventuais barreiras arquitetônicas ao escolherem o lugar que irão visitar.
·         Mantenha as muletas ou bengalas sempre próximas à pessoa. Tome os cuidados necessários para não tropeçar nas muletas.
·         A pessoa com deficiência tem espaço reservado no transporte público.
·         Pessoas com deficiência física, quando necessário, devem ter atendimento acompanhado, com a oferta de lugar apropriado, assim como posições de mesas espaçosas ou com algum tipo de apoio, se houver uso de muletas ou outros acessórios.
·         Se você quer falar com uma pessoa surda, chame a atenção dela, seja sinalizando com a mão ou tocando no seu braço.
·         Enquanto estiverem conversando, manter contato visual; se olhar para outro lado enquanto está conversando, a pessoa surda pode pensar que a conversa terminou. Se a pessoa surda estiver acompanhada de um intérprete, falar diretamente com ela e não com o intérprete.

Respeito aos iguais II

A Faders também auxilia e presta orientações sobre atitudes que devemos em relação a Pessoa com Altas Habilidades (PcAH), as quais necessitam de acompanhamento, especialmente na fase escolar.
Segundo o Ministério da Educação, Altas Habilidades ou Superdotação é uma necessidade educacional especial apresentada por alunos que demonstram grande facilidade de aprendizagem, potencial elevado e grande envolvimento com as áreas da ação humana, isoladas ou combinadas: intelectual, comportamental, psicomotora, artística e criativa. O sistema de ensino, certamente, com raras exceções, não está preparado ou organizado para atender o conjunto de habilidades e competências acima da média apresentados por estes alunos.
Os chamados alto-habilidosos apresentam diferenças significativas sobre a concepção tradicional do processo de ensino e aprendizagem.  Fato que os excluem do processo educacional, apesar da presença física na sala de aula, não aprendem ou desenvolvem conceitos, procedimentos ou atitudes não planejados pelo projeto pedagógico realizado para a média. Isto acontece pela grande facilidade de aprendizagem. Aquilo que seria concebido como normal para os padrões de ensino torna-se algo tedioso e desajustado para as Pessoas com Altas Habilidades, pois sem proposta diferenciada de currículo e educadores, tal aluno tem negado o seu direito fundamental à educação.
Na publicação, “Um olhar para as altas habilidades”, a organizadora do trabalho, Christina Cupertino, relata que o aluno com altas habilidades apresenta algumas especificidades em virtude de como se relaciona com o mundo e com os outros, e que ocorrem por ele ser uma pessoa diferente das outras, dependendo do olhar do adulto (e de seu autoritarismo), essas características podem ser vistas como problemas.
A autora mostra situações do cotidiano e exemplifica que um aluno diferente pode conviver como igual e, isso depende de uma atitude habilidosa do educador. Exemplifica: Se existe a recusa de fazer a prova escrita, o professor pode sugerir a prova oral, pois se ele sabe a matéria, não necessita submeter-se ao sistema de avaliação tradicional, por vezes falido.