Muito mais preocupado com as
metas e os resultados a serem alcançados, os habitantes da cidade vivem em
busca da produtividade, do lucro e do consumismo. Dia e noite fixados no
trabalho perdem com frequência o foco e deixam a vida passar, não percebem que
os filhos cresceram sem saber quase nada sobre o universo rural, até mesmo
porque eles mesmos desconhecem. Quando chega o período de exposições,
principalmente a Expointer, alguns pais urbanos levam os filhos para um passeio
na feira, neste dia muitos ficam sabendo que o leite tomado diariamente vem da
vaca e não da “caixinha do supermercado”.
É quando a cidade enxerga o
campo, ou melhor, do jeito que a mídia vende o rural. Sem querer generalizar,
as notícias mais impactantes são os campeões ou as campeãs, a vaca que mais
produz leite, o touro mais pesado e valioso, a raças de ovelhas de melhor
aptidão, o vencedor do freio de ouro, o faturamento na venda de máquinas dos
animais. Reportagens mostram a vida de peão na feira e não nas propriedades, a
estética dos bichos ao ingressar na pista, o maior e o menor animal da feira, o
modo de vestir dos homens e mulheres “na feira”, uma ou outra novidade de
funcionamento da exposição ou de programas governamentais.
Segundo histórico da
Expointer, a tradição do Estado em feiras agropecuárias vem desde 1901, quando
em pavilhões fechados no Campo da Redenção, hoje área do Parque Farroupilha e
do campus central da UFRGS, em Porto Alegre, ocorreu a primeira Exposição de
Produtos do Estado. Em 1972, já em Esteio, foi realizada a primeira Exposição
Internacional de Animais, a Expointer, com a presença dos estados de São Paulo,
Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Paraná. Países como Canadá, Holanda,
França, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Áustria, Suécia, Dinamarca,
Bélgica, Uruguai, Argentina e Chile também estavam presentes.
Nos últimos anos na feira, o
público de frequentadores pagantes chegou perto de 500 mil, foram arrecadados
quase 12 milhões na venda de animais, o setor de máquinas faturou mais de 830
milhões e a agricultura familiar superou 1 milhão em vendas. Estes, embora
sejam dignos representantes do campo, não ocupam muito espaço nas divulgações
da feira. Sem falar no artesanato rural, nos outros animais e na mostra de
serviços essenciais ao meio rural.
Mesmo com números
fantásticos e quebra de recordes ano após ano e a visibilidade na mídia, eu
chego à conclusão que a cidade ainda não enxerga o campo. Os agropecuaristas
persistentes que trabalham sem serem vistos ou aqueles competitivos, que mesmo
não ganhando nada estão lá, participando, também estão invisíveis. Para as
pessoas da cidade que desejam enxergar o campo, sugiro que façam um roteiro
turístico no meio rural aí do seu município. Provavelmente, muitos que
trabalham na roça não serão vistos pela falta de inclusão social, mas se
quiserem uma referência grandiosa, então visitem a Expointer.
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