Aos domingos à tarde
no interior do Rio Grande do Sul, por muitos anos, a corrida de cavalos foi a
grande atração das famílias rurais, alguns municípios gaúchos a cancha reta
ainda é preservada, assim como o gosto do homem dos pampas pelos cavalos. A
competição é para muitos um acontecimento a parte, na corrida são feitas
apostas e os animais são preparados para a “penca”, um termo regional que
define a corrida de cavalos numa cancha reta de mais ou menos 700 metros.
Ainda lembro da zoiera
de uma corrida de cavalos, entre gaúchos pilchados e prendas bem arrumadas,
sempre havia algum borracho fazendo fiasco, depois de alguns goles de cana os
tauras apostavam até o que não tinham. Guri ou piá, como chamam os pequenos se
perdiam na poeira de cada penca corrida e não tinham muitas chances de se dar
bem, só olhar o movimento, mas tinha algo que valia a pena: o refrigerante
geladinho e o gostoso pastel de carreira.
Ao comando de “se
vieram caraco”, cavalos e jóqueis começavam a corrida e daí até o final era uma
gritaria só, eu pequenino nunca consegui ver uma chegada, mas me contentava
enquanto os grandes comemoravam, em ver o retorno dos competidores.
Ali, na cancha reta,
aprendi que as raças ou pelagens de cavalos tinham influência no resultado por
seu melhor ou pior desempenho, mas até hoje não sei qual a melhor, mas sei que
falavam em zaino, tobiano, tordilho, colorado, douradilho, bragado, malacara,
gateado, lubuno, rosilho e pangaré, entre outros.
Lembro que patrões e
peões tinham suas preferências, mas aplainavam suas diferenças na hora da
cancha reta, pois era o momento em que o trabalhador do lombo do cavalo
mostrava seu valor e podia ser mais respeitado, um precisava do outro para
vencer e receber juntos o prestígio da comunidade.
Ser um bom jóquei era
tão importante quanto a escolha do cavalo que iria correr, saber conduzir as
rédeas era quase um dom e respeitar o adversário também, pois era preciso estar
bem preparado e reconhecer as qualidades dos outros e impor seu ritmo até o
final.
Na cancha reta das
últimas eleições assistimos recentemente, um péssimo exemplo de competidores,
pois na corrida para ganhar a ordem era sacanear o adversário e desconstruir a
imagem do outro para poder mascarar as próprias deficiências.
Numa carreira eleitoral,
os candidatos se esquecem do público que está ali assistindo e querendo
aplaudir o talento do melhor jóquei, aquele que com humildade e elegância põe o
que tem de melhor na competição mostrando que tem café no bule e muito pastel
de carreira para oferecer.
Marco Medronha mmedronha@hotmail.com
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