quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Árvores com personalidade



Quem disse que as árvores não tem personalidade? Acredito que tenham, assim como os seres humanos, elas possuem multiplas personalidades, com a vantagem de viver centenas de anos contribuindo com funções valiosas ao proporcionar qualidade de vida para as pessoas e equilíbrio da natureza.

O certo é que a arborização exerce papel de importância fundamental nos centros urbanos e no meio rural. Nas cidades, as árvores influenciam o clima, a qualidade do ar, atuam sobre o nível de ruídos, melhora a estética das ruas e avenidas, no equilíbrio da temperatura, na proteção do lençol freático, embelezam a paisagem, fornecem sombra e são o refúgio certo e indispensável à fauna remanescente nas áreas urbanas.

Mas é no meio rural que elas parecem ter um valor maior, muito mais do que promover o equilíbrio ambiental, elas são utilizadas diretamente pelos agricultores em construções de casas, galpões, cercas, utensílios e ferramentas de trabalho. O conhecimento vem dos antepassados que desbravaram os pampas e ali encontraram uma natureza exuberante.

Lembro de algumas muito faladas pelas suas utilidades: Corticeira, Angico, Guajuvira, Pitangueira, Aroeira, Figueira e a Amoreira, que até hoje enfeita, dá frutos e uma bela sombra nas tardes quentes de verão lá de casa. Já vi muitas espécies enfeitarem as entradas das estâncias e dizem ainda, que os índios plantaram as frondosas as Figueiras que existem ao longo da Costa Doce, para marcar o caminho a ser seguido.

Talvez você já ouviu falar que para uma trama ou moirão, capaz de segurar touros, nada melhor que a personalidade do Angico; para amarrar potros e aporreados, a preferência é pela Guajuvira; numa boa brasa para o churrasco, nada melhor do que Espinilho; como esquecer a sombra do Cinamomo e das Pitangueiras carregadas de frutos, que viravam obras de arte aos olhos e nas mãos do artista, em um final de tarde ensolarado.

As árvores tem personalidade e ainda são autossuficientes, mesmo sem se mover, elas vivem muito bem e se viram sozinhas. É necessário que tenham apenas os recursos básicos para sobreviver, água, luz, nutrientes e o que podem retirar do ambiente em sua volta. Provavelmente, o homem é sua maior ameaça.

 

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

 

domingo, 17 de agosto de 2014

Boa tarde senhora Aroeira!

 

Conhecer plantas nativas é uma habilidade que me falta e uma fraqueza que me acompanha pela vida. Identificar uma árvore entre centenas de milhares na natureza sempre foi uma tarefa mais apropriada para agrônomos, engenheiros florestais, biólogos, botânicos, técnicos agrícolas, índios, agricultores, gente que vive ou estuda a natureza. A um jornalista, mesmo com conhecimentos técnicos, o que atraí são as histórias.

Pois bem... tá ai uma planta que eu respeito, a senhora Aroeira, talvez por não identifica-la em meio a tantas árvores de uma floresta. Na verdade, sempre fui avisado quando me aproximava de uma, quando entrava na mata, logo vinha o alerta: Ao passar pela Aroeira demonstre respeito e fale o tempo ao contrário: se for de manhã diga “boa tarde senhora Aroeira e à tarde diga “bom dia senhora Aroeira”. Lenda ou não conheci algumas pessoas que ficavam com coceiras insuportáveis e brotoejas. Ao não cumprir o ritual, a pessoa adoece com sintomas de muita febre e visão turva, coisa muito parecida com o sarampo.

Segundo o que aprendi, o segredo consiste em manter pouca distância e muito respeito com a dita cuja, como se apresentasse diante de uma divindade. O cuidado, nesse momento é que não se deve nem pestanejar e se possível repetir três vezes o cumprimento às avessas, desta forma não precisa temer o mal da planta. Dizem que a Aroeira possui eflúvios que excitam de tal maneira o sangue de algumas pessoas, que, só por passar por baixo desta árvore, ou mesmo perto, adoecem de um modo alarmante.

Na vida conhecemos pessoas tipo Aroeira que nos causam coceiras e por vezes nos deixam doentes por emanarem fluídos negativos, prejudiciais à nossa saúde, não é verdade? Dessas é melhor manter distância e trata-las com respeito, humildade e precaução. Como diz aquele velho ditado português: “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

 

Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com

 

sábado, 9 de agosto de 2014

Aperto de mão


Ao ouvir a notícia que hospitais nos Estados Unidos estavam por aprovar uma lei que proíbe o aperto de mão entre profissionais da saúde e os pacientes fiquei surpreso com a quantidade de doenças de um ato, que para muitos é cheio de simbologia e, que ao mesmo tempo pode trazer prejuízos sérios para aqueles que em recuperação nas unidades de tratamento. Como lidar com a situação quando, dependendo da cultura, o gesto social é um relevante modo de expressar, confiança, afinidade, amizade e sentimentos entre os seres humanos.

O aperto de mão, na maioria dos países,  pode ser uma saudação ou um cumprimento que, seguido de um acordo verbal ou informal sela um compromisso entre as partes. Também é símbolo na concretização dos acordos formais assinados entre as pessoas ou instituições. No Rio Grande do Sul, principalmente entre os homens, o aperto de mão é mais que uma maneira de cumprimentar é um gesto que demonstra parceria ou respeito pelo outro. No entanto, em outras culturas, os mesmos significados são representados pela troca de beijos nas faces. Exemplos estão bem próximos, nossos vizinhos uruguaios ou mais distantes como o povo árabe.

O sorriso seguido do aperto de mão comunicam mais do que aparentam e são ricos em significados. Estudos realizados em 2008, do Journal of Applied Psychology, com centenas de estudantes mostram jovens que se submeteram a entrevistas para conseguir emprego fizeram parte de uma pesquisa, com recrutadores profissionais. Descobriu-se que havia uma forte sobreposição entre o grupo dos que receberam boas avaliações dos recrutadores e o grupo dos que tinham os apertos de mão melhor avaliados. Análises creditaram ao aperto de mão um efeito da extroversão do aplicante nas recomendações de contratação dos recrutadores.

Mesmo com este gesto tão positivo na vida das pessoas, a ameaça persiste. De acordo com a Unicef e a Organização Mundial de Saúde (OMS), a lavagem das mãos com sabonete pode reduzir infecções diarréicas em até 40%. Outro dado alarmante veio da Universidade do Arizona (EUA), esta constatou que o celular pode ter 10 vezes mais bactérias do que vasos sanitários. Meu Deus! Agora estamos mesmo perdidos, o celular que é quase uma extensão de nossos braços.

No mundo contemporâneo vivemos compartilhando tantos objetos, que até fica difícil de contar, pois imagine a condição das suas mãos se você não tiver uma higiene adequada. Na maioria das vezes é inevitável “conviver” com esses riscos, assim como é da natureza ter bactérias, vírus e fungos por todos os lados. 

Para evitar uma série de doenças a prevenção mínima fundamental é a higiene das mãos. Considerando o contato que temos com objetos contaminados e, também a necessidade de preservação deste gesto tão representativo e necessário entre as pessoas, o aperto de mão. 


Marco Medronha     mmedronha@hotmail.com

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mão na roda


Nestes dias chuvosos de inverno sempre encontramos pessoas em dificuldades, principalmente quando acontecem temporais, ventos e mais recentemente as enchentes que deixaram desabrigadas mais de 20 mil famílias no estado. Voltava para casa, depois de um dia de trabalho dirigindo com cuidado para não lamear os pedestres já molhados na calçada. De repente, um senhor meio curvado e cheio de sacolas acena levanta o braço e acena me pedindo uma carona. Parei sem pestanejar, quando ele entrou disse: “Obrigado meu filho foi uma mão na roda”.

Se você ainda não ouviu o termo, “mão na roda” saiba que ele é bem coloquial, normalmente é utilizado para designar uma ajuda de grande valor. Um sinônimo para mão na roda pode ser “quebrar o galho”, quando um indivíduo ajuda o outro e o auxílio humanitário pode representar algo de extrema importância. Fiquei pensando... como é bom poder ajudar alguém a superar uma barreira, pois quem de nós já não passou por algum tipo de dificuldade na vida? As vezes, um gesto, uma palavra, um auxílio material, uma carona ou até mesmo emprestar o ouvido para um desabafo pode ser uma mão na roda.

Existe uma explicação para o termo mão na roda, pois dizem que antigamente, quando os carros possuíam tração animal e atolavam nas estradas, não havia solução a não ser pedir auxílio a outras pessoas, qualquer uma que passasse e pudesse ajudar, então todos colocavam a “mão na roda”, fazendo um esforço para tirar o veículo da lama, por isso o termo tem o sentido de ajuda, auxílio, que se presta a alguém. Geralmente é um préstimo de grande valor para quem recebe.

Em tempo de modernidade aparecem guias e manuais de grande utilidade para o cidadão. Em São Paulo, por exemplo existe o Blog Mão na Roda – Guia de sobrevivência do cadeirante cidadão, um tipo de orientação atualizada para os portadores de necessidades especiais, que mostra locais dotados de acessibilidade. A ferramenta de comunicação presta um serviço indispensável, uma mão na roda para quem possui dificuldades de locomoção e necessita ter uma vida cidadã. Uma iniciativa de um grupo de pessoas que serve de exemplo para governos desatentos.

As novas tecnologias também são referências de ajuda prática e eficiente, o surgimento do GPS proporcionou aos cidadãos grande facilidade de orientação para chegar a algum lugar, de automóvel ou mesmo caminhando, pois hoje a ferramenta já faz parte da telefonia móvel e está disponível nos aparelhos celulares. Não podemos esquecer os tradicionais manuais de instrução, peças impressas que acompanham vários tipos de mercadorias, principalmente os eletrodomésticos.

Com tantas facilidades oferecidas para auxiliar os cidadãos consumidores não é difícil confundir as intenções. É claro que existem interesses comerciais por traz dos tais “guias práticos”, os fabricantes tornam as coisas mais fáceis para estimular o consumo. Ainda prefiro o tipo de ajuda nostálgica, do tipo humanitário, da origem do termo “mão na roda”, em que as pessoas arregaçam as mangas para auxiliar o próximo.


Marco Medronha      mmedronha@hotmail.com