sábado, 9 de fevereiro de 2013

Jeitinho: A permissão para a tragédia

O jeitinho já foi exaltado como algo benéfico aos brasileiros, uma marca típica de um povo que sempre encontra uma forma de safar-se das dificuldades. Acredito que o jeitinho, quando ligado a criatividade da nossa gente em encontrar alternativas para transformar realidades, dentro das normas legais, pode ser saudável e incentivado. Refiro-me, exemplificando o trabalho de muitas comunidades na reciclagem do lixo ou a saída encontrada por agricultores orgânicos em buscar a produção de alimentos limpos, sem agrotóxicos. São tantas formas criativas e soluções inesperadas que nos surpreendem positivamente.

No entanto, o jeitinho que encarna a tapeação, enganação ou formas de mascarar realidades, para tirar proveito em benefício próprio é condenável. É a permissão para grandes ou pequenas tragédias que vem assombrando o Brasil e o mundo. Como exemplo, cito a recente tragédia ocorrida na boate Kiss, em Santa Maria, onde o jeitinho permitido por pessoas que deveriam dar segurança aos freqüentadores da casa de diversão vitimou fatalmente de 238 jovens universitários, interrompendo sonhos e trazendo sofrimento a centenas e milhares de famílias.

Infelizmente, este tipo de jeitinho está enraizado no nosso meio social e na cultura contemporânea. Muitas situações estão diariamente estampadas na mídia para quem quiser ver. O jeitinho aparece com freqüência no meio político, neste caso o desastre é a corrupção e a enganação ao povo brasileiro. O famigerado jeitinho está nas licenças ambientais, na permissão sem condições de veículos de transporte coletivo sem as mínimas condições de trafegabilidade, na construção de moradias em áreas impróprias para habitação, no passeio de barcos sem coletes salva vidas, na liberação de obras dadas como concluídas e seguras. Em cada uma dessas situações é possível lembrar pelo menos um caso de grande repercussão.

Até mesmo, naqueles considerados pequenos atos provisórios, quando o sujeito faz o perigoso “gato” com a eletricidade, o esperto pode estar colocando em risco sua residência e sua própria família, muitos incêndios aconteceram. O perigo da esperteza, quase sempre ilegal, depende do nosso comportamento perante as situações. Assim, antes mesmo de procurar os culpados depois das tragédias, é saudável avaliar se devemos nos permitir em tais situações de perigo. Tenho a consciência de que muitas vezes aceitamos as condições que nos oferecem, sem contestar, imaginando que estamos imunes a tragédias. Triste engano.

Marco Medronha         mmedronha@hotmail.com

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