domingo, 3 de junho de 2012

Onde está a pauta?


Toda a semana o jornalista se envolve com pautas que vão gerar a produção de reportagens. Tecnicamente, a pauta é a orientação que os que os repórteres recebem para desenvolver o assunto gerador da história que será contada, com quem deverão falar, onde e como. A pauta, nem sempre pode ser planejada, na vida de um repórter muitas vezes ela aparece de improviso, como por exemplo: um acidente de carro, uma chuva de granizo inesperada, a descoberta de  falcatruas, a queda de um político influente, entre tantas outras.

Na vida de repórter rural já produzi infinitas pautas e na prática confirmei a teoria de que é necessário estudar minimamente o tema, conversar com as pessoas sobre o assunto, com a finalidade de quando chegar ao local do evento estar instrumentalizado e ter condições de dialogar com as pessoas envolvidas. A pauta não é rígida, o repórter tem a liberdade de modificar as abordagens e sugerir outros entrevistados e até mesmo mudar consideravelmente a natureza da reportagem.

Nas jornadas pelo meio rural aprendi que o produto final da reportagem pode ter resultados inesperados e nem sempre “rende” aquilo que imaginamos. Simplesmente, porque a fonte da notícia são pessoas e estas podem atender ou não as expectativas. O repórter, por sua vez, não deve exercer uma posição de  inquisitor, mas alguém que saiba dialogar, conversar. Não raramente, de onde menos esperamos é de onde surgem as grandes reportagens, as vezes no mais simples rincão e com as pessoas mais humildes.

Este desafio de entender a essência de agricultores familiares, pescadores, índios, quilombolas e assentados da reforma agrária, público que na sua maioria esta à margem das políticas públicas, das tecnologias e que ao mesmo tempo são fundamentais, não só  para a produção de alimentos mas para a sustentabilidade ambiental, e por muitas vezes para o equilíbrio social.

Dias desses fui no município de Jaguarão produzir duas pautas: manejo rotativo de pastagens e tosquia de inverno. Os técnicos e produtores familiares mostraram um trabalho exemplar de manejo com ovinos e com bovinos em propriedades de belo aspecto visual. Junto com o cinegrafista Jonas, captamos imagens que ao final do dia nos deixaram realizados, mas quando a noite caiu ainda atendemos um último chamado, daqueles que se atende por amizade ou consideração, ou até por sentimento de solidariedade.

Conhecemos então, o trabalho da professora Silvia com alfabetização de adultos, uma pessoa iluminada que ministra suas aulas na garagem de sua humilde casa no bairro Pindorama. Naquele dia apenas três alunos estavam presentes, mas a casa estava cheia de esperança e muita sabedoria, conhecimento que não se encontra nem nas melhores universidades, mas sim na vivência de cada um deles. Depois de muitas trocas e horas de agradável convivência percebi que ali estava a minha pauta do dia,  pelo menos aquela que prefiro: descobrir o encanto das pessoas simples.


Marco Medronha


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