sábado, 6 de setembro de 2014

Ora vá criar galinhas!


Aquilo que era entendido como um xingamento, quase uma ofensa, hoje pode ser compreendido como uma excelente ideia. A frase “ora vá criar galinhas!” é mais uma herança de provérbios trazidos pelos nossos imigrantes portugueses. O dito popular foi no passado aplicado para a pessoas sem habilidade ou nenhuma capacidade de exercer uma profissão, a não ser para os que, após a aposentadoria, se refugiavam em um sítio e optavam pela criação de galinhas afim de passar o tempo. 

O trabalho feito pela pesquisa agropecuária e a extensão começa a mudar o conceito de atividade passatempo. A avicultura colonial, hoje possui tecnologia suficiente para sustentar famílias no meio rural. O sistema avícola possui linhagens utilizadas para Corte Colonial – Embrapa 041 ou Poedeira Colonial – Embrapa 051, estas permitem aos agricultores, com pequenos investimentos integrar suas produções vegetais com a avicultura. A criação colonial, ainda apresenta outras vantagens como a pouca mão-de-obra e a integração dos jovens na atividade.

A avicultura colonial está muito próxima da avicultura orgânica e pode contribuir para a diversificação das atividades na agricultura familiar, especialmente em regiões onde se pratica a monocultura. A criação minimiza a utilização de agrotóxicos e medicamentos preventivos e, o mais importante contribui para o abastecimento dos mercados urbanos com um produto nobre gerando uma alimentação saudável a população e maior renda aos agricultores.

Neste sistema de produção, a busca é pelo bem estar das aves, com a consequente estimulação do sistema imunológico, diminuindo ou eliminando a necessidade de medicamentos quimioterápicos, desta forma se tem carne e ovos com muito mais qualidade. A alimentação é baseada exclusivamente em produtos de origem vegetal. Recentemente conheci, em Mariana Pimentel, seu Darci Turato, ele planta milho, mandioca, batata doce para utilizar na ração de seus frangos, atualmente, a avicultura colonial é sua maior fonte de renda.

Ao observar os rendimentos do pai, o filho Leandro Turato largou o emprego na cidade e implementou seu próprio aviário. Seguindo as orientações da pesquisa e extensão, as aves são criadas em confinamento, aproximadamente até 28 dias de vida e soltas em piquetes após este período. A diferença entre o manejo colonial e o convencional ocorre principalmente após este período, quando as aves terão livre acesso, a um piquete ao redor do aviário, com sombra e espaço para caminhar livremente. 

Em cada lote de criação, eles recebem cerca de 500 pintinhos, com apenas um ou dois anos de vida. Ao final de três meses cada um deles pesam mais ou menos três quilos, durante este tempo não existe perda de aves, devido manejo adequado. Pai e filho conseguem criar 3000 aves por ano e os compradores buscam na granja. Agora... você, amigo leitor, procure se informar quanto eles recebem por um produto dessa qualidade e se lhe disserem “ora vá criar galinhas!”, entenda como uma oportunidade de ganhar dinheiro.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Espaço de convivência

Foto: Marco Antônio/Secom
 
Para quem vive na cidade, os conceitos de espaço de convivência são fundamentais para uma relação harmoniosa entre as pessoas. As regras de respeito mútuo e do com viver podem começar no local de trabalho e estender-se aos ambientes de lazer. As praças arborizadas com bancos, tabuleiros de xadrez, equipamentos de ginástica, pista de skate, de ciclismo e esportes da moda reúnem grupos ou tribos de várias idades, credos e ideologias. São espaços para o trabalho e lazer que se complementam e agradam quem vive nos centros urbanos.
Estariam faltando espaços de convivência no meio rural? Recentemente em um dia de campo realizado no interior de São Lourenço do Sul, um conceito ficou claro:  O meio rural deve ser entendido como um modo de vida e não apenas como um espaço de produção, nesta ideia é no rural que o agricultor constrói sua relação com o trabalho, constitui família, faz amigos, participa dos grupos, associações, cooperativas e vive em comunidade.
A outra percepção diz respeito a preservação ambiental, o bom manejo dos recursos naturais torna o espaço de convivência das famílias mais aprazível e até mesmo lucrativo no sentido financeiro e da saúde das pessoas. Lugares com a natureza em harmonia, dificilmente são deixados para traz, comumente o campo é abandonado quando o próprio homem destrói os recursos naturais ao fazer o desmatamento e ao realizar práticas inadequadas de conservação do solo.
Embora não seja uma regra, isso está longe de ser uma utopia. Encontramos numa colônia de imigrantes alemães, localidade chamada Passo do Pinto, em São Lourenço do Sul, a família Radke e neles quero referendar como um exemplo, entre tantos outros da região sul. Na propriedade de economia familiar do casal Edwino e Ivone possui a principal atividade na bovinocultura de leite, as práticas de pastoreio rotativo em piquetes, a alimentação complementada com silagem e o tratamento homeopático dos animais mostram os sinais de avanços dos agricultores familiares na adoção de sistemas agroecológicos de produção. 
O agricultor Edwino Radke falou a um grupo de visitantes em sua propriedade que ele e a esposa Ivone dão contado recado, porque a propriedade está organizada de acordo com suas necessidades. A agricultora Ivone comemora os resultados e as melhorias nas condições de vida do casal. Ela conta que com a renda do leite e dos hortigranjeiros compraram um resfriador de leite, um trator novo e um automóvel zero quilometro. Os filhos saíram, mas não para a cidade, eles também são agricultores e moram por perto, disse a mãe agricultora entusiasmada.
Assim entendo que respondi a pergunta, pois não faltam espaços de convivência no meio rural, mas sim um modo ou filosofia de vida.
 
Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Árvores com personalidade



Quem disse que as árvores não tem personalidade? Acredito que tenham, assim como os seres humanos, elas possuem multiplas personalidades, com a vantagem de viver centenas de anos contribuindo com funções valiosas ao proporcionar qualidade de vida para as pessoas e equilíbrio da natureza.

O certo é que a arborização exerce papel de importância fundamental nos centros urbanos e no meio rural. Nas cidades, as árvores influenciam o clima, a qualidade do ar, atuam sobre o nível de ruídos, melhora a estética das ruas e avenidas, no equilíbrio da temperatura, na proteção do lençol freático, embelezam a paisagem, fornecem sombra e são o refúgio certo e indispensável à fauna remanescente nas áreas urbanas.

Mas é no meio rural que elas parecem ter um valor maior, muito mais do que promover o equilíbrio ambiental, elas são utilizadas diretamente pelos agricultores em construções de casas, galpões, cercas, utensílios e ferramentas de trabalho. O conhecimento vem dos antepassados que desbravaram os pampas e ali encontraram uma natureza exuberante.

Lembro de algumas muito faladas pelas suas utilidades: Corticeira, Angico, Guajuvira, Pitangueira, Aroeira, Figueira e a Amoreira, que até hoje enfeita, dá frutos e uma bela sombra nas tardes quentes de verão lá de casa. Já vi muitas espécies enfeitarem as entradas das estâncias e dizem ainda, que os índios plantaram as frondosas as Figueiras que existem ao longo da Costa Doce, para marcar o caminho a ser seguido.

Talvez você já ouviu falar que para uma trama ou moirão, capaz de segurar touros, nada melhor que a personalidade do Angico; para amarrar potros e aporreados, a preferência é pela Guajuvira; numa boa brasa para o churrasco, nada melhor do que Espinilho; como esquecer a sombra do Cinamomo e das Pitangueiras carregadas de frutos, que viravam obras de arte aos olhos e nas mãos do artista, em um final de tarde ensolarado.

As árvores tem personalidade e ainda são autossuficientes, mesmo sem se mover, elas vivem muito bem e se viram sozinhas. É necessário que tenham apenas os recursos básicos para sobreviver, água, luz, nutrientes e o que podem retirar do ambiente em sua volta. Provavelmente, o homem é sua maior ameaça.

 

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

 

domingo, 17 de agosto de 2014

Boa tarde senhora Aroeira!

 

Conhecer plantas nativas é uma habilidade que me falta e uma fraqueza que me acompanha pela vida. Identificar uma árvore entre centenas de milhares na natureza sempre foi uma tarefa mais apropriada para agrônomos, engenheiros florestais, biólogos, botânicos, técnicos agrícolas, índios, agricultores, gente que vive ou estuda a natureza. A um jornalista, mesmo com conhecimentos técnicos, o que atraí são as histórias.

Pois bem... tá ai uma planta que eu respeito, a senhora Aroeira, talvez por não identifica-la em meio a tantas árvores de uma floresta. Na verdade, sempre fui avisado quando me aproximava de uma, quando entrava na mata, logo vinha o alerta: Ao passar pela Aroeira demonstre respeito e fale o tempo ao contrário: se for de manhã diga “boa tarde senhora Aroeira e à tarde diga “bom dia senhora Aroeira”. Lenda ou não conheci algumas pessoas que ficavam com coceiras insuportáveis e brotoejas. Ao não cumprir o ritual, a pessoa adoece com sintomas de muita febre e visão turva, coisa muito parecida com o sarampo.

Segundo o que aprendi, o segredo consiste em manter pouca distância e muito respeito com a dita cuja, como se apresentasse diante de uma divindade. O cuidado, nesse momento é que não se deve nem pestanejar e se possível repetir três vezes o cumprimento às avessas, desta forma não precisa temer o mal da planta. Dizem que a Aroeira possui eflúvios que excitam de tal maneira o sangue de algumas pessoas, que, só por passar por baixo desta árvore, ou mesmo perto, adoecem de um modo alarmante.

Na vida conhecemos pessoas tipo Aroeira que nos causam coceiras e por vezes nos deixam doentes por emanarem fluídos negativos, prejudiciais à nossa saúde, não é verdade? Dessas é melhor manter distância e trata-las com respeito, humildade e precaução. Como diz aquele velho ditado português: “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

 

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

 

sábado, 9 de agosto de 2014

Aperto de mão


Ao ouvir a notícia que hospitais nos Estados Unidos estavam por aprovar uma lei que proíbe o aperto de mão entre profissionais da saúde e os pacientes fiquei surpreso com a quantidade de doenças de um ato, que para muitos é cheio de simbologia e, que ao mesmo tempo pode trazer prejuízos sérios para aqueles que em recuperação nas unidades de tratamento. Como lidar com a situação quando, dependendo da cultura, o gesto social é um relevante modo de expressar, confiança, afinidade, amizade e sentimentos entre os seres humanos.

O aperto de mão, na maioria dos países,  pode ser uma saudação ou um cumprimento que, seguido de um acordo verbal ou informal sela um compromisso entre as partes. Também é símbolo na concretização dos acordos formais assinados entre as pessoas ou instituições. No Rio Grande do Sul, principalmente entre os homens, o aperto de mão é mais que uma maneira de cumprimentar é um gesto que demonstra parceria ou respeito pelo outro. No entanto, em outras culturas, os mesmos significados são representados pela troca de beijos nas faces. Exemplos estão bem próximos, nossos vizinhos uruguaios ou mais distantes como o povo árabe.

O sorriso seguido do aperto de mão comunicam mais do que aparentam e são ricos em significados. Estudos realizados em 2008, do Journal of Applied Psychology, com centenas de estudantes mostram jovens que se submeteram a entrevistas para conseguir emprego fizeram parte de uma pesquisa, com recrutadores profissionais. Descobriu-se que havia uma forte sobreposição entre o grupo dos que receberam boas avaliações dos recrutadores e o grupo dos que tinham os apertos de mão melhor avaliados. Análises creditaram ao aperto de mão um efeito da extroversão do aplicante nas recomendações de contratação dos recrutadores.

Mesmo com este gesto tão positivo na vida das pessoas, a ameaça persiste. De acordo com a Unicef e a Organização Mundial de Saúde (OMS), a lavagem das mãos com sabonete pode reduzir infecções diarréicas em até 40%. Outro dado alarmante veio da Universidade do Arizona (EUA), esta constatou que o celular pode ter 10 vezes mais bactérias do que vasos sanitários. Meu Deus! Agora estamos mesmo perdidos, o celular que é quase uma extensão de nossos braços.

No mundo contemporâneo vivemos compartilhando tantos objetos, que até fica difícil de contar, pois imagine a condição das suas mãos se você não tiver uma higiene adequada. Na maioria das vezes é inevitável “conviver” com esses riscos, assim como é da natureza ter bactérias, vírus e fungos por todos os lados. 

Para evitar uma série de doenças a prevenção mínima fundamental é a higiene das mãos. Considerando o contato que temos com objetos contaminados e, também a necessidade de preservação deste gesto tão representativo e necessário entre as pessoas, o aperto de mão. 


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mão na roda


Nestes dias chuvosos de inverno sempre encontramos pessoas em dificuldades, principalmente quando acontecem temporais, ventos e mais recentemente as enchentes que deixaram desabrigadas mais de 20 mil famílias no estado. Voltava para casa, depois de um dia de trabalho dirigindo com cuidado para não lamear os pedestres já molhados na calçada. De repente, um senhor meio curvado e cheio de sacolas acena levanta o braço e acena me pedindo uma carona. Parei sem pestanejar, quando ele entrou disse: “Obrigado meu filho foi uma mão na roda”.

Se você ainda não ouviu o termo, “mão na roda” saiba que ele é bem coloquial, normalmente é utilizado para designar uma ajuda de grande valor. Um sinônimo para mão na roda pode ser “quebrar o galho”, quando um indivíduo ajuda o outro e o auxílio humanitário pode representar algo de extrema importância. Fiquei pensando... como é bom poder ajudar alguém a superar uma barreira, pois quem de nós já não passou por algum tipo de dificuldade na vida? As vezes, um gesto, uma palavra, um auxílio material, uma carona ou até mesmo emprestar o ouvido para um desabafo pode ser uma mão na roda.

Existe uma explicação para o termo mão na roda, pois dizem que antigamente, quando os carros possuíam tração animal e atolavam nas estradas, não havia solução a não ser pedir auxílio a outras pessoas, qualquer uma que passasse e pudesse ajudar, então todos colocavam a “mão na roda”, fazendo um esforço para tirar o veículo da lama, por isso o termo tem o sentido de ajuda, auxílio, que se presta a alguém. Geralmente é um préstimo de grande valor para quem recebe.

Em tempo de modernidade aparecem guias e manuais de grande utilidade para o cidadão. Em São Paulo, por exemplo existe o Blog Mão na Roda – Guia de sobrevivência do cadeirante cidadão, um tipo de orientação atualizada para os portadores de necessidades especiais, que mostra locais dotados de acessibilidade. A ferramenta de comunicação presta um serviço indispensável, uma mão na roda para quem possui dificuldades de locomoção e necessita ter uma vida cidadã. Uma iniciativa de um grupo de pessoas que serve de exemplo para governos desatentos.

As novas tecnologias também são referências de ajuda prática e eficiente, o surgimento do GPS proporcionou aos cidadãos grande facilidade de orientação para chegar a algum lugar, de automóvel ou mesmo caminhando, pois hoje a ferramenta já faz parte da telefonia móvel e está disponível nos aparelhos celulares. Não podemos esquecer os tradicionais manuais de instrução, peças impressas que acompanham vários tipos de mercadorias, principalmente os eletrodomésticos.

Com tantas facilidades oferecidas para auxiliar os cidadãos consumidores não é difícil confundir as intenções. É claro que existem interesses comerciais por traz dos tais “guias práticos”, os fabricantes tornam as coisas mais fáceis para estimular o consumo. Ainda prefiro o tipo de ajuda nostálgica, do tipo humanitário, da origem do termo “mão na roda”, em que as pessoas arregaçam as mangas para auxiliar o próximo.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Da porteira para dentro



Muito tem se falado sobre os problemas dos pequenos agricultores ou da agricultura familiar, onde as instituições indicam soluções ligadas ao desenvolvimento pela ótica do mercado, as quais geralmente são  baseadas em projetos e programas que não refletem a realidade, pois são criados por estudiosos de gabinete e estão ligados aos fatores externos, os quais nem sempre dialogam com as barreiras existentes da porteira para dentro.

O certo é que há décadas, os mais de 13,5 milhões de pequenos agricultores na América Latina vivem uma realidade parecida e enfrentam muitos problemas e dificuldades, na maioria internos, e cuja a solução está ao alcance das famílias rurais. Pela lógica, toda a mudança deveria acontecer de dentro para fora e por isso se faz necessário resolver questões culturais, históricas e educacionais como forma de alcançar a organização do seio familiar, na comunidade e depois para fora da propriedade.

Historicamente os problemas internos crônicos tem sido ignorados e por vezes minimizados por aqueles que tem por obrigação, olhar pelas pessoas do campo. Digo isso porque a culpa não está somente com os pequenos agricultores, quem interage com as famílias deveria ao menos ouvir e tentar ajudá-los. É também uma obrigação do Estado oferecer possibilidades que possam elevar a auto-estima, a confiança e o reconhecimento pelo agricultor na sua missão de produzir alimentos. 

Cursos de formação que visem identificar as causas internas que prejudicam o desenvolvimento humano, parece ser um bom caminho. A necessidade de promover capacitações que tratem de temas enraizados nas comunidades rurais precisam de abordagem, como por exemplo, as questões de gênero. O autoconhecimento e a conscientização sobre o meio e as coisas que cercam os fatores de produção merece tratamento por gente especializada.

Antes mesmo de ensinar técnicas de plantio, colheita e comercialização temos que cuidar das pessoas. Fazer chegar os recursos financeiros primeiro é colocar a “carreta na frente dos bois”, como diz o ditado. Existe muito espaço para trabalhar a organização familiar, o planejamento das atividades, o sentido cooperativo, associação para o trabalho, lazer e convívio social.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com