sábado, 30 de novembro de 2013

Cavalgada ao luar


Os Caminhos Rurais de Porto Alegre vem se constituindo numa oportunidade de lazer em meio ao campo, morros e matas preservadas. O roteiro aparece como opção a quem deseja fugir da vida cinzenta da cidade, onde predomina o concreto, o asfalto e o barulho insuportável de um trânsito cada vez mais caótico pelo excesso de veículos e seus condutores, com pessoas afetadas estresse e contaminadas pelo mau humor.

A Cabanha La Paloma faz parte de um desses roteiros e apresenta como contraponto o passeio a cavalo, como forma de lazer para familiares, amigos e  para o turista que deseja curtir um cenário rural próxima a zona sul da cidade. Entre os atrativos da propriedade de 15 hectares, está a realização da Cavalgada da Lua Cheia, que acontece a cada três meses. O evento, que faz parte do calendário oficial da Secretaria Municipal de Turismo, é também uma forma de cultivar as tradições gaúchas e praticar o turismo equestre.

No dia da cavalgada, a movimentação começa cedo na propriedade. Ao cair da tarde os animais começam a receber a ensilha e os tratos de alimentação e embelezamento, afinal cavalo e cavaleiro ou amazonas precisam estar bem apresentados para o charmoso passeio noturno pelo meio rural da capital dos gaúchos. O percurso é realizado entre duas e três horas, no ritmo “passo lento” e monitorado por guias experientes, com o auxílio da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e Brigada Militar.

Mesmo cercada de segurança, a companhia mais agradável e desejada é mesmo a da Lua Cheia. A fase da lua que inspira poetas, escritores, compositores, cantores, namorados e todos os apaixonados por uma noite enluarada. É uma fase da lua em que ela encontra-se refletida na sua totalidade sobre a terra. O disco lunar é visível à noite, pois a lua se opõem ao sol em relação à terra. O brilho característico, bem dominante nessa fase, é denominado luar.

A Cavalgada da Lua Cheia parece ser uma combinação infalível para quebrar as rotinas e experimentar o prazer de cavalgar ao luar. Tudo conspira a favor, o gosto pela tradição gaúcha, a terapia do lombo do cavalo, os amigos, os enamorados, o brilho do luar, o som da natureza e para completar um retorno feliz a sede da Cabanha, onde a culinária típica do campo é degustada, regada pela boa música tradicionalista.



Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Dever cumprido com louvor



Depois de escrever sobre os perigos do consumo de alimentos, principalmente para a saúde de jovens em idade escolar, desejo relatar uma realidade bem próxima, aqui na Zona Sul do Estado, o exemplo da prefeitura de Cerrito, a qual administra recursos oriundos do Programa Nacional de Alimentação Escolar de forma admirável. No município 100% da alimentação escolar vem direto da produção dos agricultores familiares. Uma ação que favorece a comercialização de produtos dos agricultores locais e promove a saúde dos futuros cidadãos cerritenses.

Méritos para o prefeito Flávio Vieira, que certamente sabe o que está escrito lá na Constituição Brasileira, no Art. 208, inciso VI: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (...) atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência a saúde”. No que se refere a saúde e educação, o prefeito Flavinho, como conhecido na região cumpre seu dever com sobra.

As diretrizes do PNAE preconizam o emprego da alimentação saudável e adequada; educação alimentar e nutricional no processo de ensino aprendizagem e o apoio ao desenvolvimento sustentável. Estas cruzam com as recomendações de Estratégias Globais, as quais objetivam atingir o balanço energético e peso saudável; limitar e redirecionar o consumo de gorduras não saturadas, eliminar o consumo de gorduras hidrogenadas (“trans”), aumentar o consumo de frutas, vegetais, grãos integrais; limitar a ingestão de açúcar e sal; e promover alimentação saudável em ambientes escolares.

As ações da prefeitura de Cerrito, representadas por suas secretarias envolvidas e o trabalho conjunto de instituições assistência técnica e extensão rural desenvolvem o potencial educativo das crianças e adolescentes, além de promover hábitos saudáveis de consumo de alimentos. Reflexos que se estendem da escola para casa, onde os pais não devem ficar indiferentes.

Na outra ponta, mas também integrados estão os agricultores familiares vendo a sua produção valorizada comercialmente e direcionada para alimentar e educar, muitas vezes seus próprios filhos. É o sentido de comunidade aparecendo forte e trazendo benefícios para todos.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

domingo, 24 de novembro de 2013

Somos aquilo que comemos


A sentença é tão simples e verdadeira, que deveria tocar direto à consciência das pessoas preocupadas ou não, com o bem viver. A frase “somos aquilo que comemos” poderia ser uma criação publicitária da atualidade, dado ao fervor e o apelo da mídia para o consumo, mas ao contrário o dito foi proferido por Hipócrates, considerado pai da medicina, que divulgou a ideia há mais de 2500 anos. Ele também, provavelmente foi o primeiro a concluir que a boa alimentação tem efeitos medicinais e vem antes do remédio.

Acredito que não é necessário fazer um curso de nutrição para mudar nossos hábitos alimentares, basta ouvir os profissionais da área, seguir as recomendações e não se iludir com o apelo publicitário por consumo dos alimentos prontos, práticos e baratos. Muitas vezes, provocam uma falsa sensação de modernidade ignoramos as propriedades maléficas ao nosso organismo contidas, por exemplo, em uma lata de refrigerante: O mais famoso deles possui 39 gramas de açúcar.

Ainda ontem cheguei a um restaurante para almoçar e observei um jovem pedir ao garçom, um litro de refrigerante, aquele de líquido escuro que promete frescor nos dias quentes. De imediato lembrei da palestra da nutricionista, da Prefeitura de Cerrito, Renata Solé. Ela, juntamente com o pessoal da Emater, reuniu famílias rurais para falar sobre alimentação saudável, promover avaliação nutricional em crianças e adultos. Considero este assunto tão importante, quanto promover práticas agrícolas para aumentar a produção.

Na palestra realizada na Vila Freire, meio rural de Cerrito, as famílias unidas e perplexas pelas informações contundentes assistiram o vídeo “Muito além do peso”, documentário que mostra de forma prática situações da vida real, onde crianças obesas consomem desmedidamente produtos industrializados, como salgadinhos, refrigerantes outros carregados de conservantes. Os pais, inconscientes e dominados diante dos apelos dos filhos se curvam ao choro e a mal criação e acabam cedendo este tipo de “alimento”, muitas vezes sem imaginarem ou ignorarem as consequências futuras. Segundo o documentário, atualmente 53% das crianças no mundo sofrem com a obesidade.

Segundo o psiquiatra e professor em Educação da Universidade do Porto,  Carlos Mota Cardoso, "Vivemos numa altura em que há um fundamentalismo relativamente à silhueta, mas os casos de obesidade aumentam a cada dia". Ele diz também que a publicidade promove mais doenças que a saúde. Mas devemos atribuir a culpa somente a publicidade? Penso que não, este é um tema de responsabilidade de todos. O exemplo deve começar em casa, ser reforçado na escola e tornar-se, inclusive uma política pública. Afinal estamos falando da saúde da população.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com








terça-feira, 12 de novembro de 2013

Ao sabor do mate

Conselhos de Martin Fierro – Carlos Ferreyra

O mate que me refiro é a erva-mate (Ilex paragurienesis), que nós gaúchos chamamos de chimarrão. O termo mate, como sinônimo de chimarrão, é mais utilizado nos países de língua castelhana, a mesma uma bebida característica da intrínseca dos habitantes da América do Sul. Os estudiosos da tradição sabem que adquirimos um hábito, um legado das culturas indígenas quíchuas, aimarás e guaranis.

O conjunto bomba, cuia e erva-mate saíram das aldeias para ocupar lugar cativo nos escritórios, nas repartições públicas ou particulares. O hábito de sorver um mate com erva moída fina ou grossa passou a ser uma prática quase obrigatória e, porque não dizer um vício. Nas reuniões das quais participo com freqüência, lá estão os participantes, às vezes contrariando as tradições: Cada um com seu conjunto de chimarrão individualizado como se estivessem a matear sozinhos. 

Em algumas vezes me incluo neste grupo e tento entender está lógica. Pois bem... Quando sorvemos nosso mate quente com sabor quase amargo experimentamos sensações de coragem e até de clarividência, em alguns segundos parecemos elaborar perguntas ou respostas mais consistentes. Sou daquelas pessoas que não tenho respostas prontas e em algumas vezes encontramos pessoas que tem prazer de fazer perguntas inesperadas, às vezes mal intencionadas, só para colocar o outro na famosa “saia justa”. Nestas ocasiões queria sempre ter uma resposta ao sabor do mate.

Talvez seja por isso que o mate individualizado, no grupo comece a fazer sentido para algumas pessoas, se pensarmos na vida competitiva atual, onde o indivíduo precisa provar em todo momento que é capaz. No mundo dos concursos, onde aparentemente este possa ser uma ferramenta de justiça, já vi muita gente boa fora e outros tantos muito ruins dentro. Porque isso me incomoda? - Respondo ao sabor do mate: Diferente da concepção original do mate compartilhado, em um mesmo grupo com objetivos iguais, as pessoas são percebidas como concorrentes e não mais como parceiros.

Que a ideia original do mate seja perpetuada, que na roda de mate cada um possa ter um tempo para sorver, pensar e ter consciência do no que dizer. Que o hábito de matear “solito” aconteça quando estiver realmente só.  Que o mate possa ser tomado, não como uma forma maquiavélica de trapaça, mas como algo espiritualizado, saboreado como partilha do conhecimento e da parceria.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com



domingo, 3 de novembro de 2013

Quando o virtual é real


Antes de falar sobre o mundo virtual e digital, quero lembrar de uma aula sobre Novas Mídias, do doutor, professor e amigo Alex Primo. “Popularmente, chama-se de virtual tudo aquilo de diz respeito às comunicações via internet” e de acordo com os conceitos de Pierre Levy, citado por Alex, o virtual é um espaço real e, como exemplo cita o nosso próprio relacionamento na atualidade, com os modernos meios de comunicação, que existe de fato, é concreto e real.

O universo de potencialidades do mundo digital esteve recentemente a serviço do meio rural, tornando possível uma atividade característica dos pecuaristas familiares de Jaguarão. Vejamos, a extensão rural no município tem utilizado o concurso, como uma ferramenta para estimular aos pecuaristas familiares a troca de experiências e conhecimento de requisitos e técnicas para melhorar a qualidade do rebanho.

Pois bem... Os primeiros concursos ainda foram realizados na área do Sindicato Rural, na cidade, mas surgiram dificuldades relativas ao custo e logística para o transporte de animais, de vários pontos do município até a cidade. A sugestão criativa dos extensionistas locais foi gravar em vídeo os lotes de terneiras e vaquilhonas concorrentes, apenas com numeração para avaliação dos jurados. 

Uma equipe de comunicação foi a campo e gravou 34 lotes de terneiras e vaquilhonas, previamente selecionados pelos produtores, filmados num mesmo enquadramento, os quais foram editados em tempos iguais para cada lote. Graças à tecnologia digital, o concurso foi viabilizado de maneira econômica, pois os organizadores não possuíam estrutura para buscar os animais, em diferentes pontos do interior do município. O custo existiu, mas ficou dentro do serviço de assistência técnica e social prestada pela Emater/RS e, os 102 animais não precisaram ser transportados, couberam em um cartão de memória.

No dia do concurso, os pecuaristas e suas famílias foram até a cidade e lá pelo computador, assistiram na tela de cinema, as terneiras e vaquilhonas num belo desfile. Puderam então apreciar a qualidade da produção do campo, também tiveram a comprovação que o virtual é real, que alternativas e tecnologias existem... Precisamos de mais iniciativas e de criatividade.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com