Vivemos um momento na
história das vaidades, em que onda é curtir nas redes sociais imagens, frases
de efeito, passeios, momentos em família e com amigos. Nada de errado, pois
hoje as modernas tecnologias propiciam maior aproximação entre as pessoas, mas
também é um canal de especial para os aproveitadores, mal intencionados,
espalharem o terror. Na pseudo segurança da internet, quanto mais expostos,
mais vulneráveis estamos.
O problema de uma
ferramenta tão espetacular de comunicação é que começa a deslumbrar as pessoas
de maneira tal, que estamos perdendo a noção daquilo que realmente é
importante. “Todo mundo quer ser querido, quer ser notado. Ninguém escapa”. É o
que diz o psicanalista Mário Corso, em seu livro A psicanálise na Terra do Nunca. Provavelmente, o autor teve como
base a essência dos seres sociais que vivem para os olhos dos outros e hoje,
mais do que nunca curtimos o instantâneo, o belo, a novidade e estranhamente a
tragédia.
Nas frequentes saídas para
o meio rural tive o privilégio de fugir da modernidade, do sinal do celular e
assim apreciar e curtir o valor do trabalho no campo, principalmente dos
agricultores familiares. Recentemente fui à localidade de Monte Bonito, em
Pelotas para fazer uma reportagem sobre a diversificação na propriedade rural.
Seu Teixeira, como é conhecido produz diversos tipos de alimentos para uma cooperativa
de pequenos agricultores. Nossa equipe encontrou o agricultor na lavoura
limpando canteiros de hortaliças manualmente. Alheio à modernidade das curtidas
na internet, o produtor falou do seu trabalho com orgulho, desde o amanhecer
até o anoitecer.
Naquela tarde ensolarada
curti a propriedade bem cuidada, a produção de alface, couve, cenoura,
brócolis, abóbora, feijão, mandioca e outros tipos de produtos que abastecem os
mercados e também a alimentação escolar. Curti comer uma bergamota arrancada do
pé, descascar uma laranja e degustar no calor sol gostoso do inverno. Curti a
revoada de pássaros, o som do riacho, o trabalho de polinização das abelhas e o
beija-flor voando rapidamente ao bicar as flores do jardim. Curti a atitude do
agricultor, seu Teixeira, em dividir com o filho o trabalho e a renda na
propriedade, num claro exemplo de como perpetuar a sucessão no campo.
Ao chegar a casa na cidade,
me vi novamente conectado nas notícias que transbordam pelas redes de
comunicação. Uma delas falava da morte de um menino, líder dos “rolezinhos”,
famoso por gostar de funk, pegar geral, tomar umas, andar na moda, ter carrões
“emprestados” e ser famoso. A ostentação do guri fazia muito sucesso, pois ele
tinha 56 mil seguidores no Fecebook e cada ação dele na rede social rendia no
mínimo 200 curtidas. Tudo tem limite, buscar intensamente a fama e o
reconhecimento público para satisfação própria pode levar ao nada.
A felicidade. Certamente não está em buscar freneticamente
nossos momentos de fama, ostentação de prazeres instantâneos e virtuais na
internet. Quem sabe, com muito menos esforço possamos sair da zona de conforto
para curtir os sabores do campo, sem pressa ao conhecer as formas de produção
agrícola, desfrutar dos sons da natureza e da serenidade do meio rural.
Marco Medronha mmedronha@hotmail.com
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