sexta-feira, 17 de julho de 2015

O ganha tempo com o diálogo


O diálogo pode ser considerado um caminho seguro para o entendimento entre as pessoas e a descoberta de novas realidades. Caracterizado pela conversa entre dois ou mais indivíduos, onde o consenso prevalece, a conversação estabelecida é processo propulsor de troca de ideias e alternativas para resolução dos problemas. A criação do diálogo veio do teatro em substituição ao monólogo, a compreensão dos fatos históricos pelo colóquio, no sentido de informar as pessoas sobre o presente é também uma estratégia de comunicação poderosa.

Um programa chamado “Dialogando com a Comunidade”, realizado no município de São José do Norte, utiliza a lógica do diálogo para promover o desenvolvimento técnico e social das comunidades rurais. Através do calendário de visitas, um grupo formado por extensionistas da Emater/RS-Ascar e secretarias municipais da Prefeitura passam o dia conversando com as famílias rurais, onde o propósito é ouvir primeiro todas as demandas, conhecer os problemas e as potencialidades, com o objetivo de elaborar um plano de ação com foco nas ações prioritárias.

Em outra etapa do programa, o grupo realiza novas reuniões com a comunidade onde o momento é de apresentar, discutir propostas para planejar avanços nas áreas de produção da agropecuária, melhorias sociais e culturais. Recentemente acompanhei um dia desses na Comunidade de Capela e pude comprovar o resultado das ações quando a origem vem do diálogo. Parece elementar que para avançar nos processos democráticos, verdadeiramente comunitários é preciso conhecer realidades, mas infelizmente isso na prática não acontece, pois as chamadas “políticas públicas” veem quase sempre de cima para baixo sem dar ouvidos para aqueles que mais precisam se expressar.

No que se refere à comunhão fática, esta forma de discurso entendida como diálogo, preenche uma função social e esse deve ser o principal objetivo. Recordando os conceitos de Benveniste (2006), “A conversa, por exemplo, é um gênero bastante desprestigiado nas teorias discursivas, isso porque conota temas aleatórios, desnecessários e que, por isso, não produzem resultados concretos”. 

Concluo afirmando que, este tipo de proposta de trabalho não é nenhuma perda de tempo, ao contrário só existem ganhos e maiores chances das políticas darem certo, além de produzir resultados satisfatórios para realmente “todos”.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

sábado, 4 de julho de 2015

Senha do coração


Um dia desses precisei digitar uma senha e não lembrei da combinação, após três tentativas frustradas bloquei a conta. Isso possivelmente já tenha acontecido com você, o inconveniente de ter esquecido os dígitos da senha. Nada anormal, pois com tantas combinações que utilizamos diariamente... Eu mesmo contei pelo menos 20 senhas que utilizo com frequência: Senhas de bancos, do computador, do facebook, do msn, do skipe, do blog, do cartão de crédito, do alimentação, do combustível, do cadeado e lá se vai. Muitas dessas dobradas, com letras e números.

No conceito tradicional, senha é uma palavra ou código secreto previamente convencionado entre as partes como forma de reconhecimento. Em sistemas de computação senhas são amplamente utilizadas para autenticar usuários e conceder-lhes privilégios — para agir como administradores de um sistema, por exemplo — ou permitir-lhes o acesso a informações personalizadas armazenadas no sistema. No meu entendimento a senha é um conjunto de caracteres combinados (letras e números) utilizados para acessar bens, serviços, buscar informações e até para comunicar-se, acreditem. As pessoas hoje, mesmo no mesmo ambiente, conversam pelas redes sociais.

Como era a vida antes das tecnologias da informação? Na contemporaneidade vivemos cercados de números e letras e, necessariamente as ações implicam no uso de senhas para chegar a um objetivo. Com certeza vivemos tempos de relações frias, mediadas por códigos de defesa para proteger o cidadão em seus atos rotineiros. A senha é pessoal, intransferível e foi criada para dar segurança ao usuário. Por isso, existe o conceito de senha forte ou fraca, quanto mais complexa, mais impessoal, menos possibilidade de ser violada.

Penso que a senha mais forte é também a mais simples e está dentro de nós. A senha do coração, não pelo fato de ser um órgão vital, mas sim pelo sentimento que carregamos nele. O segredo para uma vida segura, não está na complexidade e na dificuldade para os outros e sim na simplicidade de ações e atitudes, exemplos deixado por Jesus, há mais de 2000 anos. Através da senha do coração, ele mostrou que caminho para acessar a felicidade é compartilhar a sua senha com outros. Entre todas as senhas, a do coração nos ajuda a ser inviolável e conviver com todas as outras.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sábado, 20 de junho de 2015

Agricultor Cidadão



Na chamada Era da Informação, também conhecida como Era Digital ou Tecnológica, caracterizada por invenções do tipo microprocessadores, rede de computadores, fibras óticas e computadores pessoais, cada vez mais o conhecimento passa a ser commodities, algo valioso para a tomada de decisões e, nesse contexto, estão dois personagens fundamentais para o desenvolvimento agropecuário efetivo: o extensionista rural e o agricultor, que representa é claro, toda a sua família e a classe de trabalhadores do campo.

Recebi recentemente este texto, do colega e engenheiro agrônomo, Cláudio Doro e como excelente extensionista rural que é entende perfeitamente a importância da comunicação e educação para se construir uma consciência de “agricultor cidadão”, ele diz assim:

“A comunicação traz inúmeras contribuições para se alcançar, o tão desejado desenvolvimento sustentado do setor agropecuário, destacando-se dentre elas, a que fala mais de perto do principal objetivo da Extensão Rural: trabalhar para que os produtores rurais e suas famílias participem do seu próprio desenvolvimento, aprendendo a identificar seus problemas e debater, entre si, as experiências para a solução dos mesmos, sem falar da geração de emprego e distribuição da renda.

Para a Extensão Rural, o agropecuarista não deve ser, apenas, um homem para cultivar lavouras e criar animais. Ele é uma pessoa, um chefe de família, um cidadão, um membro de comunidade e participante do desenvolvimento socioeconômico e cultural do meio em que vive.

A Extensão Rural é fundamental no meio rural, pois trabalha com a educação não formal dos agricultores familiares, têm a responsabilidade de formar um indivíduo/cidadão, sobretudo no mundo globalizado, com visão de futuro, com novas habilidades e acompanhando o que se passa, também fora da porteira, enfim exercer seu direito de cidadania.

O Extensionista rural deixou de ser apenas um repassador de novas tecnologias, para ser um comunicador e educador, exigindo aplicar seus conhecimentos de sociologia, psicologia, antropologia e ética, objetivando transformar os agropecuaristas em agentes do processo produtivo, valorizando seus conhecimentos e respeitando seus anseios”.

Por mais de 60 anos, o papel de educador e comunicador do extensionista constrói uma relação de amizade e confiança no meio rural do Rio Grande do Sul. As famílias rurais ultrapassam etapas na comunicação, embora os primeiros métodos: “visitas”, ainda sejam praticados, hoje as informações chegam também por meios massivos como o rádio e a televisão e neles o agricultor também ouve e se vê passando a ser protagonista da sua própria história.

Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

sábado, 30 de maio de 2015

60 ANOS CORAÇÃO DOS GAÚCHOS






Desde 1955, a Emater/RS-Ascar é referência de qualidade em Assistência Técnica e Extensão Rural no Rio Grande do Sul. As ações extensionistas transformaram a vida social e econômica da população gaúcha, em especial daqueles que vivem no campo.

Um grupo obstinado de idealizadores concebeu a Extensão Rural no Estado, a missão de concretização da ASCAR coube ao Diretor do Banco Agrícola Mercantil S/A, Kurt Weissheimer, em 2 de junho de 1955, a criação da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural. O objetivo inicial foi o de promover o “desenvolvimento da agricultura e o bem-estar das populações rurais, através do crédito supervisionado ao pequeno agricultor, criador e assistência aos mesmos e sua família”.

Os extensionistas rurais, formados por grupos de pessoal técnico e administrativo, tinham como atribuições prestar a necessária ajuda, com prioridade para os pequenos produtores rurais, no melhoramento da agricultura e da vida rural.

Ao começar a saga extensionista, “moços” e as “moças” da Ascar, contratados e treinados partem para consolidação dos métodos de comunicação com as famílias rurais e a sociedade, os tradicionais dias de campo, demonstrações técnicas, oficinas, unidades demonstrativas, visita às propriedades rurais e vários outros que fazem parte do cotidiano dos técnicos da Emater/RS.

Hoje, a instituição é referência no uso de metodologias de comunicação e a presença nas comunidades rurais faz parte do cenário, está enraizada no campo e tornou-se vital para a população rural e para o desenvolvimento das políticas públicas do Estado. A instituição conquistou definitivamente o Coração dos Gaúchos.

Consolidação de uma Extensão Rural para Todos
As transformações ocorridas na sociedade justificam novos procedimentos institucionais em termos de missão e funções da extensão rural. As entidades prestadoras destes serviços se aproximam mais do interesse e heterogeneidade de seu público, com metodologia e oferta de atividades diferenciadas. Neste contexto, a Emater/RS-Ascar, tem uma necessidade permanente de repensar suas estratégias institucionais, mudando, se necessário, a sua forma de trabalho para acompanhar a dinâmica da sociedade rural-urbana.


domingo, 24 de maio de 2015

Parábola do Velho Lenhador



A parábola pode ser compreendida como uma narração figurativa, na qual por meio de comparação, o texto nos proporciona entendimento de outras realidades, tanto fantásticas quanto reais. A experiência dos mais velhos, por exemplo, é muitas vezes desvalorizada e revestida com a conotação de algo ultrapassado. Assim como as pausas para o descanso podem ser entendidas como sinais de fraqueza ou cansaço, quando na verdade se configuram em excelentes estratégias para melhorar o desempenho.

A parábola do Velho Lenhador ilustra bem o valor do saber experiente sobre a força física e a importância de estarmos sempre afiando nosso “machado” na fé, na vida pessoal e na profissão que exercemos. Diz a parábola: “Certa vez, um velho lenhador, conhecido por sempre vencer os torneios que participava, foi desafiado por outro lenhador jovem e forte para uma disputa. A competição chamou a atenção de todos os moradores da localidade. Muitos acreditavam que finalmente o velho perderia a condição de campeão dos lenhadores, em função da grande vantagem física do jovem desafiante.

No dia marcado, os dois competidores começaram a disputa, na qual o jovem se entregou com grande energia e convicto de que seria o novo campeão. De tempos em tempos olhava para o velho e, às vezes, percebia que ele estava sentado. Pensou que o adversário estava velho demais para a disputa, e continuou cortando lenha com todo vigor.

Ao final do prazo estipulado para a competição, foram medir a produtividade dos dois lenhadores e pasmem! O velho vencera novamente, por larga margem, aquele jovem e forte lenhador.

Intrigado, o moço questionou o velho: Não entendo, muitas das vezes quando eu olhei para o senhor, durante a competição, notei que estava sentando, descansando, e, no entanto, conseguiu cortar muito mais lenha do que eu, como pode!
- “Todas as vezes que você me via sentado, eu não estava simplesmente parado, descansando. Eu estava amolando meu machado…”.

A lição serve para muitas situações que enfrentamos na vida. Às vezes baixamos a cabeça e nos desgastamos fisicamente sem nos darmos conta que para quase tudo existe uma boa estratégia. Ainda para contribuir deixo aqui um antigo Provérbio Chinês: “Se quiser derrubar uma árvore na metade do tempo, passe o dobro do tempo amolando o machado." 


Marco Medronha          mmedronha@hotmail.com 


sábado, 16 de maio de 2015

A imitação da vida



Cada vez fico mais convencido de que as respostas que precisamos para os problemas da vida contemporânea encontram soluções nos milhões de exemplos mostrados pela natureza. E não estou me referindo somente às conseqüências para a saúde, como o consumo inadequado de alimentos, a intoxicação por venenos, o uso de drogas sintéticas, estresse ou outros males da vida moderna. Falo de uma ciência que tem como objetivo estudar as estruturas biológicas e suas funções, a qual procura aprender com a natureza através de observações, estratégias e busca de soluções.

A biomimética é uma recente área do estudo científico que provém da combinação de duas palavras gregas bíos, que significa vida e mímesis que significa imitação. De forma direta podemos dizer que é o domínio do estudo que promove a imitação da vida. Sem mesmo que nos demos conta, a ciência está presente nas tecnologias inovadoras que experimentamos ou vivenciamos. Quando nos deslumbramos com uma obra fantástica da arquitetura em forma de espiral, caracol ou cupim, lá está a ciência que imita a vida. 

As abelhas e suas formas organizativas deram origem às conexões dos computadores, as asas do beija-flor inspiraram as hélices dos helicópteros e por aí se vão inúmeros exemplos. Muitos outros produtos criados a partir das observações da natureza trouxeram avanços inestimáveis à medicina, por exemplo. Um deles é o biofilme, tecido inspirado na pele do tubarão que evita a infecção hospitalar. Outros exemplos, alguns que conhecemos bem estão em destaque:

Velcro - Desenvolvido a partir de 1941, pelo engenheiro George de Mestral a partir da observação de sementes de grama dotadas de espinhos e ganchos que se prendiam nos pelos de seu cão; 

Superfícies de baixo atrito - Inspirada na forma como a pele dos peixes reage ao contato com a água, essa tecnologia, aplicada ao seu traje de natação, ajudou o nadador Michel Phelps, em suas conquistas nas piscinas. A mesma tecnologia tem sido aplicada também em cascos de navios, submarinos e mesmo aviões; 

Telas "asa-de-borboleta" - São superfícies de visualização de baixíssimo consumo de energia, baseadas na forma como as asas de borboletas refletem a luz; 

Efeito lótus - Baseado na forma como as folhas do Lótus repele a água e a sujeira, diversos produtos estão sendo desenvolvidos na indústria para aplicação em tecidos, metais, pára-brisas de aviões e faróis de automóveis. 

Estes, embora valiosos, são pouquíssimos exemplos diante do gigantesco potencial que a biomimética tem para oferecer como resultados. Existe na natureza trilhões de espécies das quais menos de dois milhões foram catalogadas até agora. Então eu pergunto: Se nos sistemas biológicos são encontrados as resoluções de problemas da engenharia, da física, da química, da arquitetura, da informática, porque os avanços da tecnologia na produção de alimentos imitam tão pouco a natureza? 


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A hora da formiga



O pessoal da minha geração (pré-internet), por certo irão recordar da histórinha infantil, em que a cigarra vivia cantarolando com sua guitarra e convidando a formiga, que trabalhava pesado carregando folhas,  para largar tudo e irem em busca de diversão. A hora da formiga trabalhar é sempre a hora do agricultor, pois assim que termina a colheita começa uma nova safra.

Na época de preparo do solo para o plantio das culturas de verão é só o início do trabalho que envolve a maioria dos agricultores. Agora é a hora do produtor, assim como a formiga faz, garantir-se para um inverno mais tranquilo. Um clássico exemplo entre as práticas agrícolas é a silagem, na qual o milho plantado agora vai garantir a alimentação das vacas no inverno. Nesse tempo de trabalho do agricultor formiga, muitas são as cigarras com poderes de persuasão, de fala fácil e o canto ardiloso, que tem levado muitos agricultores a perderem o foco. 

Portanto, atenção as armadilhas melodiosas e mantenha seu plano de trabalho, pois o agricultor pode ser na verdade diferente da formiga quando faz o planejamento das rotinas de atividades na propriedade, o ano todo. Neste caso, o trabalho não fica concentrado apenas numa época, só para exemplificar: Se conseguir armazenar água na propriedade durante o inverno, através de cisternas ou até mesmo no açude, não precisará sair correndo no verão e gastar o que não tem de recursos para molhar as plantas. 

Outro exemplo é realizar as práticas conservacionistas como o terraceamento (curvas de nível), cobertura do solo através do plantio das pastagens de inverno. Estas são práticas simples e obrigatórias a todo agricultor. Na fruticultura temos no inverno as podas de limpeza e de frutificação nos pomares, as quais são necessárias para uma boa produção de frutas no verão. Na pecuária temos o melhoramento do campo nativo e os cuidados com a sanidade do rebanho.

Outra medida necessária no verão ou no inverno é cuidar as outras formigas e, assim como fez a rainha da fábula, se alguma delas cair na tentação e sair por aí... tocando violão, seja firme e procure trazê-la de volta, pois não é nada bom ver o formigueiro espalhado campo afora. Fazendo o planejamento durante o ano, o agricultor poderá ter também tempo, não só para se divertir, mas também condições de chamar “as cigarras” para tocar na sua festa.

Fábula: “No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: Toque e cante para nós. 
Para cigarra e paras formigas, aquele foi o inverno mais feliz das suas vidas”.

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com