sábado, 29 de junho de 2013

Primeiro a obrigação


Foto: Letícia Shinestsck

Muito das lições que aprendemos da vida, por certo vieram de nossos ancestrais. Uma frase, quase um mandamento, ficou gravado na minha memória: “Primeiro a obrigação”. Entendi desde cedo, que antes de tudo devemos cuidar das coisas vinculadas ao “trabalho”, a educação ou algo que venhamos fazer por nossa saúde. Depois, como ninguém é de ferro, fazer as coisas relacionadas ao “lazer”. Quando criança, primeiro o dever de casa, o tema da escola, depois a brincadeira ou lazer que na infância era sinônimo de “jogar bola”.

O tempo foi passando e a ordem dos fatores não mudou. Primeiro os estudos e muita dedicação, depois o final de semana o passeio, o namoro e o jogo de bola. Aliás, nada diferente da maioria dos jovens da minha geração. Quando invertíamos a ordem natural daquilo que aprendemos, o resultado não era favorável para nós e nada satisfatório para nossos pais e professores. Devo admitir que alguns poucos, dotados de inteligência acima da média, brincavam o tempo todo e depois mandavam muito bem nas provas.

Quando vejo na mídia tempos de legítimas manifestações que estamos experimentando, em todo o Brasil, lembro de cara daquilo que aprendi no passado com meus avós, pais, parentes, amigos, professores da escola e na vida: Primeiro a obrigação. É impossível não fazer ligação com as prioridades de nosso País, na véspera da Copa do Mundo. Poderíamos sim sediar um grande evento esportivo com mobilidade urbana e belos estádios se os investimentos em saúde e educação estivessem no nível desejado pela população.

Os tempos mudaram e o gosto pelo futebol do brasileiro também, nossos jovens não mais os mesmos. Os jogadores não jogam mais por paixão ou amor ao esporte, eles são mercadorias e moeda corrente na mão de empresários ou mercenários. A grande mídia que tanto alienou as pessoas, e ainda continua tentando, está perdendo espaço para os meios sociais, movimentos na internet até pouco tempo menosprezado pelos poderosos. Neste contexto, uma grande oportunidade de mudança para imprensa tradicional, que privilegia muito mais os anunciantes do que as manifestações populares em seus nobres espaços.

Não desejo apenas reproduzir as razões que as rádios, jornais e televisões vêm abordando, ou seja, aquilo que você leitor já sabe: O povo está descontente com investimentos vultosos nos estádios, com a precariedade da saúde, com a falta de dinheiro para a educação, com a corrupção, com altos impostos pagos ao governo, com a impunidade, com a falta de segurança, etc. e etc...

Agora na Copa das Confederações, uma prévia para a verdadeira Copa, onde o Brasil se mostra para o mundo e os turistas nos visitam para conhecer aquilo que propagandeamos como país maravilhoso, a população através das redes sociais encontrou o tempo certo de mostrar que a nossa política está ultrapassada e que os atuais partidos não nos representam. Um movimento jovem que ganhou a simpatia de todos, são famílias inteiras mandando o recado, principalmente aos governantes e a classe política: Primeiro a obrigação.



Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

terça-feira, 25 de junho de 2013

O homem inventa e a abelha produz


A capacidade inventiva do homem e a necessidade de criar novos mercados proporcionaram resultados positivos a um apicultor do estado do Paraná. A ideia criativa ter favos de mel dentro de vidros foi do extensionista rural, Nilo Deliberati. Ele inovou com a “produção de mel direto no vidro”, sugestão nascida com o propósito de difundir a técnica a outros apicultores.

Logo que vi o trabalho lembrei-me do dedicado apicultor de Pelotas, Marco Hofmeister, que por certo, antes mesmo da minha descoberta já deve ter conhecimento da tecnologia, pois é um estudioso no assunto. Caro Marco, talvez a sugestão não seja tão original, mas vale a pena conhecer o trabalho de “Identificação das novas tecnologias desenvolvidas pela agricultura familiar”, elaborado por Augusto Guilherme de Araújo, do Iapar, o processo foi desenvolvido em 1998 e divulgado no Show Rural Coopavel.

Descrição do funcionamento da inovação:
- Sobre a melgueira, coloca-se uma tábua de 41 x 51 cm com 20 orifícios para suportar os vidros de conservas vegetais, os quais já estão previamente preparados com cera alveolada. O período ideal de colocação é em meados da primavera, no mês de outubro. Em
- Cada vidro possui entre 450 e 500 gramas de mel e as principais vantagens do invento são: Nos vidros não há perdas; praticamente evita-se qualquer contaminação; o acondicionamento é ideal; o favo no vidro é muito atrativo e tem o preço de venda bem maior; o valor de venda é bastante compensador e atrativo ao consumidor, ainda que a produção de mel tenha uma pequena diminuição, quando feita no vidro. Não há manipulação alguma por parte do produtor, pois a embalagem fechada está pronta para comércio, não requerendo o processo de centrifugação.

A apicultura é muito apropriada à agricultura familiar e, particularmente, esse processo é interessante como alternativa para diversificar os produtos no mercado e garantir a qualidade.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Eu sou gaúcho

Era um sábado ensolarado e eu saia de Pelotas com minha esposa em direção ao município de Cristal. Passando por São Lourenço do Sul, busquei no rádio do carro uma emissora local, pois gosto de ouvir e apreciar a cultura de nossos imigrantes e as influências da tradição nas comunidades. A locutora do programa anunciava um concurso literário, ao mesmo tempo em que incentivava o envio de “histórias de pescadores” para compor uma publicação.
Pensei que poderia conhecer uma e quando puxei pela memória vieram muitas, mas uma em especial contada por meu pai ficou marcada. Ele me contou que numa certa noite foi pescar no Arroio Evaristo, próximo ao Rio Camaquã. A noite era de lua cheia, e para o seu Antônio, ideal para uma boa pescaria, pois nesta fase aumenta o metabolismo dos peixes e eles devoram as iscas.
Reza a lenda, ou melhor, a ”história de pescador”, que quase meia noite um vento forte começou a soprar e as árvores faziam barulho. Junto com o vento e uivos, ele começou a escutar uma cantiga que vinha da direção do mato. Meu velho resolveu se aproximar, mas não podia chegar muito perto, pois o mato era cheio de Unha de Gato, uma planta característica na região. Quanto mais forte o vento mais forte se ouvia a música, ele contou que ao chegar perto conseguiu escutar a letra da melodia: “Eu sou gaúcho” e repetia ao soprar do vento “Eu sou gaúcho”.
Bem pessoal... Meu velho pai pescador só descobriu do que se tratava, quando o tempo ficou feio de vez e, num relâmpago que clareou tudo, avistou um pedaço do disco do Teixeirinha grudado numa Unha de Gato, quando o vento soprava o espinho da planta riscava a faixa e tocava uma parte da melodia “... Eu sou gaúcho...”. Minha cara locutora, da qual eu não lembro o nome, este é um conto que me trouxe lembranças do meu querido e amoroso pai, ele não era pescador de verdade, mas tenho saudades de um tempo, em que o pai pegava o filho no colo pra contar histórias inesquecíveis.
Para as pessoas conhecedoras da região e da Unha de Gato, não é difícil imaginar que uma planta medicinal e indicada para auxiliar no tratamento de inflamações, reumatismo, atrite, asma, próstata, tumores, gastrites, gripes, entre outras... Possa tocar um simples pedaço de disco, mesmo que seja do Teixerinha, nosso gaúcho mais famoso.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Pelotas foi capital dos inventores rurais

Lembro com saudades de um tempo em que a pesquisa e a extensão rural trabalhavam para resgatar soluções criativas encontradas pelos próprios agricultores, com a finalidade de construir alternativas mais que econômicas e a inclusão social através do reconhecimento do talento vindo do campo. Foi no ano de 1998, que Pelotas se transformou na capital nacional dos produtores inventores durante a realização do 1º Encontro Sul Brasileiro de Máquinas para a Agricultura Familiar.
Naquele ano e durante o evento, a Embrapa Clima Temperado, em parceria da Emater/RS, recebeu cerca de 7 mil visitantes e reuniu mais de uma centena de invenções, todas tinham origem no pensamento simples do agricultor familiar, os quais com poucos recursos tornavam mais fáceis seus dias na lavoura. As invenções vinham de sucatas ou materiais das redondezas, que com pequenas adaptações tornam-se soluções para o plantio, colheita ou classificação de produtos.
Pois é... Nós que somos conhecidos como, a Capital do Doce poderíamos ter outro título. Aquele evento por algum tempo aqueceu o mercado de pequenas metalúrgicas e empresas de máquinas agrícolas, como por exemplo: A Torchelsen Bassi & Cia Ltda, localizada na Cascata, 5º distrito, teve sua demanda aumentada. Foram inúmeros equipamentos projetados ou adaptados para os mercados de Santa Catarina, Paraná e ao próprio Estado gaúcho.
A intenção dos fabricantes era a de facilitar a vida do homem do campo, conforme a solicitação da família, entre os inventos figuravam classificadoras de frutas, colhedor de batatas, arados, plantadeiras, alçador de sacos, mini tratores, cabines, pulverizadores, carretas agrícolas, chuveiro que funciona com lixo, um forno móvel para fogão a lenha (o micro lenha), um cortador de ferro muito rápido entre outras invenções superinteressantes. Além de 50 inventores só do Rio Grande do Sul, participaram também os produtores vizinhos do Uruguai e Argentina.

No sentido de resgatar algumas invenções fantásticas começo na minha coluna a mostrar algumas: Que tal essa engenhoca do produtor Edemar Macedo, de Vila Bela. 


A invenção, que serve para limpar o esterco das instalações ganhou o nome de Estrumaq, a máquina foi construída em 2008, em dois meses de trabalho. O inventor utilizou uma caixa de câmbio de um Fiat 147, o diferencial de um Fusca e o motor de uma moto 125 cc, com um banco de trator.
Os produtores continuam criando, produzindo e inventando máquinas e equipamentos agrícolas em toda a região sul do Brasil, em Pelotas e zona sul do Estado existem inúmeras oficinas, pequenas metalúrgicas com aptidão para desenvolver projetos. Fica aqui a ideia de voltarmos a sediar um novo Encontro de Máquinas para Agricultura Familiar, a fim de resgatar invenções e impulsionar o mercado dos pequenos empreendedores da região.



Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Mãe desnecessária







"Dê a quem você Ama :
- Asas para voar...
- Raízes para voltar...
- Motivos para ficar... "  Dalai Lama





Numa tarde de sexta-feira, quase noitinha, cheguei em minha casa e antes de ligar o computador para verificar recados nas redes sociais, coloquei a água para esquentar a fim de tomar um chimarrão daqueles macanudos... Com a água no ponto (16 bolinhas mais ou menos). Quando a tela abriu dei de cara com o texto postado por Dora Paines Gaudioso, minha querida amiga, prima, irmã ou outra relação de identidade muito próxima, que temos com aquelas pessoas especialíssimas. O texto estava escrito assim:

“A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a supermãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.

Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.

Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.

Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar”. Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.

Lembram da água que havia colocado para o chimarrão? Pois é, ferveu. Quando passamos do ponto com os filhos é assim: A gente fica tomando mate com água quente demais, a erva fica ruim e sem gosto.

Estou contigo Dorinha, não deixe a água ferver, se esquentar muito, abra a tampa para esfriar e oxigenar... Enquanto isso, reformulemos conceitos, pensamentos ou coloquemos outra água no fogo para oferecer o melhor mate quando necessário.



Marco Medronha                    mmedronha@hotmail.com






sábado, 25 de maio de 2013

O trigo e o joio

Em todas as classes sociais, segmentos ou outras tipificações que o homem atribuiu para separar as pessoas existem gente do bem e outras que não tiveram oportunidade de tornar-se, ou nasceram em ambientes desfavoráveis para tal. Na história da humanidade muitos foram as personagens que ficaram marcados por maldades e atrocidades que cometeram contra seus semelhantes. Assim, desde que o mundo é mundo existem pessoas misturadas, praticando o bem ou fazendo maldades, algumas fazendo muito e outras nada.

No meio rural também isto é perfeitamente identificável, enquanto alguns fazem de tudo para manter a dignidade e cumprir sua missão no mundo de sobreviver no campo produzindo alimentos, outros vivem na contramão do processo: trabalham pouco ou quase nada, pegam recursos públicos e não aplicam na produção e ainda se dizem perseguidos pelo sistema. Assim como o trigo e o joio, eles estão misturados, o ruim convive com o bom e se aproveita da semelhança para tirar vantagens.

Creio que a maioria entre os leitores conhece a parábola do “Trigo e o Joio”, uma das célebres parábolas de Jesus que aparece num dos evangelhos canônicos do Novo Testamento. De acordo com Mateus 13:24 – 30 durante o Juízo Final, os anjos vão separar os “filhos do maligno” (o joio ou ervas daninhas) dos “filhos do reino” (o trigo). Algumas traduções dão conta de que o “joio” é um tipo de azevém que se parece muito com o “trigo” em seus estágios iniciais de crescimento.

Acredito realmente que somente os anjos possuem o poder para separar o trigo do joio. Nós, entre os homens, na nossa realidade temos como dever continuar trilhando o caminho do bem. Santo Agostinho destacou a distinção invisível e disse “Eu vos contarei uma verdade, meus queridos, mesmo nos mais altos cargos há tanto trigo quanto joio e entre os leigos há trigo e joio. Que o bom tolere o mau; que o mau se transforme e imite o bom”.

Interpretações a parte, entendo que não cabe a nós julgar ou simplesmente retirar os maus do convívio, pois é salutar que continuemos no bom caminho.  Quem sabe, talvez praticando o bem e dando  exemplos, a gente do trigo possa influenciar a turma do joio e todos possam fazer parte de uma grande colheita.



Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

A tecnologia para o bem


  
Desde o início da humanidade a tecnologia é a ferramenta encontrada para facilitar e melhorar a vida das pessoas. Mesmo na pré-história, o homem já  procurava criar formas de sobrevivência, utilizando materiais líticos para confecção de armas de caça ou outros utensílios de pedra, material mais trabalhado no início pelo homem primitivo. O tempo da “pedra lascada” tornou-se um símbolo do atraso ou de algo ultrapassado na modernidade, mas na verdade, a tecnologia tem seu valor em cada período histórico, haja vista a invenção da roda, considerada por muitos como a maior inovação de todos os tempos.

Conceitualmente e de forma geral a tecnologia é o encontro entre a ciência e a engenharia. O termo inclui desde processos simples, como escolher a época mais indicada para colheita dos frutos ou momento adequado para o corte da madeira,  até outros mais complexos como o funcionamento de uma estação meteorológica ou mesmo de um centro espacial. Qualquer que seja a solução encontrada, todas são alternativas para resolver algum tipo de problema. Porém existem aqueles que utilizam as invenções do bem para fazer o mal, ignorando totalmente a finalidade para a qual estas foram criadas.

No que se refere as tecnologias para o meio rural, vem em minha lembrança, de imediato,  as pesquisas da Embrapa. Uma empresa genuinamente brasileira que está completando 50 anos com efetivas contribuições, em todas as áreas do cenário agropecuário. Os pesquisadores geram, em sua essência  a tecnologia do bem, pois são conhecimentos, métodos, técnicas, materiais, ferramentas e processos utilizados para resolver problemas e auxiliar na solução dos principais  dificuldades enfrentadas pela população rural.

As tecnologias geradas pela pesquisa agropecuária possuem reflexos diretos na vida da família rural e mesmo que não percebamos, muito da qualidade dos produtos que consumimos diariamente tem o trabalho intrínseco dos pesquisadores da Embrapa. 

Os recursos utilizados pelos agricultores podem representar muito mais do que um mero auxílio na solução dos problemas, mas uma grande oportunidade de geração de renda e melhoria da qualidade de vida. Fato que atinge na plenitude o objetivo da tecnologia e o seu compromisso com a sociedade: As tecnologias podem trazer benefícios para as pessoas da invenção da roda até a inovação dos aparelhos eletrônicos, desde que contribuam para melhorar as potencialidades dos seres humanos.

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com