sábado, 30 de março de 2013

A notícia que importa

No mundo contemporâneo e globalizado a informação superficial com ares de banalidade ocupa cada vez mais espaço na mídia. Neste caminho vai também o jornalismo brasileiro, onde é quase um pecado observar estudantes de comunicação social sendo prostituídos por empresas muito mais preocupadas em gerar lucro ou acumular riquezas. O produto apresentado como notícia são factóides sem conteúdo que beiram a mediocridade, onde o que mais importa no caso é a velocidade e a superficialidade da informação.

Neste contexto dramático, as modernas tecnologias da informação estão sendo utilizadas erroneamente, pois cada vez mais alienam as pessoas ao invés de promover a construção de identidades e inclusão social dos usuários. Raros são exemplos em que a internet, em especial as redes sociais, é usada para o exercício da cidadania. Até mesmo os sites poderosos de grande acesso pelos internautas e, que deveriam ter responsabilidade com a informação, teimam em colocar como manchetes, temas inúteis a nossa formação. Coisas do tipo: O cotidiano dos BBB’s; O suposto romance de Geisy Arruda e Tiririca; A moça que da CPI, “furacão” Denise Rocha curte férias na praia. Sinceramente... Isso importa!

Queremos ressaltar neste espaço mais que conceitos, a vivência e a convicção: A notícia que importa é aquela que acrescenta algo para o conhecimento e formação do cidadão. Você estudante ou profissional do jornalismo, não compactue ou exercite conceitos generalizantes do tipo “Notícia é qualquer tipo de informação que apresenta um acontecimento novo e recente ou que divulga uma novidade sobre uma situação já existente”.

É bom lembrar que em jornalismo, uma notícia se caracteriza por um texto ou imagem ou hipertextos informativos de interesse público, o qual narra algum fato ocorrido no país ou no mundo, onde o conteúdo é constituído por temas relevantes da vida social, política, econômica, cultural, entre outros. Também reforço que os comunicadores não se esqueçam das características essenciais da notícia: objetividade, imparcialidade e clareza.

Sem querer fechar algo que não é conclusivo, deixo um alerta a todos que, de certo modo são jornalistas com ou sem diploma: Sejam coerentes e responsáveis com aquilo que venham a postar nas redes, com o que escrevem ou mostrem em imagens. É seguro não esquecer que as mídias estão expostas a um público de dimensões incalculáveis, que a sua informação pode influenciar e modificar a vida das pessoas.

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

sábado, 23 de março de 2013

Terra Sul, 20 anos



No primeiro domingo de março de 1993, entrava no ar a primeira edição do programa Terra Sul, uma iniciativa da parceria de comunicação Embrapa e Emater/RS, na região de Pelotas. A proposta inicial foi a de produzir um programa de televisão para os agricultores da região sul, com notícias e informações úteis para aplicação em suas propriedades. A fonte geradora de pautas foi o conjunto de atividades desenvolvidas pela pesquisa agropecuária e pela extensão rural.
Nesta época, os agropecuaristas da região sul tinham acesso a apenas dois programas do gênero: O Globo Rural, com notícias de predomínio nacional e o Campo e Lavoura, que veiculava notícias do estado. Nos dois programas, reconhecidamente competentes, pouco se via da agricultura e pecuária regional. O Terra Sul surgiu com uma proposta diferente, inovadora e com foco local: Mostrar tecnologias utilizadas  pelos agricultores para os agricultores, de maneira que eles se identificassem com o produto televisivo mostrado.
A iniciativa foi acolhida no começo pela TV Pampa (SBT), parceira nos primeiros anos da Embrapa e da Emater/RS na veiculação, sempre aos domingos, em sua grade de programação. Com a natural mudança de chefias das empresas de televisão, o Terra Sul teve suas idas e vindas. Andou na RBS TV com o nome de Gente da Terra, retornou a TV Pampa e, atualmente encontrou a maioridade e consolidação na Rede Nativa (Record), onde pode ser assistido às 9h, de domingo.
Nesses 20 anos, muitas mudanças ocorreram. O meio rural conheceu várias alternativas de produção, os agricultores evoluíram e muitas tecnologias foram adotadas a partir de reportagens mostradas no Terra Sul. As comunidades rurais e urbanas passaram a conhecer o que faz a pesquisa e a extensão rural, assim como a origem a produção agropecuária e o valor do trabalho das famílias rurais.
Muito além de informar, o Terra Sul foi escola. Através de estágios aos estudantes de Comunicação Social proporcionados pela Emater/RS e Embrapa, centenas de profissionais que hoje atuam nos mais diversos veículos de comunicação de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil e até mesmo no exterior tiveram seus primeiros passos aprendendo primeiro, a linguagem rural e a respeitar o homem do campo. O quê isso representa para nossos queridos alunos e comunicadores atualmente consolidados? Bem... Isso somente eles podem responder.  De minha parte, expresso publicamente minha gratidão pelo aprendizado, convivência e pela oportunidade de fazer parte dessa história. Vida longa Terra Sul.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

domingo, 17 de março de 2013

Almanaque de Pharmácia

















O Almanaque de Pharmácia foi certamente o meio de comunicação mais importante e poderoso no meio rural, desde 1920, ano em que foi lançado o Almanaque Biotônico Fontoura, livreto criado e ilustrado por Monteiro Lobato. Na época, as páginas do almanaque divertiam e ensinavam a todos na família com as histórias do Jeca Tatu, personagem folclórico que fez muito sucesso, inclusive nos livros infantis, com o seu jeito caipira de ser.

Como veículo de publicidade para vender remédios, os almanaques representavam milhões de exemplares distribuídos em todo país, com a finalidade de divulgar os medicamentos e a indústria farmacêutica, tanto no meio urbano quanto no rural. O Almanaque era conhecido como o “Livreto do Saber”, pois em suas páginas continham piadas, charadas, calendários, fases da lua, dicas de saúde, receitas culinárias, cartas melodramáticas, jogo dos sete erros, caça palavras, calendário agrícola, horóscopo, santos do dia, histórias diversas, datas importantes e comemorativas, textos poéticos (contos, poesias, crônicas) e claro, propaganda de remédios.

Quem nasceu nas décadas de 20, 30, 40 e 50, principalmente, por certo conheceu o livreto com formato de mais ou menos 13 x 18. Esses, em algumas residências, era a única fonte de informação que chegava. Além do Almanaque Biotônico Fontoura, ainda tenho na memória os livretos Almanaques Sadol e Iza. Depois descobri que existem outros como: Almanaque do Licor de Cacau Xavier, Almanaque Dr. Schilling, Almanaque Bristol, Almanaque Capivarol, Almanaque Bayer, Almanaque Cabeça de Leão, Almanaque Catedral, Almanaque Silva Araújo, Almanaque do Colírio Moura Brasil, Almanaque Elixir Brasil, Almanaque Guaraína, Almanaque de Ross, entre outros.

Lembro que lá em casa, uma vez por mês chegava um almanaque. Era uma festa... Eu e meus irmãos disputávamos a leitura, cada um queria ler primeiro para poder decorar as piadas ou dar uma de “esperto” na escola, como saber: Qual o maior osso do corpo humano; Onde fica a Amazônia; O maior mamífero; Os animais invertebrados, coisas das ciências naturais, curiosidades da matemática, da história e da geografia.

O Almanaque no meio rural, também era o doutor, o engenheiro, o amigo, o humorista... Aquele livrinho mágico tinha soluções para quase tudo. Era também uma grande oportunidade do pai ou do avô pegar os pequenos no colo, pra contar histórias de oportunidades para filhos ou aos netos. Tenho a convicção que a geração atual de crianças e jovens deveriam conhecer o Almanaque de Pharmácia, com certeza teriam hábitos mais saudáveis.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com





quinta-feira, 7 de março de 2013

A mulher que a poesia descobriu



No mês de março a mulher é exaltada em verso e prosa. A poesia faz homenagens à mulher operária, a diarista, a empresária, a doméstica, a profissional liberal, a mulher empreendedora urbana ou a mulher trabalhadora rural. Elas ocupam cada vez mais espaço na sociedade, em vários segmentos mostram muita competência. Será que existe no mundo alguma coisa que a mulher não seja capaz de fazer?

São todas reconhecidas por seus múltiplos valores e por uma única forma de ser: Mulher. De todas as fases, de todas as estações, mulher para o que der e vier. Na essência parece não ter idade. Como mostra a poesia de Martha Medeiros: “Sou uma mulher madura, que às vezes anda de balanço. Sou uma criança insegura, que às vezes usa salto alto. Sou uma mulher que balança. Sou uma criança que atura”.

Toda mulher possui seu esplendor único, defendido por Sêneca: “Uma mulher bonita não é aquela de quem se elogiam as pernas ou os braços, mas aquela cuja inteira aparência é de tal beleza que não deixa possibilidades para admirar as partes isoladas”. O sexo masculino manifesta preferências por algumas exuberâncias femininas, mas é no conjunto de atributos que se reforçam as relações mais duradouras.

O homem, na verdade sempre valorizou a própria existência, pois ela depende da mulher. O poeta Vinícius de Moraes compara a mulher com a vida, à beleza e à amizade, sentenciando: “Você (mulher) tem que ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois”. A ligação da mulher com a vida e de tudo que é belo, não é uma simples utopia do poeta. É só imaginar a magia da concepção de uma nova vida, beleza resultante do ato de amor entre o homem e a mulher. Quanta poesia pode ser criada à infinita maravilha da mulher gestante.

Mas uma mulher em especial, além de estar nos versos dos poetas e poetizas, apresenta qualidades típicas do bem servir. Um tipo de mulher que faz parte de um jardim onde as flores são únicas e todas são comprometidas com a harmonia do conjunto. Mulher que trabalha com leveza, mesmo quando a jornada é dura, porque ama o senso de utilidade, que se importa com o bem estar pessoal e coletivo. Mulher que abraça a casa e a causa. É a trabalhadora da extensão rural. A mulher que a poesia descobriu como luz de esperança a milhares de famílias no campo.
Uma homenagem as mulheres trabalhadoras da Emater/RS-Ascar.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com





terça-feira, 5 de março de 2013

O Negrinho mais querido dos gaúchos


Dia desses, ao chegar num condomínio urbano de Pelotas, fui supreendido por uma cena inusitada, ao menos para mim. Um jovem gaúcho sentado em um banco rústico, sorvia prazeirosamente um chimarão. Ele estava sólito, com olhar distante e típicamente trajado, como manda a indumentária do movimento tradicionalista. Ao seu lado, como uma espécie de altar, uma pequena estatueta de uma figura montada num cavalo branco.
A primeira vista parecia a imagem de São Jorge, mas achei estranho, respeitando a todas as crenças, um gaúcho pilchado venerar o santo guerreiro. Ao chegar mais perto e, como repórter que sou, perguntei ao guadério: “E aí tchê... com saudades do campo”. O gaúcho respondeu: “Pois é... moro aqui no condomínio mesmo, mas todo dia sento aqui com o meu Negrinho do Pastoreio, na esperança que ele me dovolva a querência que perdi”.
Todo gaúcho que se preza conhece a lenda do Negrinho do Pastoreio, muito contada nas rodas de prosa, principalmente nos rincões do Rio Grande do Sul, desde o final do século XIX, em especial por aqueles que defendiam o fim da escravidão. Na versão escrita pelo pelotense João Simões Lopes Neto, o protagonista é um menino negro e muito pequeno, escravo de um estancieiro muito mau; este menino não tinha padrinhos nem nome, sendo conhecido como Negrinho, e se dizia afilhado da Virgem Maria.
Diz a lenda que o Negrinho, após perder uma corrida e ser cruelmente punido pelo estancieiro, caiu no sono e perdeu o pastoreio. Ele foi castigado várias vezes, mesmo tendo achado o pastoreio. Mas muito cansado, caiu no sono novamente e perdeu o pastoreio pela segunda vez. Desta feita, além da surra, o estancieiro jogou o menino sobre um formigueiro, para que as formigas o comessem, e foi embora quando elas cobriram o seu corpo.
Três dias depois, o estancieiro foi até o formigueiro, e viu o Negrinho, em pé, com a pele lisa, e tirando as últimas formigas do seu corpo; em frente a ele estava a sua madrinha, a Virgem Maria, indicando que o Negrinho agora estava no céu. A partir de então, foram vistos vários pastoreios, tocados por um Neguinho, montado em um cavalo baio.
O Negrinho mais querido dos gaúchos é tratado com devoção, pois cada vez que se perde algo aqui nos pampas preces são dirigidas aos céus, ao Negrinho, a Virgem Maria e, quem ora pede também a Deus, assim nossos pedidos serão atendidos. “Que o Senhor devolva a todas as pessoas, a capacidade de orar e acreditar, que com fé, tudo pode ser concedido”.