sábado, 29 de setembro de 2012

O Turismo Rural e a Copa do Mundo

Lagoa dos Patos - São Lourenço do Sul

A proximidade do evento Copa do Mundo de 2014, no Brasil, enche de otimismo diversos setores da economia em todo o território nacional. Os investimentos em infra-estrutura já começam a aparecer nos municípios sedes (capitais), principalmente nos complexos urbanos. Aeroportos, estádios, anéis viários, hotéis, transportes recebem recursos vultosos e transformam as paisagens dia a dia. As pessoas se capacitam e buscam a profissionalização, com o objetivo de receber bem os estrangeiros, delegações de outros países movidos pela paixão do futebol. 
Há aqueles contrários à realização da Copa, que mesmo não sendo a favor sabem da inevitável mudança, mas estamos certos que a Copa vai ajudar muita gente e que não será a solução para os graves problemas sociais brasileiros. Defendo aqui um setor que conheço e que caminha à margem dos grandes investimentos, me refiro ao turismo rural. A região Sul do RS possui poucas chances de sediar, com Centros de Treinamentos, as seleções que virão ao Estado jogar a Copa do Mundo. Embora não tenha sido oficialmente escolhida pela FIFA, precisa mostrar seu potencial para aqueles turistas que procuram cenários únicos e diferentes e estão dispostos a deixar nos pampas dólares, euros e outras moedas valorizadas.
Nesta semana, quinta-feira, 27 de setembro comemoramos o Dia Mundial do Turismo, pode ser quem sabe, uma boa oportunidade para os estrategistas em marketing e entendidos do turismo pensar em estratégias para mostrarmos ao mundo tudo que de belo temos: As lagoas, as planícies, as colônias, os rios, os pampas, as criações, nossa gastronomia e principalmente nossa maior atração: as pessoas do Sul. Será um pecado muito grande nossa gente perder este momento único de congraçamento com outras nações, assim como tenho certeza que os turistas deixaram de ter ricas experiências e grandes lembranças dos gaúchos daqui.
A FIFA ((Federação Internacional de Futebol e Associados) e o COL (Comitê Organizador Local) selecionaram, ao todo, são 54 locais (quatro na região Norte, três no Nordeste, três no Centro-Oeste, 30 no Sudeste e 14 no Sul) espalhados por 14 Estados. De acordo com a entidade máxima do futebol, a lista é uma recomendação para as seleções e será enviada para todas as federações que estão disputando as eliminatórias para o Mundial. No Rio Grande do Sul, estes são os CT’s escolhidos até o momento:
Bento Gonçalves-RS - Dall'onder Grande Hotel / Estádio das Castanheiras
Bento Gonçalves-RS - Hotel & SPA do Vinho / Parque Esportivo Montanha dos Vinhedos
Lejeado-RS - Inn Italy Hotel / Centro Esportivo Lajeadense
Caixas do Sul-RS - Intercity Premium / Estádio Francisco Stédile
Caxias do Sul-RS - Samuara Hotel / Estádio Alfredo Jaconi
Porto Alegre-RS - Plaza São Rafael Hotel / Complexo Esportivo da Ulbra (Canoas)
Viamão-RS - Vila Ventura Hotéis / Centro de Treinamento Vila Ventura

As escolhas foram justas e acertadas, pois devemos reconhecer que os investimentos em turismo se deram, até o momento, com maior intensidade na Serra, inclusive no meio rural. As regiões do Estado possuem suas especificidades, potencialidades e são igualmente ricas em contextos históricos e paisagísticos, as pessoas são hospitaleiras e desfrutam de uma mesma identidade no cultivo das tradições. Mas então, o que estaria faltando para que o Sul do Rio Grande deixar de ser apenas um corredor de passagem? Para esta pergunta teríamos muitas respostas diferentes, mas acredito que uma seria comum: A mobilização de todos.
Porém é bom continuar atento, pois os 32 países que se classificarem para o torneio não serão obrigados escolher os campos da lista oficial para a preparação no Brasil. Caso um Centro de Treinamento fora da relação seja escolhido, a Federação terá que conversar com a FIFA para a inclusão do local na lista de credenciados. Uma segunda versão será divulgada no segundo semestre de 2013, e novos CTs poderão se inscrever para receberem vistorias do COL. A relação completa, que sairá no segundo semestre de 2014, deverá ter entre 80 e 90 centros (o mínimo é 64).

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os Gaúchos do Sul e a Semana Farroupilha

Museu Histórico Farroupilha, Piratini/RS

Os gaúchos durante a Semana Farroupilha comemoram um dos mais significativos movimentos de revoltas civis do Brasil, lutas que envolveram vários segmentos sociais. Basicamente, relembram a Guerra dos Farrapos contra o Império, de 1835 a 1845. A data de 20 de setembro foi escolhida como marco inicial da revolução, dia em que homens armados, comandados por Gomes Jardim e Onofre Pires entraram em Porto Alegre.
Na nova capital instalada em Piratini foi então proclamada, a República Rio-Grandense. O movimento revolucionário teve como bandeira os ideais liberais, federalistas e republicanos. É nesta época do ano, mês de setembro, que os sentimentos afloram e nos vários municípios do Estado, principalmente onde aconteceram batalhas e fatos marcantes da revolução, homens e mulheres demonstram orgulho de um povo aguerrido.
Além da primeira Capital Farroupilha, importantes batalhas se deram nos municípios da Zona Sul: Segundo registros históricos do próprio Museu Histórico Farroupilha, em Piratini, a Batalha de Arroio Grande ocorreu a 26 de novembro de 1844, em local próximo ao Arroio Chasqueiro, no então distrito de Arroio Grande que fazia parte de Pinheiro Machado.
Teixeira Nunes e os Lanceiros Negros remanescentes da Batalha dos Porongos foram enviados por David Canabarro para uma ação na retaguarda inimiga. Resultou no massacre do Corpo de Lanceiros Negros de Teixeira Nunes, que estavam acampados na curva do arroio Porongos, no atual município de Pinheiro Machado quando foram atacados pelos imperiais. Em Porongos foi o último confronto da Revolução Farroupilha.
Em Candiota, cruzando o arroio Seival, deu-se outro embate nos campos dos Menezes. A Batalha do Seival teve como objetivo de derrubar o presidente da província, apenas, os revoltosos gaúchos enfrentaram as tropas imperiais. Destacado por Bento Gonçalves, o coronel Neto deslocou-se, no início de setembro de 1836, à região de Bagé, onde encontrava-se o comandante imperial João da Silva Tavares, vindo do Uruguai. A primeira brigada de Neto, com 400 homens, atravessou o arroio Seival e encontrou as tropas de Silva Tavares sobre uma coxilha, com 560 homens. A batalha foi o conflito militar que ensejou a proclamação da República Rio-Grandense por Antônio de Sousa Neto.
As grandes batalhas do passado que aconteceram na região, até hoje inspiram os gaúchos do sul do Brasil. O exemplo de coragem dos Farrapos, parece impregnado nos habitantes, pois apesar das dificuldades enfrentadas em todos os setores, nada está perdido, muito pelo contrário, da perseverança vem a recompensa e o quadro já se apresenta animador.

sábado, 15 de setembro de 2012

Tragicamente pilchado







Ilustração: 
Wilmar Marques










Entre as diversas manifestações da cultura gaúcha, o modo de vestir é evidenciado e o sentimento farroupilha aparece, os CTG’s ficam lotados e a música regional ecoa em todos os lugares. Os peões, de maneira geral, vestem a tradicional bombacha, botas, chapéu ou boina e o lenço no pescoço e, as prendas o vestido longo e rodado ou a bombacha feminina. A indumentária gaúcha é rica e variada.

Na tentativa de demonstrar o amor pelo Rio Grande, um vereador da metade sul vestiu a pilcha completa e foi a Brasília, com uma comitiva de gaúchos. A finalidade da viagem era de divulgar a “Semana Farroupilha”. Lá na capital Federal foi tudo muito bem, o problema foi no retorno do parlamentar em uma sessão na Câmara Municipal. O vereador ocupou a tribuna e disse em tom solene: - Senhoras e senhores... A nossa comitiva que foi a Brasília estava tragicamente pilchada.

Os risos vieram aos poucos, mas puxaram outros e a seriedade quase virou deboche, pois a maioria associou tragicamente a: De modo trágico, funestamente, ou a modo de catástrofe. Pessoalmente conheço o cidadão, trata-se de uma belíssima pessoa, integra e muito bem intencionada, valores que não depreciaram sua fala e muito menos suas boas intenções.  

O Centro de Tradições Gaúchas disciplina o uso da pilcha no estado do Rio Grande do Sul é, por lei, traje de honra e de uso preferencial inclusive em atos oficiais públicos. A pilcha é a indumentária gaúcha tradicional, utilizada por homens e mulheres de todas as idades. É a expressão da tradição, da cultura e da identidade própria do gaúcho, a origem da indumentária gaúcha data dos primórdios da colonização dos pampas.

O modo de vestir dos gaúchos é levado muito a sério, recentemente, durante a 76ª Convenção Tradicionalista Gaúcha, realizada no município de Taquara, foram estabelecidas diretrizes para a pilcha. Na convenção, um dos objetivos foi deixar claro, para os simpatizantes e adeptos do movimento, como participar e estar bem vestido, sem que a adaptação, a cor, a tatuagem, piercing, enfim a moda jovem atual, entre em conflito com as regras rígidas do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Vale à pena conferir o regulamento do MTG, para não sair na Semana Farroupilha, tragicamente pilchado.



Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

sábado, 8 de setembro de 2012

Santa Isabel: A superação pelo cooperativismo







Foto: 
Letícia 
Schinestsck








     

Antiga Vila independente de Santa Isabel dos Canudos, hoje Distrito de Santa Isabel, em Arroio Grande teve, em 1790, ano de sua fundação, um passado promissor. A localidade, que recebeu a visita do imperador D. Pedro II, tinha no charque sua principal economia, graças à localização privilegiada nas margens do canal São Gonçalo e pela proximidade da Lagoa Mirim.

A população de Santa Isabel tem cerca de 900 habitantes, com 120 pescadores cadastrados. Durante sua história passou por momentos difíceis de enfrentamento as enchentes, desativação da balsa que liga  Arroio Grande ao município de Rio Grande e até mesmo pela escasses do pescado. Muitos moradores da localidade atribuem a falta de crescimento da localidade, a maldição do padre que morreu apedrejado há mais de 100 anos.

A tragédia que havia caído no esquecimento dos moradores, voltou a tona durante a reforma da igreja. Na ocasião foi encontrado em um caixão, restos mortais e alguns objetos, entre eles uma batina e um crucifixo.  O motivo místico que assombrou a população no passado e levou muitas pessoas, principalmente jovens, a abandonarem o lugar ressurgiu e intrigou a todos.

Mas a gente de Santa Isabel não se entregou ao destino e apostou na força do cooperativismo, justamente ao apostar na principal vocação de seus moradores, a pesca. A motivação da comunidade para virar o jogo foi o ponto de partida para buscar o apoio de varias instituições do âmbito municipal, estadual e federal. Governos e pessoas uniram-se aos pescadores e fundaram a Coopesi – Cooperativa de Pescadores de Santa Isabel.

Os recursos do projeto cooperativo possibilitaram ainda outras melhorias na comunidade, entre elas a água potável, a fábrica de gelo, reformas em prédios e praças e movimento no comércio. Enquanto os pescadores estão na lagoa, em busca dos peixes de água doce, as mulheres trabalham na cooperativa e aproveitam a traíra, o peixe preferido, na sua forma integral. Na Coopesi, elas preparam o filé, tirinhas, bolinhos e a grande novidade: a bochechinha de traíra, vendida para o Projeto de Alimentação Escolar no município de Arroio Grande.

Sair em busca do pescado para sustentar a família está deixando de ser uma incerteza. Quem visita Santa Isabel percebe otimismo de quem trabalha, enquanto as crianças alheias aos fantasmas do passado, freqüentam a escola e brincam nas praças aproveitando as  melhorias na comunidade.

Quanto a comercialização... Tudo vai bem, a Coopesi recebe assistência do município e do estado em gestão cooperativa, o pescado já tem mercado em outros municípios. Neste ano, a exemplo do ano passado quando comercializou tudo, os pescadores cooperativados participam da 35ª Expointer, a maior feira agropecuária da América Latina.

Marco Medronha