segunda-feira, 27 de julho de 2015

Devemos lembrar-nos de agradecer ao agricultor


Os agradecimentos deveriam começar logo pela manhã ao sentir o cheirinho de café passado na hora e aquele pão quentinho com a manteiga derretendo sobre ele. Hummm... Que delícia! Com os sentidos aguçados saboreamos a primeira refeição do dia e saímos apressadamente para o trabalho sem ao menos lembrar que por traz daquela primeira e necessária alimentação, está o trabalho de um agricultor. 

O dia continua e gastamos energias no escritório, nas fábricas, no comércio, na construção civil, nas plataformas de petróleo, nas academias, nas escolas, no esporte, na balada, no trânsito, no legislativo, no executivo, no congresso, na carga e descarga de alimentos... E nem mesmo neste momento, na hora do almoço lembramos-nos de agradecer a quem de direito, pelo feijão, arroz, ovo, carne, hortaliças e frutas, óleos e temperos que degustamos e nos regozijamos diariamente.

A noite ainda não chegou e já estamos pensando na janta, a última refeição do dia. Pode ser algo leve como uma sopa de legumes, um churrasco entre amigos depois jogo de futebol ou apenas uma pizzaria pra comemorar os resultados do trabalho, ou ainda, um Chopp com colegas para desopilar e jogar conversa fora. Lugares onde se fala de tudo, mas não lembramos jamais que por traz muitos momentos nossos de prazer e felicidade está o trabalho de um agricultor.

Não preciso dizer que o agricultor é uma figura estereotipada como alguém sem cultura, que trabalha na roça e muitas vezes é motivo de chacota na cidade. Mas chamamos de agricultor, aquele que prática a agricultura e pecuária e que produz alimentos para nutrir as populações. Desta forma, o valor do trabalho do agricultor deve ser, no mínimo ensinado às nossas crianças, para que elas não cresçam pensando que leite e ovos saem das caixinhas e, que o arroz e feijão veem das prateleiras dos supermercados.

Mesmo que o dia 28 de julho, dia do nosso agricultor tenha passado é fundamental que tenhamos consciência da importância dessa figura humana em nossas vidas e, que saibamos valorizar e agradecer quem está nesta profissão. Afinal, pelo menos uma vez no ano precisamos de um médico, um advogado, um arquiteto, do dentista, do taxista ou do enfermeiro, por exemplos. Mas, três vezes por dia precisamos de um colono agricultor.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com

sábado, 25 de julho de 2015

Da porteira para dentro


Muito tem se falado sobre os problemas dos pequenos agricultores ou da agricultura familiar, onde as instituições indicam soluções ligadas ao desenvolvimento pela ótica do mercado, as quais geralmente são baseadas em projetos e programas que não refletem a realidade, pois são criados por estudiosos de gabinete e estão ligados aos fatores externos, os quais nem sempre dialogam com as barreiras existentes da porteira para dentro.

O certo é que há décadas, os mais de 13,5 milhões de pequenos agricultores na América Latina vivem uma realidade parecida e enfrentam muitos problemas e dificuldades, na maioria internos, e cuja a solução está ao alcance das famílias rurais. Pela lógica, toda a mudança deveria acontecer de dentro para fora e por isso se faz necessário resolver questões culturais, históricas e educacionais como forma de alcançar a organização do seio familiar, na comunidade e depois para fora da propriedade.

Historicamente os problemas internos crônicos tem sido ignorados e por vezes minimizados por aqueles que tem por obrigação, olhar pelas pessoas do campo. Digo isso porque a culpa não está somente com os pequenos agricultores, quem interage com as famílias deveria ao menos ouvir e tentar ajudá-los. É também uma obrigação do Estado oferecer possibilidades que possam elevar a auto-estima, a confiança e o reconhecimento pelo agricultor na sua missão de produzir alimentos. 

Cursos de formação que visem identificar as causas internas que prejudicam o desenvolvimento humano, parece ser um bom caminho. A necessidade de promover capacitações que tratem de temas enraizados nas comunidades rurais precisam de abordagem, como por exemplo, as questões de gênero. O autoconhecimento e a conscientização sobre o meio e as coisas que cercam os fatores de produção merece tratamento por gente especializada.

Antes mesmo de ensinar técnicas de plantio, colheita e comercialização temos que cuidar das pessoas. Fazer chegar os recursos financeiros primeiro é colocar a “carreta na frente dos bois”, como diz o ditado. Existe muito espaço para trabalhar a organização familiar, o planejamento das atividades, o sentido cooperativo, associação para o trabalho, lazer e convívio social.


Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

O ganha tempo com o diálogo


O diálogo pode ser considerado um caminho seguro para o entendimento entre as pessoas e a descoberta de novas realidades. Caracterizado pela conversa entre dois ou mais indivíduos, onde o consenso prevalece, a conversação estabelecida é processo propulsor de troca de ideias e alternativas para resolução dos problemas. A criação do diálogo veio do teatro em substituição ao monólogo, a compreensão dos fatos históricos pelo colóquio, no sentido de informar as pessoas sobre o presente é também uma estratégia de comunicação poderosa.

Um programa chamado “Dialogando com a Comunidade”, realizado no município de São José do Norte, utiliza a lógica do diálogo para promover o desenvolvimento técnico e social das comunidades rurais. Através do calendário de visitas, um grupo formado por extensionistas da Emater/RS-Ascar e secretarias municipais da Prefeitura passam o dia conversando com as famílias rurais, onde o propósito é ouvir primeiro todas as demandas, conhecer os problemas e as potencialidades, com o objetivo de elaborar um plano de ação com foco nas ações prioritárias.

Em outra etapa do programa, o grupo realiza novas reuniões com a comunidade onde o momento é de apresentar, discutir propostas para planejar avanços nas áreas de produção da agropecuária, melhorias sociais e culturais. Recentemente acompanhei um dia desses na Comunidade de Capela e pude comprovar o resultado das ações quando a origem vem do diálogo. Parece elementar que para avançar nos processos democráticos, verdadeiramente comunitários é preciso conhecer realidades, mas infelizmente isso na prática não acontece, pois as chamadas “políticas públicas” veem quase sempre de cima para baixo sem dar ouvidos para aqueles que mais precisam se expressar.

No que se refere à comunhão fática, esta forma de discurso entendida como diálogo, preenche uma função social e esse deve ser o principal objetivo. Recordando os conceitos de Benveniste (2006), “A conversa, por exemplo, é um gênero bastante desprestigiado nas teorias discursivas, isso porque conota temas aleatórios, desnecessários e que, por isso, não produzem resultados concretos”. 

Concluo afirmando que, este tipo de proposta de trabalho não é nenhuma perda de tempo, ao contrário só existem ganhos e maiores chances das políticas darem certo, além de produzir resultados satisfatórios para realmente “todos”.

Marco Medronha    mmedronha@hotmail.com

sábado, 4 de julho de 2015

Senha do coração


Um dia desses precisei digitar uma senha e não lembrei da combinação, após três tentativas frustradas bloquei a conta. Isso possivelmente já tenha acontecido com você, o inconveniente de ter esquecido os dígitos da senha. Nada anormal, pois com tantas combinações que utilizamos diariamente... Eu mesmo contei pelo menos 20 senhas que utilizo com frequência: Senhas de bancos, do computador, do facebook, do msn, do skipe, do blog, do cartão de crédito, do alimentação, do combustível, do cadeado e lá se vai. Muitas dessas dobradas, com letras e números.

No conceito tradicional, senha é uma palavra ou código secreto previamente convencionado entre as partes como forma de reconhecimento. Em sistemas de computação senhas são amplamente utilizadas para autenticar usuários e conceder-lhes privilégios — para agir como administradores de um sistema, por exemplo — ou permitir-lhes o acesso a informações personalizadas armazenadas no sistema. No meu entendimento a senha é um conjunto de caracteres combinados (letras e números) utilizados para acessar bens, serviços, buscar informações e até para comunicar-se, acreditem. As pessoas hoje, mesmo no mesmo ambiente, conversam pelas redes sociais.

Como era a vida antes das tecnologias da informação? Na contemporaneidade vivemos cercados de números e letras e, necessariamente as ações implicam no uso de senhas para chegar a um objetivo. Com certeza vivemos tempos de relações frias, mediadas por códigos de defesa para proteger o cidadão em seus atos rotineiros. A senha é pessoal, intransferível e foi criada para dar segurança ao usuário. Por isso, existe o conceito de senha forte ou fraca, quanto mais complexa, mais impessoal, menos possibilidade de ser violada.

Penso que a senha mais forte é também a mais simples e está dentro de nós. A senha do coração, não pelo fato de ser um órgão vital, mas sim pelo sentimento que carregamos nele. O segredo para uma vida segura, não está na complexidade e na dificuldade para os outros e sim na simplicidade de ações e atitudes, exemplos deixado por Jesus, há mais de 2000 anos. Através da senha do coração, ele mostrou que caminho para acessar a felicidade é compartilhar a sua senha com outros. Entre todas as senhas, a do coração nos ajuda a ser inviolável e conviver com todas as outras.


Marco Medronha   mmedronha@hotmail.com