segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Cancha reta



Aos domingos à tarde no interior do Rio Grande do Sul, por muitos anos, a corrida de cavalos foi a grande atração das famílias rurais, alguns municípios gaúchos a cancha reta ainda é preservada, assim como o gosto do homem dos pampas pelos cavalos. A competição é para muitos um acontecimento a parte, na corrida são feitas apostas e os animais são preparados para a “penca”, um termo regional que define a corrida de cavalos numa cancha reta de mais ou menos 700 metros.
 
Ainda lembro da zoiera de uma corrida de cavalos, entre gaúchos pilchados e prendas bem arrumadas, sempre havia algum borracho fazendo fiasco, depois de alguns goles de cana os tauras apostavam até o que não tinham. Guri ou piá, como chamam os pequenos se perdiam na poeira de cada penca corrida e não tinham muitas chances de se dar bem, só olhar o movimento, mas tinha algo que valia a pena: o refrigerante geladinho e o gostoso pastel de carreira. 

Ao comando de “se vieram caraco”, cavalos e jóqueis começavam a corrida e daí até o final era uma gritaria só, eu pequenino nunca consegui ver uma chegada, mas me contentava enquanto os grandes comemoravam, em ver o retorno dos competidores. 

Ali, na cancha reta, aprendi que as raças ou pelagens de cavalos tinham influência no resultado por seu melhor ou pior desempenho, mas até hoje não sei qual a melhor, mas sei que falavam em zaino, tobiano, tordilho, colorado, douradilho, bragado, malacara, gateado, lubuno, rosilho e pangaré, entre outros.

Lembro que patrões e peões tinham suas preferências, mas aplainavam suas diferenças na hora da cancha reta, pois era o momento em que o trabalhador do lombo do cavalo mostrava seu valor e podia ser mais respeitado, um precisava do outro para vencer e receber juntos o prestígio da comunidade.

Ser um bom jóquei era tão importante quanto a escolha do cavalo que iria correr, saber conduzir as rédeas era quase um dom e respeitar o adversário também, pois era preciso estar bem preparado e reconhecer as qualidades dos outros e impor seu ritmo até o final.
 
Na cancha reta das últimas eleições assistimos recentemente, um péssimo exemplo de competidores, pois na corrida para ganhar a ordem era sacanear o adversário e desconstruir a imagem do outro para poder mascarar as próprias deficiências. 

Numa carreira eleitoral, os candidatos se esquecem do público que está ali assistindo e querendo aplaudir o talento do melhor jóquei, aquele que com humildade e elegância põe o que tem de melhor na competição mostrando que tem café no bule e muito pastel de carreira para oferecer.

 Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

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