segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A mosca gigante




 Ilustração: Wilmar Marques

Uma história acontecida há mais de 10 anos, deu muito falatório e ganhou espaço em uma pequena comunidade rural, no interior de Morro Redondo. Quando os pequenos agricultores se reuniam no armazém, na igreja, no futebol, no velório ou nas festas da comunidade, o comentário era o ataque da “mosca gigante” nos pomares, principalmente nos de pêssegos. O assunto causou alvoroço e medo entre os produtores, pois segundo relatos, o moscão era maior que um desses touros da Expointer.

No meio rural, onde existia cultivo de árvores frutíferas, as famílias preocupadas com o ataque do bicho colocavam armadilhas, como medidas de prevenção ao estrago que a “mosca gigante” poderia fazer na produção. Uma verdadeira operação de guerra contra o moscão foi instalada, eram grandes estacas ponte-agudas, espantalhos gigantes e até mesmo um pulverizador preparado com inseticida, a ser aplicado no caso do inseto aparecer. Afinal, as frutas eram fonte de renda importante na maioria daquelas propriedades.

O tempo passou e nada da “mosca gigante” aparecer... Ufa! Ainda bem. Comentava a população do lugarejo. Mas, o pessoal começou a ficar desconfiado e resolveram tirar a limpo a história do moscão que estava virando lenda. A oportunidade de esclarecer o fato apareceu durante uma reunião com os técnicos da extensão rural, pesquisadores e professores universitários. O líder da comunidade convocou todos os fruticultores para uma reunião no salão da comunidade, certos de que os técnicos doutores tivessem  uma explicação.
O evento começou com gente até pelo lado de fora do salão, os técnicos iriam falar sobre o controle da mosca-das-frutas (Ceratitis Anastrepha), inseto que ataca os pomares de pêssegos ainda na floração. A comunidade não tinha luz elétrica, mas os palestrantes prevenidos levaram um gerador de luz e projetaram na parede imagens de pomares atacados pelos insetos e algumas características da mosca que causa estragos. A surpresa aconteceu quando foi projetada na parede branca a imagem (2m X 3m) de uma mosca e um dos presentes gritou apavorado: - “É ela... A mosca gigante! Eu sabia que era verdade”.
Na comunicação com os agricultores muitos fatores devem ser levados em consideração, em algumas comunidades isoladas, em que as tecnologias da informação não chegaram, as pessoas podem ter entendimentos diferentes daquilo que queremos comunicar. A realidade na qual convivem podem levar a uma compreensão literal do que ouvem ou vêem. A percepção do que falar ou do que mostrar é tarefa do educador para que não haja ruídos na informação.
Depois de resolvido o mal entendido da “mosca gigante”, para alívio geral, os palestrantes mostraram outras forma de combate contra a mosca-das-frutas, especialmente a isca tóxica. Segundo os técnicos, a arma mais indicada é o monitoramento da praga, onde é aplicado, em partes do pomar, uma substância à base de proteína que servirá de atrativo alimentar, como o produto atrai a mosca, não é preciso fazer a aplicação de agrotóxico em todo o pomar.
Através das armadilhas, o agricultor observa a necessidade de pulverizações e assim, controlando a mosca, evita um problema gigante na colheita: Frutos danificados.

Marco Medronha        mmedronha@hotmail.com




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