sexta-feira, 25 de julho de 2014

Da porteira para dentro



Muito tem se falado sobre os problemas dos pequenos agricultores ou da agricultura familiar, onde as instituições indicam soluções ligadas ao desenvolvimento pela ótica do mercado, as quais geralmente são  baseadas em projetos e programas que não refletem a realidade, pois são criados por estudiosos de gabinete e estão ligados aos fatores externos, os quais nem sempre dialogam com as barreiras existentes da porteira para dentro.

O certo é que há décadas, os mais de 13,5 milhões de pequenos agricultores na América Latina vivem uma realidade parecida e enfrentam muitos problemas e dificuldades, na maioria internos, e cuja a solução está ao alcance das famílias rurais. Pela lógica, toda a mudança deveria acontecer de dentro para fora e por isso se faz necessário resolver questões culturais, históricas e educacionais como forma de alcançar a organização do seio familiar, na comunidade e depois para fora da propriedade.

Historicamente os problemas internos crônicos tem sido ignorados e por vezes minimizados por aqueles que tem por obrigação, olhar pelas pessoas do campo. Digo isso porque a culpa não está somente com os pequenos agricultores, quem interage com as famílias deveria ao menos ouvir e tentar ajudá-los. É também uma obrigação do Estado oferecer possibilidades que possam elevar a auto-estima, a confiança e o reconhecimento pelo agricultor na sua missão de produzir alimentos. 

Cursos de formação que visem identificar as causas internas que prejudicam o desenvolvimento humano, parece ser um bom caminho. A necessidade de promover capacitações que tratem de temas enraizados nas comunidades rurais precisam de abordagem, como por exemplo, as questões de gênero. O autoconhecimento e a conscientização sobre o meio e as coisas que cercam os fatores de produção merece tratamento por gente especializada.

Antes mesmo de ensinar técnicas de plantio, colheita e comercialização temos que cuidar das pessoas. Fazer chegar os recursos financeiros primeiro é colocar a “carreta na frente dos bois”, como diz o ditado. Existe muito espaço para trabalhar a organização familiar, o planejamento das atividades, o sentido cooperativo, associação para o trabalho, lazer e convívio social.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com 



segunda-feira, 14 de julho de 2014

A meteorologia popular

                                               Praia do Laranjal, Pelotas/RS - Antes do temporal

Quando vejo alguém olhando para o céu, para o horizonte, percebendo a  direção dos ventos, observando movimento das nuvens, a revoada dos pássaros ou comportamento de outros animais tenho um misto de espanto e admiração, pela sabedoria das pessoas em fazer previsões sobre o tempo. Embora os estudiosos do ensino formal não comprovem cientificamente a sabedoria popular tenho a certeza que a vivência possui muito fundamento.

Queria eu ter a capacidade de abrir a janela e prever o que será do tempo nos próximos dias, mas a comodidade me faz ligar a TV ou o computador para acompanhar a previsão que, admito tem mais acertos do que erros, afinal hoje temos cursos técnicos e superiores de meteorologia. Mesmo assim queria aprender sobre o tempo com a sabedoria informal da ciência popular.

Entre os estados brasileiros, o Ceará parece ter uma maior relação com as crenças populares. Quando se aproxima o Dia de São José, 19 de março, aumentam as esperanças dos sertanejos em ano de boas chuvas, pois se chover nesta data, o padroeiro retribui com fartura de água. Em muitas ocasiões, a Fundação Cearense de Meteorologia confirmou as previsões, mas afirmam que não há relação científica para a crença popular.

Na Província de São Pedro, a crença popular é que o santo católico seria o guardião das chaves do paraíso, ele é quem faz chover, quando está lavando o céu, no dia 29 de junho, encerra as comemorações das festas juninas. Na região sul do Brasil, a meteorologia popular diz o seguinte:

1. Nascer do sol muito vermelho é sinal de seca. Pôr-do-sol sobre uma barra escura de nuvens, sinal de chuva.

2. Céu muito estrelado e brilhante prenuncia chuva; pouco estrelado, tempo bom, firme.

3. Lua nova quando está com os “cornos” voltados para cima, é sinal de tempo seco durante todo o mês, pois se acredita que o quarto de lua governa as variações do tempo durante todo o mês. Quando aparece com os “cornos” voltados para baixo "está escorrida", logo, todo o mês será chuvoso.

4. Chovendo na "nova" de abril, o inverno será chuvoso; não chovendo, inverno seco. Chovendo na nova de setembro, o verão será chuvoso e bom para a agricultura e pecuária.

5. Lua cheia quando sai, some a chuva. Significa melhora de tempo.
6. Se o dia 15 de cada mês for bom, a primeira quinzena será toda sem chuva. Se o dia 17 também for sem chuva, toda a segunda quinzena será de tempo bom.

7. Quando chove na primeira terça-feira do mês, todo o resto do mês será chuvoso; e o contrário, se o dia for bom.

8. Quando as rãs, à tarde, fazem "reco-reco" (coaxam), é sinal de chuva próxima.
9. Siriema (ave pernalta que vive nos campos) quando canta no baixo ou na canhada, prenuncia chuva; quando no alto da coxilha, estiagem prolongada.

10. Maduruvá preto, do campo, quando cruza a coxilha, em pelotão, está pressagiando chuva com temporal.

11. Dia de vento, em que o gado se agrupa e desce para o fundo da invernada, é sinal de temporal. Gado dormindo no alto da coxilha, sinal de tempo bom.

Será que nossos produtores rurais, grandes observadores da natureza confirmam estas previsões populares?

Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sábado, 12 de julho de 2014

O desperdício que alimentaria o mundo


Como não se impressionar com a quantidade de alimentos que vai para o lixo, prejudica o meio ambiente e deixa de alimentar milhões de pessoas. Pasmem... Segundo a FAO, um terço de todos os alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado devido a práticas inadequadas, quando 870 milhões de pessoas passam fome diariamente. Isso representa 1,3 bilhão de toneladas desperdiçados anualmente, com grandes perdas econômicas e impacto significativo nos recursos naturais para a humanidade.

Sobre o aspecto ambiental, estudos demonstram prejuízos e conseqüências danosas para o clima, a água, o solo e a biodiversidade. Evitar o desperdício é uma tarefa complicada porque envolve toda a cadeia produtiva, desde a otimização da colheita pelo produtor, quando do aproveitamento de todo potencial do produto, passa pelos cuidados no transporte, sobra de feiras, restaurantes, até o consumo ponderado e consciente de quem se alimenta.

O Brasil é o quarto maior produtor de alimentos no mundo, os agricultores e pecuaristas produzem cerca de 26% a mais do que necessita para alimentar a sua população (FAO), mas infelizmente, grande parte do que produzimos é desperdiçada. Dados da Embrapa, ainda em 2006, apontavam que mais de 26 milhões de toneladas de alimentos ao ano tem como destino, o lixo. Isso equivale a cerca de 40 toneladas de alimentos jogados fora por dia, quantidade suficiente para alimentar 20 milhões de brasileiros, com três refeições básicas: café da manhã, almoço e jantar.

Nosso País, segundo o Instituto Akatu, é um dos campeões mundiais quando o assunto é o desperdício de alimentos, com aproximadamente 64%, sendo que as perdas ocorrem 20% na colheita; 8% no transporte e armazenamento; 15% na indústria de processamento; 1% no varejo e 20% no processamento culinário e hábitos alimentares. Quer dizer... Este é um problema de todos, pois o mesmo Instituto realizou um estudo mostrando a média do que sobra na mesa, de uma família brasileira. O resultado foi um desperdício superior a 20% dos alimentos que compramos semanalmente, o que remete a uma perda de R$ 2 bilhões por ano, dinheiro suficiente para alimentar cerca de 500 mil famílias.

Eu já sabia que o desperdício era muito grande, mas não imaginava que fosse tanto assim, às vezes é necessário conhecer os números para mudar. Pretendo fazer a minha parte e vou começar em casa ao aproveitar o máximo no preparo dos alimentos, no restaurante servir apenas o necessário. Não quero mais jogar comida fora. 

Acredito que, com a atitude consciente de todos e com atuação nos focos de desperdícios das cadeias produtivas de alimentos, não seria necessário programas governamentais de combate a fome, pois esses estão desvinculados das questões educacionais e por isso não atendem os verdadeiros propósitos.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

quinta-feira, 3 de julho de 2014

A força do cooperativismo


Muitas comunidades do meio rural vem conseguindo progresso através do cooperativismo, uma doutrina que preconiza a colaboração e a associação de pessoas ou grupos com os mesmos interesses, a fim de obter vantagens comuns em suas atividades econômicas. O fundamento cooperativista permite o avanço social pelo auxílio mútuo quando o grupo se encontra em situação desvantajosa. 

A soma de esforços é uma das formas de garantir a sobrevivência. Na região sul do estado, muitos grupos, principalmente em comunidades rurais encontraram no cooperativismo associativo forças para obter resultados econômicos e reduzir os custos de produção. A ação possibilita a obtenção  de melhores condições de prazo e preço,  edificar instalações de uso comum, participações em chamadas públicas, concorrências e assim, interferir no sistema em vigor à procura de alternativas a seus métodos e soluções.

Um exemplo recente na zona sul foi uma ação entre representantes das cooperativas envolvidas na distribuição dos alimentos para o Restaurante Escola da Universidade Federal de Pelotas, da Unidade de Cooperativismo da Emater/RS-Ascar, da Secretaria de Desenvolvimento Rural Pesca e Cooperativismo e da Fundação de Apoio Universitário (FAU), que administra o Restaurante Escola. As instituições, juntamente com as cooperativas definiram em reunião, os preços dos produtos que agrícolas que abastecem o restaurante dos universitários. 

Neste evento houve também uma atitude de cooperação entre as associações cooperativas envolvidas e que participaram da reunião. Entre estas, representantes da Coopar, Coopesca, Coopava, Cooperativa União, Coopap, Cosulati, Coopamb, Cooperativa Sul Ecológica, Cafsul, Cooperal e da Queijaria Mãe Natureza. As representações cooperativas são, na maioria, de agricultores familiares. 
Um belo exemplo para comemorar a data de 05 de julho: “Dia Internacional do Cooperativismo”. 


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com