Desde os tempos de criança e, lá se vão décadas, ouço falar no tal “êxodo rural”, evento caracterizado pela migração das pessoas do campo para os centros urbanos, geralmente em busca de melhores condições de vida. Na escola as imagens que apareciam eram dos retirantes nordestinos, os quais fugiam dos desastres naturais como a seca, que não permitia a produção de alimentos ou as chuvas de março, que expulsavam famílias de suas terras.
Aquela situação apreendida no colégio parecia estar longe da realidade dos pampas, no qual sofríamos com os invernos rigorosos, mas com as quatro estações bem definidas. Para viver bem era apenas necessário um pedaço de terra pra plantar e colher, alguns animais de criação e um bom rádio de pilhas. Em casa a mãe escutava a “Hora da Ave Maria” e o meu pai, mais tarde “A voz do Brasil” e por vezes o futebol. Na comunicação, o meio rádio era soberano e a televisão era privilégios de poucos.
Um aparelho de TV, na época era um sonho de consumo e vendia um mundo de fantasias para muitas famílias, que eram felizes sem TV e não sabiam. Que ilusão... A televisão mostrava as fábricas e as oportunidades de trabalho, o progresso, carros, pessoas elegantes e educadas. Também mostrava, como contraponto, os filmes do Mazzaropi, grande artista do cinema brasileiro, mas que fazia uma caricatura do homem rural, naquele tempo já ironizado pela gente da cidade. O homem do campo, valioso desde sempre na sua arte de plantar sentia vergonha da profissão. Os jovens não queriam mais a profissão do pai e sim aquela vida assistida e imposta pela TV.
O problema que toda a evolução da comunicação custa muito a chegar no campo, a internet é um exemplo disso. Atualmente, segundo o IBGE, cerca de 30 milhões de brasileiros residem nas zonas rurais e o número de domicílios com a nova tecnologia chega no máximo a 4%. Um bate papo nas redes sociais, sobre o tema me chamou a atenção: “Olá... Sou brasileiro e vivo na Europa e gostaria de saber porque meus irmãos moram numa fazenda no Brasil, no estado do Mato Grasso do Sul, não possuem e precisam andar uns 8 quilômetros para poder fazer ligações pelo telefone. Quando terá internet aí pra eu poder me comunicar com eles?”. Também gostaria de saber.
Hoje compreendo que nos grandes projetos dos governos e corporações, os números tem preferência e aqueles que garantem a sucessão deles estão nas cidades, nas periferias, muitos deles vindos do meio rural. Quando terão a coragem de buscar uma solução efetiva? Estou certo de que se os jovens rurais encontrarem no seu meio condições dignas de sobrevivência, eles permaneceriam produzindo. Quem sabe, além melhorias na comunicação, uma universidade no campo, para que eles possam concluir seus estudos no ambiente em que vivem. Isto também é trabalhar com as minorias e proporcionar oportunidades de formar cidadãos conscientes.
Marco Medronha mmedronha@hotmail.com