sábado, 13 de setembro de 2014

O Saci-Pererê não envelhece



















Saci Pererê foi listado para concorrer a mascote da Copa do Mundo de 2014. (Foto: Montagem/Globo Esporte)
O tempo nos faz esquecer as lições que as lendas nos ensinaram quando crianças. Pena que mudemos tanto, a tal ponto de perdermos as referências boas que aprendemos na infância e que poderiam guiar nosso comportamento, parece que preservamos e cultivamos, com o passar dos anos, sentimentos mesquinhos e heranças malditas como o racismo.
Recentemente presenciamos a triste cena de uma jovem sendo execrada pela opinião pública, quando em um jogo de futebol chamou o goleiro Aranha de “Macaco”. Penso, que ela poderia ser eu, você ou qualquer um de nós sendo flagrado em um momento de emoção, onde a razão não explica, pois ela estava reproduzindo um sentimento trazido pelos antepassados e que nunca desapareceu da sociedade.
Envelhecemos centenas de anos, mal humorados e sem curar nossos traumas. Esquecemos com facilidade do Saci-Pererê, moleque travesso e brincalhão, que na pele de personagem popular alegrava a imaginação da criançada pulando numa perna só, fumando cachimbo e ostentando a touca vermelha. Segundo a lenda, ele vive escondido na floresta onde sua diversão é assombrar os homens maus que destroem a mata e o meio ambiente.
Está aí outra lição que não aprendemos. A ganância do homem continua desmatando a Amazônia, poluindo nossos rios, matas, lagos, praças e o próprio ar que respiramos. É tanta malvadeza que o coitado do Saci, nem na velocidade do seu redemoinho consegue assombrar.  Aliás, a assombração mudou de lado é pai que mata filho, mãe que joga bebê no lixo, homem que bate em mulher e mulher que vira lobisomem. Serão estas as lendas contadas por nossos filhos no futuro? Histórias em que o ranço venceu a alegria? Não quero acreditar.
Prefiro as histórias do negrinho moleque de uma perna só. Aquele com poderes mágicos para bagunçar as coisas, só pra depois encontrar e divertir as pessoas. O Saci-Pererê ficou mais popular quando foi adaptado e ganhou vida nas obras de Monteiro Lobato, onde virou figura querida e nada assustadora no Sítio do Picapau Amarelo. 
A personagem continua por aí fazendo as travessuras que toda criança deveria ter o direito vivenciar. Assim, com espírito serelepe teríamos mais ânimo e preparo para superar as adversidades. Vestir a carapuça do Saci é se despir dos preconceitos e saber que todas as cores, embora diferentes são complementares.   É saber que a convivência é uma arte e que a alegria não pode envelhecer.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com


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